Reportagem / Perfil
O Dia da Criança
Os Dias da Criança são dias de devoção.
Temos que devotar as nossas vidas à construção de uma cultura da Criança para a Criança.
Só pode ser este o nosso grande investimento enquanto cidadãos e profissionais cuidadores ou zeladores dos inalienáveis superiores interesses da Criança.
Não pode haver mais lugar para equívocos, para ambiguidades, para ritos de passagem.
Poderá haver quem diga que é um atrevimento falar em nome da Criança.
Direi que é um desafio. Um desafio enorme e total que nos obriga a mergulhar na identidade de cada Pessoa-Criança, na descoberta individual de cada uma, no mistério de cada vínculo construído e de cada relação partilhada.
O risco, porém, espreita hoje o destino das nossas Crianças.
O que acontece, de facto, na nossa sociedade é que o limiar da adaptabilidade infantil face ao desrespeito, à disfunção familiar e face à violência, esse limiar, dizia, está a ser ultrapassado.
Apelidámos de Nova Pediatria o nosso investimento no Desenvolvimento, no Comportamento infantil e na Intervenção familiar quando dos primeiros «Touchpoints» da vida.
A Declaração dos Direitos da Criança, Direitos que a Convenção consagra, é a cartilha moral que a todos obriga.
Na correspondência pediátrica, a evolução do saber não pode ter limites, tal como não pode ter reticências o apoio que temos de garantir aos Serviços de Educação, na prevenção primária e nos cuidados globais a garantir quando o risco torna a Criança doente e, designadamente, a faz precisar de ficar internada.
No Departamento da Criança e da Família procuramos corresponder às necessidades exigentes da Criança.
Temos hoje um Centro de Imunodeficiências Primárias com protocolo de colaborações (HSM/IMM/FMUL) (1) em que uma das nossas crianças doentes com défice de FOXN1 fez o primeiro transplante mundial do timo, curativo da sua situação de base. Temos um centro de referência da Fibrose Quística integrado numa Rede Europeia de Ensaios Clínicos (ECFS – CTN) articulado com o Serviço de Pneumologia de adultos e com o Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge. Temos uma Unidade de Nefrologia, primeiro centro de transplante renal pediátrico do sul do país que, até ao presente, fez sessenta e seis transplantes renais (14 no ano de 2008) sendo um de dador vivo.
Temos um centro de referência de Neurotrauma Infantil e estamos agora disponíveis para iniciar uma consulta de seguimento nesta valência tão prevalente em termos de procura de cuidados na nossa Urgência Pediátrica e temos um centro de Hemoglobinopatias correspondente a um Programa onde se projecta investigação articulada com o Centro de Genética Médica do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge.
Temos uma Unidade de Doenças Metabólicas, parte do Centro de Patogenese Molecular – centro de referência para os doentes identificados no rastreio neonatal com doenças metabólicas.
Temos uma consulta de referência de Baixa Estatura e, porventura, também, o primeiro pólo nacional de referência assistencial para a Obesidade Infantil.
Temos uma Unidade de Gastrenterologia Pediátrica com o desenvolvimento actual de várias tecnologias para o estudo funcional do aparelho digestivo.
Temos um centro de Estudos da Função Respiratória – sono e ventilação, constituindo actualmente um Laboratório de Função Respiratória exclusivamente pediátrico.
Temos uma unidade Móvel de Apoio Domiciliário (UMAD) que dá apoio a doentes crónicos do foro pneumológico, nefrológico e gastroenterológico, acoplado a um apoio neonatal.
Temos uma Unidade de Desenvolvimento que garante apoios específicos distribuídos por doze consultas protocoladas e temos uma Unidade de Saúde Mental e Juvenil (futuro Serviço proposto) que dá apoio psicológico continuado a todas as crianças referenciadas nos vários sectores do internamento.
Temos uma Unidade de Pediatria Geral que garante uma consulta de apoio aos Centros de Saúde, Hospitais Distritais e Pediatras Privados, temos uma Unidade de Técnicas diferenciadas onde se fazem endoscopias digestivas e outras avaliações diagnósticas, endoscopias brônquicas e provas de capacidade respiratória, entre outras. Temos um Hospital de Dia dinâmico e sectorizado só nos faltando agendar o espaço de que carece para que não invada o Internamento.
Garantimos cerca de cinquenta consultas externas diferenciadas que, enquanto referências únicas no país, promovem a formação contínua de especialistas e internos de todos os Hospitais nacionais.
Uma destas consultas é a Consulta de Adolescentes, referência educacional para profissionais em formação nesta área.
Temos uma Urgência que não pára de crescer apoiada por uma Unidade de Cuidados Intensivos que dá apoio a toda a grande Lisboa e Sul do País recepcionando doentes de todas as outras Unidades de Saúde, designadamente Hospitais Centrais e oferecendo cuidados de ponta com intervenções multidisciplinares.
Temos uma Unidade de Pneumologia Pediátrica que passou a barreira do clássico internamento para passar a uma Unidade que, embora mantendo os doentes agudos, se diferenciou em cuidados de transição e domiciliários. Assim, é um dos três grandes Centros Nacionais de apoio domiciliário a crianças com doença crónica com dependência de tecnologia.
Na coerência do exposto os nossos indicadores de produção e de qualidade justificam um lugar especial entre os Serviços de Pediatria.
Direi ainda que é algo mais o que transcende a rentabilidade estatística.
Nos últimos cinco anos temos cerca de uma dúzia de projectos de investigação de ponta, substrato de, pelo menos, cinco Doutoramentos.
Alguns dos nossos internos conquistam bolsas de estudo e entram em programas de Doutoramento onde lhes é garantida ciência partilhada, ensino multisistémico, formação diferenciada e, sobretudo, um ambiente fraterno.
Na Educação Médica Pediátrica, por que somos responsáveis, proporcionamos ensino-aprendizagem centrado na criança desde o 1º. ano ao 6º. ano do Curso de Medicina.
No 1º ano ensinamos «Ser Criança» a par de «Ser Médico» e de «Ser Doente».
No 2º ano ensinamos a Introdução à Medicina da Criança e da Família.
No 3º ano ensinamos «Criança e Educação», «Touchpoints» e evolução neuro-comportamental; no 4º ano ensinamos Semiologia inspirada por um modelo relacional.
Temos um Centro Brazelton onde já formámos cerca de 400 profissionais de várias formações em «Touchpoints» e em Avaliação do Recém-Nascido «NBAS» e «NBO» o que poderá garantir que quando chegarmos aos 1000 formados, teremos uma efectiva viragem de modelo inspirador na nossa assistência hospitalar.
Tudo o que está referido é obra de todos os profissionais de mais de dez formações distintas que trabalham no Departamento da Criança e da Família.
Todos o fazem com devoção, vestindo a camisola institucional na coerência do que, sobretudo, é nossa demanda – uma inequívoca exigência moral, a inspirar cada intervenção seja ela assistencial ou educacional.
João Gomes-Pedro
Departamento da Criança e da Família
217805202
gomes.pedro@hsm.min-saude.pt
_______________________
(1) HSM - Hospital de Santa Maria; IMM - Instituto de Medicina Molecular; FMUL - Faculdade de Medicina de Lisboa
Temos que devotar as nossas vidas à construção de uma cultura da Criança para a Criança.
Só pode ser este o nosso grande investimento enquanto cidadãos e profissionais cuidadores ou zeladores dos inalienáveis superiores interesses da Criança.
Não pode haver mais lugar para equívocos, para ambiguidades, para ritos de passagem.
Poderá haver quem diga que é um atrevimento falar em nome da Criança.
Direi que é um desafio. Um desafio enorme e total que nos obriga a mergulhar na identidade de cada Pessoa-Criança, na descoberta individual de cada uma, no mistério de cada vínculo construído e de cada relação partilhada.
O risco, porém, espreita hoje o destino das nossas Crianças.
O que acontece, de facto, na nossa sociedade é que o limiar da adaptabilidade infantil face ao desrespeito, à disfunção familiar e face à violência, esse limiar, dizia, está a ser ultrapassado.
Apelidámos de Nova Pediatria o nosso investimento no Desenvolvimento, no Comportamento infantil e na Intervenção familiar quando dos primeiros «Touchpoints» da vida.
A Declaração dos Direitos da Criança, Direitos que a Convenção consagra, é a cartilha moral que a todos obriga.
Na correspondência pediátrica, a evolução do saber não pode ter limites, tal como não pode ter reticências o apoio que temos de garantir aos Serviços de Educação, na prevenção primária e nos cuidados globais a garantir quando o risco torna a Criança doente e, designadamente, a faz precisar de ficar internada.
No Departamento da Criança e da Família procuramos corresponder às necessidades exigentes da Criança.
Temos hoje um Centro de Imunodeficiências Primárias com protocolo de colaborações (HSM/IMM/FMUL) (1) em que uma das nossas crianças doentes com défice de FOXN1 fez o primeiro transplante mundial do timo, curativo da sua situação de base. Temos um centro de referência da Fibrose Quística integrado numa Rede Europeia de Ensaios Clínicos (ECFS – CTN) articulado com o Serviço de Pneumologia de adultos e com o Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge. Temos uma Unidade de Nefrologia, primeiro centro de transplante renal pediátrico do sul do país que, até ao presente, fez sessenta e seis transplantes renais (14 no ano de 2008) sendo um de dador vivo.
Temos um centro de referência de Neurotrauma Infantil e estamos agora disponíveis para iniciar uma consulta de seguimento nesta valência tão prevalente em termos de procura de cuidados na nossa Urgência Pediátrica e temos um centro de Hemoglobinopatias correspondente a um Programa onde se projecta investigação articulada com o Centro de Genética Médica do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge.
Temos uma Unidade de Doenças Metabólicas, parte do Centro de Patogenese Molecular – centro de referência para os doentes identificados no rastreio neonatal com doenças metabólicas.
Temos uma consulta de referência de Baixa Estatura e, porventura, também, o primeiro pólo nacional de referência assistencial para a Obesidade Infantil.
Temos uma Unidade de Gastrenterologia Pediátrica com o desenvolvimento actual de várias tecnologias para o estudo funcional do aparelho digestivo.
Temos um centro de Estudos da Função Respiratória – sono e ventilação, constituindo actualmente um Laboratório de Função Respiratória exclusivamente pediátrico.
Temos uma unidade Móvel de Apoio Domiciliário (UMAD) que dá apoio a doentes crónicos do foro pneumológico, nefrológico e gastroenterológico, acoplado a um apoio neonatal.
Temos uma Unidade de Desenvolvimento que garante apoios específicos distribuídos por doze consultas protocoladas e temos uma Unidade de Saúde Mental e Juvenil (futuro Serviço proposto) que dá apoio psicológico continuado a todas as crianças referenciadas nos vários sectores do internamento.
Temos uma Unidade de Pediatria Geral que garante uma consulta de apoio aos Centros de Saúde, Hospitais Distritais e Pediatras Privados, temos uma Unidade de Técnicas diferenciadas onde se fazem endoscopias digestivas e outras avaliações diagnósticas, endoscopias brônquicas e provas de capacidade respiratória, entre outras. Temos um Hospital de Dia dinâmico e sectorizado só nos faltando agendar o espaço de que carece para que não invada o Internamento.
Garantimos cerca de cinquenta consultas externas diferenciadas que, enquanto referências únicas no país, promovem a formação contínua de especialistas e internos de todos os Hospitais nacionais.
Uma destas consultas é a Consulta de Adolescentes, referência educacional para profissionais em formação nesta área.
Temos uma Urgência que não pára de crescer apoiada por uma Unidade de Cuidados Intensivos que dá apoio a toda a grande Lisboa e Sul do País recepcionando doentes de todas as outras Unidades de Saúde, designadamente Hospitais Centrais e oferecendo cuidados de ponta com intervenções multidisciplinares.
Temos uma Unidade de Pneumologia Pediátrica que passou a barreira do clássico internamento para passar a uma Unidade que, embora mantendo os doentes agudos, se diferenciou em cuidados de transição e domiciliários. Assim, é um dos três grandes Centros Nacionais de apoio domiciliário a crianças com doença crónica com dependência de tecnologia.
Na coerência do exposto os nossos indicadores de produção e de qualidade justificam um lugar especial entre os Serviços de Pediatria.
Direi ainda que é algo mais o que transcende a rentabilidade estatística.
Nos últimos cinco anos temos cerca de uma dúzia de projectos de investigação de ponta, substrato de, pelo menos, cinco Doutoramentos.
Alguns dos nossos internos conquistam bolsas de estudo e entram em programas de Doutoramento onde lhes é garantida ciência partilhada, ensino multisistémico, formação diferenciada e, sobretudo, um ambiente fraterno.
Na Educação Médica Pediátrica, por que somos responsáveis, proporcionamos ensino-aprendizagem centrado na criança desde o 1º. ano ao 6º. ano do Curso de Medicina.
No 1º ano ensinamos «Ser Criança» a par de «Ser Médico» e de «Ser Doente».
No 2º ano ensinamos a Introdução à Medicina da Criança e da Família.
No 3º ano ensinamos «Criança e Educação», «Touchpoints» e evolução neuro-comportamental; no 4º ano ensinamos Semiologia inspirada por um modelo relacional.
Temos um Centro Brazelton onde já formámos cerca de 400 profissionais de várias formações em «Touchpoints» e em Avaliação do Recém-Nascido «NBAS» e «NBO» o que poderá garantir que quando chegarmos aos 1000 formados, teremos uma efectiva viragem de modelo inspirador na nossa assistência hospitalar.
Tudo o que está referido é obra de todos os profissionais de mais de dez formações distintas que trabalham no Departamento da Criança e da Família.
Todos o fazem com devoção, vestindo a camisola institucional na coerência do que, sobretudo, é nossa demanda – uma inequívoca exigência moral, a inspirar cada intervenção seja ela assistencial ou educacional.
João Gomes-Pedro
Departamento da Criança e da Família
217805202
gomes.pedro@hsm.min-saude.pt
_______________________
(1) HSM - Hospital de Santa Maria; IMM - Instituto de Medicina Molecular; FMUL - Faculdade de Medicina de Lisboa