Nota Editorial
Viva a Universidade de Lisboa! | Prof. J. Fernandes e Fernandes
José Fernandes e Fernandes
Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
A aprovação recente dos Estatutos da nova Universidade de Lisboa pelo Governo da República, a eleição dos representantes para o Conselho Geral e para o novo Senado Universitário e a escolha do futuro Reitor, encerrarão um período notável e marcante para a Universidade Portuguesa e para a Universidade de Lisboa.
Ocorre numa época difícil da vida colectiva em Portugal e, nessa perspectiva é uma prova notável da vitalidade das Instituições, da sua cultura e energia criadora e da sua capacidade de enfrentar novos desafios.
Há algum tempo, em artigo publicado na imprensa diária, salientei o facto de esta mudança ocorrer no momento histórico em que o sistema universitário público vive um dos períodos de maior constrangimento financeiro da sua história.
Houve várias razões. Certamente, a crise financeira global que varreu Estados e Instituições na Europa e EUA, mas haverá outra endógena, fruto de uma visão menos realista dos objectivos da Educação Superior, porventura demasiado ideológica, que associada à nossa incapacidade de avaliação crítica e correcções de rumo necessárias conduziram a financiamento inadequado e insuficiente do sistema de ensino superior. E, também, ausência de estratégia nacional para a Educação Superior, assumida e participada pelos intervenientes, públicos e privados, que constituísse inspiração e modelo para uma acção continuada e organizada, independente dos ciclos políticos.
Nos anos 80 e 90, em plena euforia económica fruto da adesão à CEE, assistiu-se à proliferação desregulada de universidades privadas, experiência que, com honrosas excepções, não foi um sucesso. A afirmação científica e cultural do País no contexto da nossa integração europeia pressupunha uma política diferente, de selecção e desenvolvimento de Universidades produtoras de conhecimento (research universities) capazes de se afirmarem no contexto internacional e de competir pelos melhores alunos, docentes e investigadores, tornando-se atractivas para a disputa dos financiamentos indispensáveis a uma investigação qualificada e de nível internacional. O que aconteceu foi o oposto, proliferação errática de iniciativas, utilização menos racional dos recursos, desfasamento entre as propostas de formação e as necessidades de desenvolvimento da colectividade nacional, uma infelicidade particularmente gravosa num País de recursos escassos e com absoluta necessidade de recuperar atraso de décadas.
Foi uma oportunidade perdida.
Havia, também, um conceito dominante nalguma inteligencia portuguesa, tido como evidência irrefutável: as universidades seriam incapazes de auto-reforma, pelo que seria desejável a emergência de novas, que florescessem sem o pecado original, habitualmente invocado como corporativismo, dissociação com a realidade social e económica, gestão antiquada e endogamia.
Outras iniciativas que ocorreram na última década foram louváveis, como a criação de Laboratórios Associados, que gozando de maior autonomia na gestão de recursos humanos, contribuíram para o incremento da actividade científica no País. Os exemplos são conhecidos e são, na esmagadora maioria uma história de sucesso, suscitando uma outra dinâmica e adoptando gestão mais racional e flexível dos recursos, humanos e materiais, que nunca puderam ser aplicadas nas estruturas com vinculação à função pública. Na Faculdade de Medicina, o desenvolvimento do Instituto de Medicina Molecular constituído a partir dos Centros de Investigação da Faculdade avaliados por Comité Internacional, com Excelente ou Muito Bom, foi uma iniciativa excelente que apoiámos ativamente, logistica e financeiramente, na expectativa concretizada de um upgrade da ciência biomédica e de uma progressiva interacção entre a investigação e a docência, e que representa um compromisso inequívoco da Faculdade com a Ciência.
Foi uma aposta ganha!
Por isso, em 2009, quando propusémos a criação do Centro Académico de Medicina de Lisboa, insistimos para que o Instituto de Medicina Molecular integrasse o consórcio estabelecido entre a Faculdade e o Hospital de Santa Maria/Centro Hospitalar Lisboa-Norte, esperando assim constituir paradigma dum novo modelo de organização da Medicina Académica assente na investigação, inovação e na qualificação do exercício profissional em instituição hospitalar de referência.
Foi expressão do nosso empenhamento para uma Política Nova para a Universidade que englobasse a reestruturação indispensável do sistema universitário, que sempre considerei como requisito indispensável à sobrevivência da Universidade pública, à salvaguarda de valores essenciais, como a cultura, a criação de conhecimento pela investigação científica, à sua difusão no tecido social e económico e que sintetizei na expressão precisamos de menos e melhores universidades que, pela sua produção científica e qualidade de ensino, sejam reconhecidas e constituam pólo de atracção para investigadores e estudantes.
A voz das instituições foi fundamental, foi a expressão da autonomia universitária que se quer reforçada e não coartada. As Universidades Clássica e Técnica de Lisboa, desafiaram a evidência da incapacidade de mudança, e num exercício autónomo de liberdade e de elevado sentido de responsabilidade pública, corporizaram a reforma mais relevante do ensino superior público, pelo menos em Lisboa, ocorrida nos últimos anos e abriram um novo ciclo para a afirmação e progresso da Universidade.
A nova Universidade de Lisboa que agora celebramos, reunindo e potenciando competências que existiam, mas que dispersas perdiam necessariamente dimensão e eficácia, era uma prioridade nacional, contribuirá para a afirmação do País pela qualidade da sua produção científica, da investigação e do ensino, e irá certamente ocupar posição cimeira no contexto das grandes universidades europeias.
Mais que crescimento orgânico, por incorporação ou somatório das suas Escolas e Institutos, impõe-se uma acção inteligente e determinada que associe, potencie sinergias, reforce massa crítica científica e cultural, criando ecologia institucional favorável para a investigação, a racionalização de recursos humanos e materiais e, desse modo, possa suscitar um impulso renovador.
É, neste contexto, que a Faculdade, pela sua actuação no passado recente, pode desempenhar um papel relevante no sucesso da Universidade de Lisboa. A colaboração com o Instituto Superior Técnico no quadro do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica, uma experiência bem sucedida que comemorou dez anos, outras iniciativas de Mestrado e Formação Avançada em Biotecnologias, os numerosos projectos de investigação comuns, com o IST e outras Escolas da Universidade, a associação de institutos e investigadores doutras escolas, com a Faculdade e com o IMM, colocam-nos numa posição única para o desenvolvimento duma grande área académica, de ensino e investigação, nas Ciências da Vida e da Saúde, contribuindo para o novo desafio científico da década: a Convergência das Ciências da Vida, com as Ciências Físicas e a Engenharia. A participação do HSM como instituição prestadora à comunidade nacional de um serviço diferenciado e de qualidade, constitui um pilar fundamental não só para o sucesso da Faculdade e do Centro Académico, mas também uma nova dinâmica na Universidade para a concretização de projectos de investigação e aplicação de inovação diagnóstica e terapêutica na Medicina Clínica e de intervenção ampla na área da Saúde.
O benefício não é crescer em número de alunos, importante, mas não decisivo, não é ampliar desmesuradamente uma Instituição em detrimento de outras, mas sim recriar uma Universidade capaz de responder aos novos desafios do conhecimento científico e, desse modo, contribuir com maior eficácia para a afirmação de Portugal e para o seu desenvolvimento cultural, científico, económico e social.
Concretizar este objectivo é não só uma necessidade, é um dever que o Futuro nos impõe. O País precisa de grandes instituições de Ciência e Ensino e este desideratum deve constituir uma prioridade.
A Faculdade de Medicina e o Centro Académico de Medicina de Lisboa saberão participar criativamente neste projecto novo e, pela sua acção e cooperação com as outras Escolas e Institutos de Investigação, constituir um verdadeiro pólo de excelência na das Ciências da Vida e da Saúde contribuindo, desse modo, para a afirmação nacional e internacional da nova Universidade de Lisboa.
Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
A aprovação recente dos Estatutos da nova Universidade de Lisboa pelo Governo da República, a eleição dos representantes para o Conselho Geral e para o novo Senado Universitário e a escolha do futuro Reitor, encerrarão um período notável e marcante para a Universidade Portuguesa e para a Universidade de Lisboa.
Ocorre numa época difícil da vida colectiva em Portugal e, nessa perspectiva é uma prova notável da vitalidade das Instituições, da sua cultura e energia criadora e da sua capacidade de enfrentar novos desafios.
Há algum tempo, em artigo publicado na imprensa diária, salientei o facto de esta mudança ocorrer no momento histórico em que o sistema universitário público vive um dos períodos de maior constrangimento financeiro da sua história.
Houve várias razões. Certamente, a crise financeira global que varreu Estados e Instituições na Europa e EUA, mas haverá outra endógena, fruto de uma visão menos realista dos objectivos da Educação Superior, porventura demasiado ideológica, que associada à nossa incapacidade de avaliação crítica e correcções de rumo necessárias conduziram a financiamento inadequado e insuficiente do sistema de ensino superior. E, também, ausência de estratégia nacional para a Educação Superior, assumida e participada pelos intervenientes, públicos e privados, que constituísse inspiração e modelo para uma acção continuada e organizada, independente dos ciclos políticos.
Nos anos 80 e 90, em plena euforia económica fruto da adesão à CEE, assistiu-se à proliferação desregulada de universidades privadas, experiência que, com honrosas excepções, não foi um sucesso. A afirmação científica e cultural do País no contexto da nossa integração europeia pressupunha uma política diferente, de selecção e desenvolvimento de Universidades produtoras de conhecimento (research universities) capazes de se afirmarem no contexto internacional e de competir pelos melhores alunos, docentes e investigadores, tornando-se atractivas para a disputa dos financiamentos indispensáveis a uma investigação qualificada e de nível internacional. O que aconteceu foi o oposto, proliferação errática de iniciativas, utilização menos racional dos recursos, desfasamento entre as propostas de formação e as necessidades de desenvolvimento da colectividade nacional, uma infelicidade particularmente gravosa num País de recursos escassos e com absoluta necessidade de recuperar atraso de décadas.
Foi uma oportunidade perdida.
Havia, também, um conceito dominante nalguma inteligencia portuguesa, tido como evidência irrefutável: as universidades seriam incapazes de auto-reforma, pelo que seria desejável a emergência de novas, que florescessem sem o pecado original, habitualmente invocado como corporativismo, dissociação com a realidade social e económica, gestão antiquada e endogamia.
Outras iniciativas que ocorreram na última década foram louváveis, como a criação de Laboratórios Associados, que gozando de maior autonomia na gestão de recursos humanos, contribuíram para o incremento da actividade científica no País. Os exemplos são conhecidos e são, na esmagadora maioria uma história de sucesso, suscitando uma outra dinâmica e adoptando gestão mais racional e flexível dos recursos, humanos e materiais, que nunca puderam ser aplicadas nas estruturas com vinculação à função pública. Na Faculdade de Medicina, o desenvolvimento do Instituto de Medicina Molecular constituído a partir dos Centros de Investigação da Faculdade avaliados por Comité Internacional, com Excelente ou Muito Bom, foi uma iniciativa excelente que apoiámos ativamente, logistica e financeiramente, na expectativa concretizada de um upgrade da ciência biomédica e de uma progressiva interacção entre a investigação e a docência, e que representa um compromisso inequívoco da Faculdade com a Ciência.
Foi uma aposta ganha!
Por isso, em 2009, quando propusémos a criação do Centro Académico de Medicina de Lisboa, insistimos para que o Instituto de Medicina Molecular integrasse o consórcio estabelecido entre a Faculdade e o Hospital de Santa Maria/Centro Hospitalar Lisboa-Norte, esperando assim constituir paradigma dum novo modelo de organização da Medicina Académica assente na investigação, inovação e na qualificação do exercício profissional em instituição hospitalar de referência.
Foi expressão do nosso empenhamento para uma Política Nova para a Universidade que englobasse a reestruturação indispensável do sistema universitário, que sempre considerei como requisito indispensável à sobrevivência da Universidade pública, à salvaguarda de valores essenciais, como a cultura, a criação de conhecimento pela investigação científica, à sua difusão no tecido social e económico e que sintetizei na expressão precisamos de menos e melhores universidades que, pela sua produção científica e qualidade de ensino, sejam reconhecidas e constituam pólo de atracção para investigadores e estudantes.
A voz das instituições foi fundamental, foi a expressão da autonomia universitária que se quer reforçada e não coartada. As Universidades Clássica e Técnica de Lisboa, desafiaram a evidência da incapacidade de mudança, e num exercício autónomo de liberdade e de elevado sentido de responsabilidade pública, corporizaram a reforma mais relevante do ensino superior público, pelo menos em Lisboa, ocorrida nos últimos anos e abriram um novo ciclo para a afirmação e progresso da Universidade.
A nova Universidade de Lisboa que agora celebramos, reunindo e potenciando competências que existiam, mas que dispersas perdiam necessariamente dimensão e eficácia, era uma prioridade nacional, contribuirá para a afirmação do País pela qualidade da sua produção científica, da investigação e do ensino, e irá certamente ocupar posição cimeira no contexto das grandes universidades europeias.
Mais que crescimento orgânico, por incorporação ou somatório das suas Escolas e Institutos, impõe-se uma acção inteligente e determinada que associe, potencie sinergias, reforce massa crítica científica e cultural, criando ecologia institucional favorável para a investigação, a racionalização de recursos humanos e materiais e, desse modo, possa suscitar um impulso renovador.
É, neste contexto, que a Faculdade, pela sua actuação no passado recente, pode desempenhar um papel relevante no sucesso da Universidade de Lisboa. A colaboração com o Instituto Superior Técnico no quadro do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica, uma experiência bem sucedida que comemorou dez anos, outras iniciativas de Mestrado e Formação Avançada em Biotecnologias, os numerosos projectos de investigação comuns, com o IST e outras Escolas da Universidade, a associação de institutos e investigadores doutras escolas, com a Faculdade e com o IMM, colocam-nos numa posição única para o desenvolvimento duma grande área académica, de ensino e investigação, nas Ciências da Vida e da Saúde, contribuindo para o novo desafio científico da década: a Convergência das Ciências da Vida, com as Ciências Físicas e a Engenharia. A participação do HSM como instituição prestadora à comunidade nacional de um serviço diferenciado e de qualidade, constitui um pilar fundamental não só para o sucesso da Faculdade e do Centro Académico, mas também uma nova dinâmica na Universidade para a concretização de projectos de investigação e aplicação de inovação diagnóstica e terapêutica na Medicina Clínica e de intervenção ampla na área da Saúde.
O benefício não é crescer em número de alunos, importante, mas não decisivo, não é ampliar desmesuradamente uma Instituição em detrimento de outras, mas sim recriar uma Universidade capaz de responder aos novos desafios do conhecimento científico e, desse modo, contribuir com maior eficácia para a afirmação de Portugal e para o seu desenvolvimento cultural, científico, económico e social.
Concretizar este objectivo é não só uma necessidade, é um dever que o Futuro nos impõe. O País precisa de grandes instituições de Ciência e Ensino e este desideratum deve constituir uma prioridade.
A Faculdade de Medicina e o Centro Académico de Medicina de Lisboa saberão participar criativamente neste projecto novo e, pela sua acção e cooperação com as outras Escolas e Institutos de Investigação, constituir um verdadeiro pólo de excelência na das Ciências da Vida e da Saúde contribuindo, desse modo, para a afirmação nacional e internacional da nova Universidade de Lisboa.
