Mais e Melhor
"A Razão dos Avós"
O livro “A razão dos avós”, publicado pela Editorial Caminho em 2008, começa por salientar a importância dos avós na sociedade actual. São eles que asseguram a continuidade da família, em muitas casas onde o divórcio se arrisca a separar os seus membros ou em situações onde os pais se afastaram por outras razões. Fazem-no agora por muito mais tempo, já que a melhoria dos cuidados de saúde torna a sua vida muito mais longa: basta dizer que no início do século XX apenas 1 em cada 10 pessoas ultrapassava os 60 anos, enquanto em 2000 apenas 1 em cada 10 morreu antes dos 60. O percurso de um avô pode assim durar cerca de 30 anos, em boas condições de saúde física e mental.
Os avós são ajuda essencial para os pais de hoje. Auxiliam sob o ponto de vista financeiro (por exemplo, na compra de casa, de carro ou nas despesas do quotidiano, consoante a situação da família), ajudam na guarda dos netos enquanto eles são pequenos e são essenciais no divórcio, porque perante a ameaça da desagregação da família, os avós permanecem sempre presentes.
Os avós são os verdadeiros historiadores da família. Comunicam valores, tarefa essencial nos dias de hoje, em que por vezes essa transmissão pode não ser clara: quem melhor do que eles para falar de respeito, de verdade, de aceitação da diferença? São os garantes do afecto e da protecção, mas podem questionar o estilo permissivo, tão frequente em muitos pais de agora. Sabem que é preciso estabelecer limites, mas não esquecem também que o autoritarismo absoluto está condenado nos nossos dias. Pela resposta às crises que ultrapassaram com os filhos (agora pais), sabem que a autoridade se baseia na relação e que é na intimidade com os filhos e netos que ela se deve fundamentar.
Na situação de divórcio, oferecem aos netos o seu amor incondicional no momento da crise, na altura da separação e, muitas vezes, no lar agora monoparental. É bom que não tomem partido e que recordem que são as situações de discórdia e conflito entre os pais que tornam a separação mais difícil, mais ainda do que a perda sentida pelos netos. Precisam também ter presente que não deverão aproximar-se em excesso do progenitor que ficou sozinho (em regra a mãe), pois isso não contribuirá para a desejada autonomia.
Ser avô é podermos de novo ficar apaixonados, mas nem sempre é fácil. O livro “A razão dos avós” alerta para algumas dificuldades. Por exemplo, quando a segunda geração (a dos pais actuais) não se autonomizou e permanece indiferenciada, em conflito ou emocionalmente dependente dos seus pais (agora avós). Ou quando os avós têm problemas com os novos membros da família (genros e noras), o que pode surgir com o nascimento dos primeiros netos. Ou ainda quando os netos crescem e os avós, agora na quarta idade, vivem o seu declínio físico e mental e sentem os jovens pouco presentes: interessa então que todos reflictam e procurem respostas na intimidade intrafamiliar e no diálogo com outros avós.
Sobre este livro realizou-se um debate no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, em 20 de Abril de 2009, com a participação de Maria Barroso, Isabel Alçada, Marcelo Rebelo de Sousa e do autor. Moderado pelo jornalista Luís Osório e com o apoio do Rádio Clube Português, a discussão centrou-se no papel dos avós na sociedade actual e na sua importância como transmissores de afecto num mundo em mudança.
Daniel Sampaio,
Professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Lisboa
d.sampaio@netcabo.pt
Os avós são ajuda essencial para os pais de hoje. Auxiliam sob o ponto de vista financeiro (por exemplo, na compra de casa, de carro ou nas despesas do quotidiano, consoante a situação da família), ajudam na guarda dos netos enquanto eles são pequenos e são essenciais no divórcio, porque perante a ameaça da desagregação da família, os avós permanecem sempre presentes.
Os avós são os verdadeiros historiadores da família. Comunicam valores, tarefa essencial nos dias de hoje, em que por vezes essa transmissão pode não ser clara: quem melhor do que eles para falar de respeito, de verdade, de aceitação da diferença? São os garantes do afecto e da protecção, mas podem questionar o estilo permissivo, tão frequente em muitos pais de agora. Sabem que é preciso estabelecer limites, mas não esquecem também que o autoritarismo absoluto está condenado nos nossos dias. Pela resposta às crises que ultrapassaram com os filhos (agora pais), sabem que a autoridade se baseia na relação e que é na intimidade com os filhos e netos que ela se deve fundamentar.
Na situação de divórcio, oferecem aos netos o seu amor incondicional no momento da crise, na altura da separação e, muitas vezes, no lar agora monoparental. É bom que não tomem partido e que recordem que são as situações de discórdia e conflito entre os pais que tornam a separação mais difícil, mais ainda do que a perda sentida pelos netos. Precisam também ter presente que não deverão aproximar-se em excesso do progenitor que ficou sozinho (em regra a mãe), pois isso não contribuirá para a desejada autonomia.
Ser avô é podermos de novo ficar apaixonados, mas nem sempre é fácil. O livro “A razão dos avós” alerta para algumas dificuldades. Por exemplo, quando a segunda geração (a dos pais actuais) não se autonomizou e permanece indiferenciada, em conflito ou emocionalmente dependente dos seus pais (agora avós). Ou quando os avós têm problemas com os novos membros da família (genros e noras), o que pode surgir com o nascimento dos primeiros netos. Ou ainda quando os netos crescem e os avós, agora na quarta idade, vivem o seu declínio físico e mental e sentem os jovens pouco presentes: interessa então que todos reflictam e procurem respostas na intimidade intrafamiliar e no diálogo com outros avós.
Sobre este livro realizou-se um debate no Jardim de Inverno do Teatro S. Luiz, em 20 de Abril de 2009, com a participação de Maria Barroso, Isabel Alçada, Marcelo Rebelo de Sousa e do autor. Moderado pelo jornalista Luís Osório e com o apoio do Rádio Clube Português, a discussão centrou-se no papel dos avós na sociedade actual e na sua importância como transmissores de afecto num mundo em mudança.
Daniel Sampaio,
Professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Lisboa
d.sampaio@netcabo.pt