Reportagem / Perfil
Um breve olhar sobre o Mandato como Subdirector (2005-2011) da FMUL e Expectativas para a Faculdade no Futuro
O facto de a Direcção anterior ter realizado uma obra notável na modernização administrativa da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa facilitou muito a possibilidade de em 2005 se avançar com a ideia de iniciar um processo estratégico que pudesse conduzir à modernização do ensino médico e, em consequência, criar condições para mais e melhor investigação científica. Em qualquer dos casos, o horizonte de referência foi sempre criar a ‘excelência’. A ideia era ter uma perspectiva a cinco anos, e algumas mudanças importantes foram introduzidas neste período de tempo. Diversas variáveis exógenas à escola, e não previstas, surgiram durante este período, nomeadamente o Regulamento Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES), impondo mudanças estatutárias e alterações nas estruturas e na forma de responsabilização dos orgãos de governação, que em parte desfocaram os objectivos iniciais.
O livro branco da Medical School da Harvard University revela que a maior fraqueza da sua Escola Médica, o que também sucede na nossa escola, é a ‘comunicação’ entre ciências básicas e ciências clínicas, ou seja, entre os fundamentos da formação científica e a sua aplicação. Falta de ‘comunicação’ entre professores do mesmo e de diferentes escalões. Apesar de alguns avanços nesse sentido, a Comissão Coordenadora do Conselho Científico, devido à multiplicidade de tarefas que tem de realizar, está longe de poder cumprir esta função. Faltam foruns de discussão informal dentro da escola que possam ser viveiros de novas ideias e de implementação das suas ‘practicalities’.
Várias áreas destinadas a fortalecer a FMUL foram identificadas, nomeadamente:
1) A necessidade de introduzir reformas curriculares permitindo aos alunos associar, na sua preparação sobre os fundamentos científicos e estruturantes da formação médica, uma interacção, mais cedo, com os doentes, tendo por base a ideia de que a Medicina se aprende essencialmete à cabeceira do doente (“Medicine is learned by the bedside and not in the classroom ... See and then research, compare and control. But see first.” – William Osler, the first chief of medicine at The Johns Hopkins Hospital and the founder of the institution’s residency program ), e depois se reflecte para encontrar explicações nas lições dos professores e na leitura científica. O conceito subjacente é de que os alunos de medicina possuem maturidade, estão altamente motivados em aprender, requerendo orientação e estímulo mais do que ‘obrigatoriadade’ e competição. Os alunos devem, pois, assumir, em parte, a responsabilidade da sua educação, gozar da liberdade de decidir como preencher os requesitos para ser Médico. Memorizar factos deve ser muito menos importante do que uma educação baseada na aprendizagem dos métodos de investigação que lhes permita em todos os momentos da sua actividade estarem dotados de espírito científico na análise dos problemas médicos.
2) A necessidade de criar oportunidades para que a ciência biomédica permeie a aproximação à clínica; o GAPIC tem exercido um esforço exemplar em relação a este aspecto.
3) A necessidade de reduzir o mais possível as barreiras institucionais permitindo colaborações mais eficazes e menos burocratizadas. A FMUL, através do Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), projecto comum entre a FMUL, o IMM e o Hospital de Santa Maria, contribuiu activamente para contextualizar condições institucionais susceptíveis de modernização nas áreas da educação médica e das ciências da saúde. A formação pré e pós-graduada, e a educação médica continuada, quer em ciências biomédicas quer em ciências da saúde amplificaram a dimensão académica da investigação científica nas várias áreas transversais à formação médica e ao exercício da medicina clínica. Os novos desafios deverão ser encarados por todos como oportunidade para cimentar a coesão e o sentido de responsabilidade.
4) A necessidade de investir em estruturas capazes de darem dimensão e operacionalidade aos processos estratégicos de desenvolvimento, a decorrer com a construção do Edifício Câmara Pestana para, em conjunto com o Edifício Egas Moniz, presentemente em velocidade de funcionamento que poderemos referir de ‘normalidade’, melhorar significativamente os espaços físicos da Escola. Acresce, ainda, a necessidade de criar novos grupos e áreas da investigação biomédica, nomeadamente nas áreas cardiovascular, nefrologia e gastrenterologia, entre outras, associada à identificação e promoção de novos líderes científicos.
Durante este período, a FMUL ampliou o seu nível de intervenção no exterior através da actividade das ciências Biomédicas, com as Faculdades de Farmácia, de Ciências, de Psicologia, de Medicina Dentária, melhorando a transversalidade e multidisciplinaridade de oportunidades e de projectos na formação pré e pós-graduada e na investigação científica. Também, com as ciências sociais (Instituto de Ciências Sociais da UL), com a finalidade de compreender e responder aos factores que influenciam o comportamento social e económico na saúde, doença e cuidados médicos.
Apesar da Crise Económica, redução de financiamento e aumento de alunos no meu breve ‘olhar’ sobre a FMUL, escola com uma longa e prestigiada história, que tem revelado possuir forte poder colectivo, vejo uma comunidade de docentes, alunos e não docentes dedicados, com inteligência, creatividade e generosidade. Tal fortalece a inspiração na prossecução da missão da Escola: formar médicos, bons médicos, os melhores médicos; fomentar a investigação científica básica e clinica; ligar a investigação básica à investigação clínica e servir a comunidade.
Em resumo, estimular a curiosidade intelectual dos alunos e docentes para adquirirem novos conhecimentos e dotá-los de ferramentas indispensáveis ao exercício ‘refinado’ da prática médica, contribuindo para ampliar significativamente os fundamentos científicos do conhecimento médico constituirá, sem dúvida, a príncipal razão de ser e responsabilidade da nossa Escola.
J Alexandre Ribeiro
O livro branco da Medical School da Harvard University revela que a maior fraqueza da sua Escola Médica, o que também sucede na nossa escola, é a ‘comunicação’ entre ciências básicas e ciências clínicas, ou seja, entre os fundamentos da formação científica e a sua aplicação. Falta de ‘comunicação’ entre professores do mesmo e de diferentes escalões. Apesar de alguns avanços nesse sentido, a Comissão Coordenadora do Conselho Científico, devido à multiplicidade de tarefas que tem de realizar, está longe de poder cumprir esta função. Faltam foruns de discussão informal dentro da escola que possam ser viveiros de novas ideias e de implementação das suas ‘practicalities’.
Várias áreas destinadas a fortalecer a FMUL foram identificadas, nomeadamente:
1) A necessidade de introduzir reformas curriculares permitindo aos alunos associar, na sua preparação sobre os fundamentos científicos e estruturantes da formação médica, uma interacção, mais cedo, com os doentes, tendo por base a ideia de que a Medicina se aprende essencialmete à cabeceira do doente (“Medicine is learned by the bedside and not in the classroom ... See and then research, compare and control. But see first.” – William Osler, the first chief of medicine at The Johns Hopkins Hospital and the founder of the institution’s residency program ), e depois se reflecte para encontrar explicações nas lições dos professores e na leitura científica. O conceito subjacente é de que os alunos de medicina possuem maturidade, estão altamente motivados em aprender, requerendo orientação e estímulo mais do que ‘obrigatoriadade’ e competição. Os alunos devem, pois, assumir, em parte, a responsabilidade da sua educação, gozar da liberdade de decidir como preencher os requesitos para ser Médico. Memorizar factos deve ser muito menos importante do que uma educação baseada na aprendizagem dos métodos de investigação que lhes permita em todos os momentos da sua actividade estarem dotados de espírito científico na análise dos problemas médicos.
2) A necessidade de criar oportunidades para que a ciência biomédica permeie a aproximação à clínica; o GAPIC tem exercido um esforço exemplar em relação a este aspecto.
3) A necessidade de reduzir o mais possível as barreiras institucionais permitindo colaborações mais eficazes e menos burocratizadas. A FMUL, através do Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), projecto comum entre a FMUL, o IMM e o Hospital de Santa Maria, contribuiu activamente para contextualizar condições institucionais susceptíveis de modernização nas áreas da educação médica e das ciências da saúde. A formação pré e pós-graduada, e a educação médica continuada, quer em ciências biomédicas quer em ciências da saúde amplificaram a dimensão académica da investigação científica nas várias áreas transversais à formação médica e ao exercício da medicina clínica. Os novos desafios deverão ser encarados por todos como oportunidade para cimentar a coesão e o sentido de responsabilidade.
4) A necessidade de investir em estruturas capazes de darem dimensão e operacionalidade aos processos estratégicos de desenvolvimento, a decorrer com a construção do Edifício Câmara Pestana para, em conjunto com o Edifício Egas Moniz, presentemente em velocidade de funcionamento que poderemos referir de ‘normalidade’, melhorar significativamente os espaços físicos da Escola. Acresce, ainda, a necessidade de criar novos grupos e áreas da investigação biomédica, nomeadamente nas áreas cardiovascular, nefrologia e gastrenterologia, entre outras, associada à identificação e promoção de novos líderes científicos.
Durante este período, a FMUL ampliou o seu nível de intervenção no exterior através da actividade das ciências Biomédicas, com as Faculdades de Farmácia, de Ciências, de Psicologia, de Medicina Dentária, melhorando a transversalidade e multidisciplinaridade de oportunidades e de projectos na formação pré e pós-graduada e na investigação científica. Também, com as ciências sociais (Instituto de Ciências Sociais da UL), com a finalidade de compreender e responder aos factores que influenciam o comportamento social e económico na saúde, doença e cuidados médicos.
Apesar da Crise Económica, redução de financiamento e aumento de alunos no meu breve ‘olhar’ sobre a FMUL, escola com uma longa e prestigiada história, que tem revelado possuir forte poder colectivo, vejo uma comunidade de docentes, alunos e não docentes dedicados, com inteligência, creatividade e generosidade. Tal fortalece a inspiração na prossecução da missão da Escola: formar médicos, bons médicos, os melhores médicos; fomentar a investigação científica básica e clinica; ligar a investigação básica à investigação clínica e servir a comunidade.
Em resumo, estimular a curiosidade intelectual dos alunos e docentes para adquirirem novos conhecimentos e dotá-los de ferramentas indispensáveis ao exercício ‘refinado’ da prática médica, contribuindo para ampliar significativamente os fundamentos científicos do conhecimento médico constituirá, sem dúvida, a príncipal razão de ser e responsabilidade da nossa Escola.
J Alexandre Ribeiro