Investigação e Formação Avançada
Dia da Investigação – Perspetiva de um Dia muito especial
Decorreu, no passado dia 11 de dezembro, a segunda edição do Dia da Investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL). Promovido pelo Gabinete de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica e Inovação (GAPIC), em colaboração estreita com a Associação de Estudantes da FMUL (AEFML), este dia é a um tempo ícone, prova e celebração de vivências de ciência pelos nossos estudantes de medicina. Corresponde também ao cumprimento da missão explícita do GAPIC, a incorporação deste tipo de vivências na trajetória académica dos estudantes de medicina.
A sessão de abertura contou com a presença dos Professores da FMUL J. Fernandes e Fernandes, Diretor da Faculdade, Rui Victorino, Presidente do Conselho Científico , Maria do Céu Machado, Diretora Clínica do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), João Ferreira, Coordenador do GAPIC e da aluna Maria Guilhermina Pereira, Presidente da AEFML. Nas alocuções proferidas nesta sessão, foi elogiado o desempenho do GAPIC e da AEFML na promoção da investigação científica entre os alunos da nossa Faculdade, e relevado o papel estruturante desta última na preparação académica dos futuros médicos.
Este ano, para além da apresentação de resultados dos projetos regulares do Programa “Educação pela Ciência”, foram também apresentados os resultados das Bolsas Gulbenkian/FMUL de investigação científica e de mobilidade, no âmbito de um projeto educacional patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em representação da Fundação Calouste Gulbenkian, como seus dignitários, Margarida Abecasis, Diretora do Serviço de Bolsas e Jorge Lucas, do Programa “Qualificação de Novas Gerações”, acompanharam entusiasticamente a apresentação dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes.
As apresentações dos resultados de projetos científicos marcaram certamente, um ponto alto deste dia (livro de resumos). Os estudantes envolvidos impressionaram pelo rigor formal e científico, pela preparação cuidada e pela qualidade da interpelação e argumentação. A avaliação e seriação exigentes, a cargo de júri dedicado, composto por investigadores e docentes das áreas clínicas e básicas, não foram tarefa fácil. O primeiro prémio foi atribuído ao aluno Benedict Paul Both, que apresentou o trabalho intitulado “O papel da angiogénese na regeneração da medula espinal no peixe zebra”, desenvolvido no laboratório de Leonor Saúde, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), no âmbito de uma Bolsa Gulbenkian/FMUL de investigação científica. O segundo e terceiro prémios foram atribuídos, respetivamente, a Marta Leal Bento com o trabalho “Caracterização dos níveis e acoplamento à Proteína-G dos Receptores A2A de Adenosina no Hipocampo e Estriado de ratos transgénicos que sobre-expressam A2AR no cérebro”, contemplada com uma Bolsa Gulbenkian/FMUL de investigação científica e o Diogo Maia e Silva com o trabalho “Regulam os RNAs longos não-codificantes a diferenciação de T. brucei?”, contemplado com uma Bolsa no âmbito do Programa “Educação pela Ciência”.
As Bolsas Gulbenkian/FMUL de mobilidade constituíram, este ano, modalidade inovadora em que participaram dois estudantes. Os resultados dos estágios, realizados em Paris (Hôpital de Saint Antoine; orientador Emmanuel Tiret) e em Lausanne (Institut Universitaire de Médicine Sociale et Préventive - Univ. de Lausanne; orientador Pedro Marques-Vidal), foram relatados pelos alunos vencedores destas bolsas, respetivamente, António Sampaio Soares e Filipa Andreia Guerra. Estas apresentações, uma vez mais de grande qualidade, servirão certamente de exemplo e emulação para estudantes que, no futuro, desejem experimentar outros modos de estar e trabalhar com qualidade na Europa. É experiência a repetir.
Os estágios no âmbito das Bolsas Gulbenkian/FMUL e do Programa “Educação pela Ciência”, foram acompanhados de reportagem fotográfica. Daí resultou uma exposição muito interessante e comentada positivamente pelo público, onde era fácil captar o espírito de entusiasmo e empenho dos nossos estudantes nas suas novas atividades.
A atividade científica pode praticar-se, os conteúdos científicos podem aprender-se, as questões científicas podem aperfeiçoar-se, o método científico pode ir-se interiorizando até uma fase de elaboração mais crítica e racional, mas o talento e a vocação, esses não se ensinam nem se aprendem – despertam-se. Neste contexto, a sessão “Oportunidades de Investigação para Alunos”, a cargo da AEFML, contou com a participação dos docentes da FMUL Maria do Carmo Fonseca, Diretora-executiva do IMM, e Inês Luis, especialista do Serviço de Oncologia do HSM-CHLN , a preparar o doutoramento em medicina na Harvard Medical School, que de forma exemplar, expuseram como foram atraídas, cada qual a seu modo, pelo fascínio da procura e da descoberta em ciência. Houve aqui, também, um componente de desmistificação do que é a atividade científica e de como pode ser articulada com a atividade clínica, aspetos importantes na fase da vida em que se encontram os nossos estudantes.
Esta sessão foi enquadrada por testemunhos pessoais e conteúdos informativos a cargo de Maria Guilhermina Pereira e Filipe Figueiredo, ambos da AEFML, por membros da comissão organizadora do “AIMS Meeting”, pela aluna Inês Figueiredo, e por Sónia Barroso, assessora do GAPIC.
Para os que ainda não se decidiram pela prática de investigação durante a pré-graduação, e para os que não sendo neófitos quiseram conhecer melhor as infraestruturas disponíveis no Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), foram organizadas pela AEFML, visitas guiadas a clínicas e unidades de investigação laboratorial, durante o período da manhã. De organização impecável, foi atividade concorrida e bem cotada pelos participantes.
A qualidade da pergunta, i.e. da questão científica, é o aspeto mais importante de um bom projeto e de uma descoberta de relêvo em ciência. Colocar boas questões em ciência é algo que se aprende, que se aprimora continuamente, mas que é sempre uma tarefa para uma vida inteira. Convém começar cedo. A sessão “Como me Interrogo” pretende servir para a educação dos estudantes, nos vários aspetos envolvidos na formulação de uma boa pergunta científica. Este ano assumiu formato diverso do da bem sucedida sessão do ano anterior. Nesta 2ª edição do Dia da Investigação, os estudantes foram convidados a serem, eles próprios, individualmente ou em grupos de dois, os proponentes de questões, tendo a iniciativa, com formato de concurso, sido denominada de “Critical Mind Game”; as áreas disciplinares alvo foram a biologia celular e molecular/oncobiologia e as neurociências. Neste concurso foram premiados na área de biologia celular e molecular/oncobiologia os alunos Catarina Alves do Vale, Diogo Maia e Silva e António Silva e na área de neurociências, David Naod Berhanu e Zakhar Shchomak. Os concorrentes foram ainda em baixo número, possivelmente devido às dificuldades de conceção inerentes a este exigente tipo de concurso, quer da parte dos organizadores quer da parte dos concorrentes. Contudo, dada a relevância do assunto, voltaremos a insistir nesta iniciativa na próxima edição do Dia da Investigação, com planeamento e logística mais ajustados.
O Dia da Investigação e as atividades do GAPIC, em íntima articulação com a AEFML, enquadram-se numa vivência em pleno do espírito do CAML. As interações, humanas e funcionais, desenvolvidas no âmbito desta infraestrutura organizativa vão-se tornando cada vez mais amplas e complexas, como é natural. Com o objetivo de iniciar a análise profissional destas interações, capacidade necessária à avaliação do impacto de medidas e diretivas administrativas, que venham a ser implementadas no futuro, foram apresentados os resultados de um estudo-piloto, “Análise Estrutural de Redes na Investigação Científica do CAML”, conduzido pelos sociólogos Nuno Rodrigues Coordenação dos Pólos Administrativos (CPA) e Sónia Barroso do GAPIC, com orientação científica da Inês Pereira, Professora do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (CIES/ISCTE). Este tipo de análise pioneira entre nós, suscitou curiosidade e interesse pelo alcance que poderá vir a ter no futuro.
“Last, but not least”, a “Palestra” e o orador convidado. Ainda no espírito de um verdadeiro Centro Académico, e porque a curiosidade sem barreiras e a paixão são essência verdadeira na investigação científica e na prática médica, pretendemos que os nossos estudantes tenham uma educação rica e eclética, por exposição aos mais variados aspetos da cultura humana. O convidado deste ano foi Rui Vieira Nery, Diretor do “Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas”, Professor nas Universidades de Évora e Nova de Lisboa, entre múltiplas outras atividades e cargos, públicos e privados, sempre desempenhados no âmbito da criação, promoção e divulgação culturais. Figura de grande prestígio, conhecido do grande público pelo seu papel na divulgação da música, Rui Vieira Nery falou-nos de uma das suas paixões – o Fado. Proferida em estilo acessível, a “Palestra”, intitulada “Amor, ciúme, cinzas e lume, dor e pecado: O Fado nos labirintos da identidade portuguesa”, foi uma lição vibrante e indelével de semiótica daquele género musical tão nosso. O nosso muito obrigado a Rui Nery!
Durante todo o evento, esteve sempre patente o espírito do nosso mecenas deste ano, Calouste Sarkis Gulbenkian. De forma rigorosa e discreta, como estamos certos apreciaria, foram evocados aspetos relevantes da sua vida e da Fundação que deixou em legado, em formato de slide show e de pequenos textos, elucidativos do seu génio, talento, generosidade e obra.
No geral, os participantes avaliaram muito positivamente o Dia da Investigação, no respeitante ao programa em geral e às várias sessões, bem como à própria organização do evento (avaliação). O sucesso deste dia, deveu-se muito às Entidades que apoiaram esta iniciativa, com particular destaque para a Fundação Gulbenkian e seus Serviços, ao desempenho de uma muito dedicada equipa multidisciplinar da FMUL, e a todos os participantes, com relêvo para os que integraram júris de avaliação e paineis de sessões, e aos que intervieram nas múltiplas atividades estruturantes, de execução e organização, necessárias ao bom sucesso deste Dia.
A todos esses, e aos nossos estudantes, a quem foi dedicado o Dia da Investigação, o nosso reconhecido agradecimento!
Equipa do GAPIC
Texto elaborado por João Ferreira e Sónia Barroso
gapicmail@fm.ul.pt