José Fernandes e Fernandes
(...) Era um líder inquestionado e tolerante, como me contam os que lhe foram mais próximos. Professor atento à vida da Faculdade, a sua acção foi fundamental para o reforço da Ciência, para a constituição do Instituto de Medicina Molecular que agregou os núcleos científicos mais produtivos e que ele estimulou, mantendo sempre um interesse empenhado, ainda que informal e com distanciamento aparente.
Conhecia David Ferreira relativamente bem. Era da minha região, em jovem fui amigo do seu irmão já falecido que me falava com entusiasmo e admiração do seu percurso científico no estrangeiro, o que me suscitava respeito e interesse (...)
João Lobo Antunes
(...) A sua carreira foi uma surpreendente sequência de passos certos: não falhou uma nota, não tropeçou num degrau. Enfim, saiu, entrou, saiu, com uma extraordinária visão da oportunidade e um diagnóstico infalível, quanto ao melhor uso a dar a essa oportunidade. Por isso chega ao fim legal de uma carreira no topo, com a tranquilidade plena de quem cumpriu um dever, nunca enjeitando a sorte, que afinal mereceu.
Perdoem-me finalmente o desabafo que é também uma embaraçada confissão. Vou ter saudades suas, saudades de o ver, na sala do Conselho, mesmo em frente à cadeira mais alta em que a Escola me senta, porque durante as nossas reuniões havia entre nós o ininterrupto fluxo de um entendimento silencioso, uma cumplicidade não medida e até, quantas vezes, um tráfico de malícia, que explodia na sua gargalhada aberta, ruidosa, franca. E nesta Universidade solene e sisuda, tantas vezes triste de si mesma, somos poucos os que nos rimos e nos fazemos rir (...)
Maria do Carmo Fonseca
(...) Foi pela mão de David Ferreira que eu descobri o mundo da ciência. Recordo o ano de 1977, quando eu ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Sentada na primeira fila de um anfiteatro inóspito e degradado, consumia avidamente as aulas de Biologia Celular dadas pelo professor David Ferreira ao cair da tarde. Ele contava histórias de descobertas feitas por pessoas que passávamos a conhecer pelo nome. E eu sonhava, como será a sensação de fazer uma descoberta?(...)
João Ferreira
(...) Eram aulas magistrais, a sério. Só mais tardiamente percebi porque tiveram tanto impacto. Era óbvio que enquanto nos ensinava biologia celular tentava despertar em nós a curiosidade pelas origens do conhecimento e pelo entendimento das suas forças e fragilidades, e também o interesse pela investigação científica - e que entendia ser essa uma Missão sua. Foi certamente no âmbito dessa missão que decidiu fundar o GAPIC. Para dar uma oportunidade aos seus estudantes de formularem uma questão científica, de a testar, e de poderem partilhar a genuína emoção de uma descoberta – tal como ele a vivia (...)
João Eurico da Fonseca
(...) O nível de empenho que obtinha dos alunos, e não menos importante dos assistentes, criava uma sã competição entre todas as turmas, motivadas para terem o melhor poster, o resumo mais claro e a apresentação com maior impacto. Mas o Professor David-Ferreira tinha ainda outro objectivo nesta iniciativa. Com a sua argúcia e atenção treinada pressentia nalguns alunos o espírito inquieto, o inconformismo e a persistência, necessárias para fazerem o tirocínio no ensino, como monitores, e na investigação, como estagiários no Instituto Gulbenkian de Ciência (...)
Ana Cristina Mota
(...) Tudo começou naquela biblioteca desactivada, naquele espaço fechado e escuro onde se amontoavam livros, onde o professor tinha visto uma luz, a luz do conhecimento e a luz de um espaço que passei a chamar “meu”. Lembro-me tão bem de como os seus olhos brilhavam quando falava desse projecto, do seu projecto de modernização do Instituto de Anatomia, mais concretamente na remodelação do Pólo das Ciências Morfológicas. O prazer e privilégio que tive em trabalhar directamente consigo e fazer parte dessa sua equipa foi imenso, e o Professor sabia disso (...)
Vanda Oliveira
(...) Tinha vinte anos quando cheguei à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Foi com grande sorte, que fui recebida pelo Professor David-Ferreira, um homem sempre bem disposto, de trato fácil e sobretudo muito agradável (...)
![Share](https://www.medicina.ulisboa.pt/sites/default/files/media-icons/share.png)