Espaço Ciência
Saúde Ambiental e Ocupacional no Instituto de Medicina Preventiva
O desenvolvimento da Saúde Ambiental e da Saúde Ocupacional no Instituto de Medicina Preventiva (IMP), nos finais da década de 90, corresponde à materialização duma ideia embrionária de “Estudos de Ambiente” integrados na temática da prevenção, que teve início, mais de dez anos antes, na alocação de um “Laboratório de Estudos de Ambiente” no projecto do Edifício Egas Moniz. A actividade nestas áreas iniciou-se com um projecto de vigilância epidemiológica ambiental relativo a uma central de tratamento de resíduos sólidos urbanos, que continua a desenvolver-se há mais de uma década, com o objectivo principal de garantir a salvaguarda da saúde das populações que residem e/ou trabalham na envolvente da central.
Primeiro articulados com este projecto inicial de prestação de serviços à comunidade, mas muito rapidamente de forma autónoma, foram entretanto surgindo novos projectos, a maioria de investigação, tendo em vista contribuir para o avanço do conhecimento científico nestas áreas, através da melhor participação possível no esclarecimento das questões em aberto identificadas no desenvolvimento das actividades.
O Ambiente, nas suas várias dimensões, é reconhecidamente um dos mais fortes determinantes da Saúde, definindo novos aspectos da saúde humana e da qualidade de vida, actuais e das gerações vindouras, relativamente aos quais é imperioso intervir, sobretudo na óptica da prevenção. Daí a necessidade de que todos os profissionais de saúde, em particular os médicos, estejam sensibilizados e aptos a dar o seu indispensável contributo, para prevenir, combater ou mitigar a influência nefasta dos factores ambientais, ou para explorar os factores positivos do ambiente, na perspectiva da promoção da saúde de indivíduos e comunidades. Neste contexto e com o duplo objectivo de aliar a investigação ao ensino e de oferecer aos futuros médicos da FML uma oportunidade distinta de formação nestas áreas, foi criada, em 2001, uma unidade curricular optativa de Saúde Ambiental, a que, um ano depois e complementarmente, se seguiu uma outra de Saúde Ocupacional.
O serviço à comunidade, a investigação e o ensino nos domínios específicos de Saúde Ambiental e Ocupacional foram as bases e constituem os eixos estratégicos de actuação da Unidade de Saúde Ambiental (UniSA), que se implementou e foi desenvolvendo, no Instituto de Medicina Preventiva, ao longo da última década. A maior parte das actividades desta unidade funcional do IMP têm expressão a vários níveis e em diferentes âmbitos, sendo de destacar as que se apresentam a seguir, agrupadas sob a designação do eixo em que melhor se enquadram.
No que se refere ao serviço à comunidade – e na prossecução da estratégia consistente de aprofundamento do diálogo e cooperação entre a Universidade e o meio exterior que o IMP tem procurado desenvolver –, a UniSA tem acompanhado três instalações de resíduos sólidos no país, ao abrigo de programas de vigilância epidemiológica ambiental, quer nas populações da envolvente, quer, em alguns casos, nos trabalhadores, e tem colaborado na elaboração de estudos de impacte ambiental, numa perspectiva de contribuir para constituir o IMP como um centro de recursos para a comunidade, no domínio da Saúde Ambiental e Ocupacional.
Em relação à investigação, a actividade da UniSA desenvolveu-se na dupla perspectiva de, por um lado, contribuir para suprir o défice de conhecimento na relação entre Ambiente e Saúde e, por outro, para divulgar o conhecimento gerado, visando, por essa forma, participar na sensibilização para os impactes que suportam a qualidade ambiental e influenciam a saúde e, em última análise, contribuir para se dar voz aos que sofrem os efeitos da resposta de um Ambiente agredido e que são, a maioria das vezes, os menos empoderados da sociedade. Na vertente da participação para o avanço do conhecimento, foram e continuam a ser desenvolvidos vários projectos de investigação, a maioria com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e da Direcção-Geral da Saúde (DGS), ou, extramuros, da Comissão Europeia, através da Direcção-Geral do Ambiente (DG Environment) e da Direcção-Geral da Saúde e da Protecção do Consumidor (DG SANCO), e ainda da Organização Mundial da Saúde, ou desta em articulação com o Centre for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e o Canadian Public Health Association (CPHA). Neste contexto, a UniSA tem sido e é ainda a instituição nacional líder de projectos nacionais desenvolvidos no âmbito de projectos Europeus, casos do ESBIO[1] e dos ainda em curso COPHES e DEMOCOPHES[2]. As acções de divulgação dos resultados da investigação científica contam-se por várias dezenas, englobando publicações em revistas internacionais com revisão por pares, participação em livros da especialidade, comunicações em reuniões científicas ou técnicas, a maioria por convite, além dum grande número de acções de divulgação/sensibilização para o grande público ou para grupos específicos.
A actividade pedagógica ao nível da pré-graduação e da responsabilidade da UniSA centrou-se essencialmente nas disciplinas de Saúde Ambiental e de Saúde Ocupacional integradas no currículo optativo do Mestrado Integrado em Medicina (MIM), por onde já passaram cerca de 1000 futuros médicos, com uma média de aprovações superior a 95% e o testemunho expresso de um nível de satisfação muitíssimo encorajador. Quase marginalmente, incluiu também várias participações na disciplina de Epidemiologia no MIM e nas Licenciaturas de Microbiologia e de Dietética e Nutrição. Mais recentemente e no âmbito da Licenciatura em Ciências da Saúde, a disciplina de Ecologia e Saúde organizada na UniSA, com um cariz essencialmente prático focado nos balanços ecológicos – sobretudo de raiz social mas também individual, que suportam a qualidade ambiental e consequentemente a saúde humana –, tem contribuído para sensibilizar, para estas problemáticas, os futuros profissionais das áreas da saúde, chamando-os a ter opinião, a tomar decisões e a definir eventuais intervenções no exercício do seu direito/dever de cidadania, na perspectiva de prevenir, combater ou mitigar as agressões do homem ao ambiente e os correspondentes efeitos negativos na saúde e no bem-estar das populações. Por sua vez, os Estágios de Investigação na Comunidade, que a UniSA também disponibiliza anualmente, têm constituído um espaço privilegiado de sensibilização para a temática da Saúde Ambiental e Ocupacional, e também de aprendizagem da metodologia de investigação, tendo alguns dos projectos desenvolvidos neste contexto sido apresentados em conferências e os artigos correspondentes publicados em revistas internacionais da especialidade.
Ao nível da pós-graduação, a actividade pedagógica desenvolvida no âmbito da UniSA incidiu sempre no binómio Ambiente-Saúde, com a participação no Mestrado/Doutoramento em Epidemiologia mais centrada nas questões de Epidemiologia Ambiental e, no Mestrado em Comunicação em Saúde, nos complexos aspectos da comunicação em Saúde Ambiental, procurando sensibilizar os mestrandos para a importância da comunicação na gestão efectiva dos riscos ambientais, para a necessidade de identificação das melhores estratégias e para a aplicação das ferramentas de comunicação mais adequadas a diferentes públicos-alvo e a situações de normalidade ou de crise. A outra componente da actividade em pós-graduação tem a ver com o acolhimento e orientação de teses de mestrado e de doutoramento (7 das quais actualmente em curso), que a UniSA tem proporcionado e que são de inestimável valia para o progresso e dinamismo da Unidade.
Ao longo dos dez anos de vida da UniSA, tem havido a preocupação de gerir, da melhor forma possível, actividades e recursos, dando continuidade à intervenção nas áreas em que a Unidade foi ganhando competência, procurando os indispensáveis financiamentos de suporte à investigação e aos próprios investigadores, integrando recursos jovens (e outros menos jovens, nomeadamente médicos) em projectos de investigação e promovendo a colaboração sinérgica com outras instituições, nacionais e internacionais, estas últimas num esforço de consolidação e incremento da internacionalização que o IMP e a própria FML implementaram e têm mantido. Espera-se que o lastro do que já se conseguiu seja suficiente para levar a encarar as interrogações dum futuro sempre incerto como alavancas de progresso, sobretudo nas áreas de suporte da UniSA, em que há tanto para fazer.
M. Fátima Reis (Prof.ª Doutora)
Coordenadora da Unidade de Saúde Ambiental
Professora Regente de Saúde Ambiental, Saúde Ocupacional, Estágios de Investigação na Comunidade e Ecologia e Saúde
mfreis@fm.ul.pt
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[1] ESBIO – Expert team to Support BIOmonitoring in Europe.
[2] The twin European projects COPHES (Consortium to Perform Human Biomonitoring on a European Scale) and DEMOCOPHES work in full cooperation on complementary actions to measure environmental exposure of children and their mothers in a European human biomonitoring survey: a feasibility study.
Primeiro articulados com este projecto inicial de prestação de serviços à comunidade, mas muito rapidamente de forma autónoma, foram entretanto surgindo novos projectos, a maioria de investigação, tendo em vista contribuir para o avanço do conhecimento científico nestas áreas, através da melhor participação possível no esclarecimento das questões em aberto identificadas no desenvolvimento das actividades.
O Ambiente, nas suas várias dimensões, é reconhecidamente um dos mais fortes determinantes da Saúde, definindo novos aspectos da saúde humana e da qualidade de vida, actuais e das gerações vindouras, relativamente aos quais é imperioso intervir, sobretudo na óptica da prevenção. Daí a necessidade de que todos os profissionais de saúde, em particular os médicos, estejam sensibilizados e aptos a dar o seu indispensável contributo, para prevenir, combater ou mitigar a influência nefasta dos factores ambientais, ou para explorar os factores positivos do ambiente, na perspectiva da promoção da saúde de indivíduos e comunidades. Neste contexto e com o duplo objectivo de aliar a investigação ao ensino e de oferecer aos futuros médicos da FML uma oportunidade distinta de formação nestas áreas, foi criada, em 2001, uma unidade curricular optativa de Saúde Ambiental, a que, um ano depois e complementarmente, se seguiu uma outra de Saúde Ocupacional.
O serviço à comunidade, a investigação e o ensino nos domínios específicos de Saúde Ambiental e Ocupacional foram as bases e constituem os eixos estratégicos de actuação da Unidade de Saúde Ambiental (UniSA), que se implementou e foi desenvolvendo, no Instituto de Medicina Preventiva, ao longo da última década. A maior parte das actividades desta unidade funcional do IMP têm expressão a vários níveis e em diferentes âmbitos, sendo de destacar as que se apresentam a seguir, agrupadas sob a designação do eixo em que melhor se enquadram.
No que se refere ao serviço à comunidade – e na prossecução da estratégia consistente de aprofundamento do diálogo e cooperação entre a Universidade e o meio exterior que o IMP tem procurado desenvolver –, a UniSA tem acompanhado três instalações de resíduos sólidos no país, ao abrigo de programas de vigilância epidemiológica ambiental, quer nas populações da envolvente, quer, em alguns casos, nos trabalhadores, e tem colaborado na elaboração de estudos de impacte ambiental, numa perspectiva de contribuir para constituir o IMP como um centro de recursos para a comunidade, no domínio da Saúde Ambiental e Ocupacional.
Em relação à investigação, a actividade da UniSA desenvolveu-se na dupla perspectiva de, por um lado, contribuir para suprir o défice de conhecimento na relação entre Ambiente e Saúde e, por outro, para divulgar o conhecimento gerado, visando, por essa forma, participar na sensibilização para os impactes que suportam a qualidade ambiental e influenciam a saúde e, em última análise, contribuir para se dar voz aos que sofrem os efeitos da resposta de um Ambiente agredido e que são, a maioria das vezes, os menos empoderados da sociedade. Na vertente da participação para o avanço do conhecimento, foram e continuam a ser desenvolvidos vários projectos de investigação, a maioria com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e da Direcção-Geral da Saúde (DGS), ou, extramuros, da Comissão Europeia, através da Direcção-Geral do Ambiente (DG Environment) e da Direcção-Geral da Saúde e da Protecção do Consumidor (DG SANCO), e ainda da Organização Mundial da Saúde, ou desta em articulação com o Centre for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e o Canadian Public Health Association (CPHA). Neste contexto, a UniSA tem sido e é ainda a instituição nacional líder de projectos nacionais desenvolvidos no âmbito de projectos Europeus, casos do ESBIO[1] e dos ainda em curso COPHES e DEMOCOPHES[2]. As acções de divulgação dos resultados da investigação científica contam-se por várias dezenas, englobando publicações em revistas internacionais com revisão por pares, participação em livros da especialidade, comunicações em reuniões científicas ou técnicas, a maioria por convite, além dum grande número de acções de divulgação/sensibilização para o grande público ou para grupos específicos.
A actividade pedagógica ao nível da pré-graduação e da responsabilidade da UniSA centrou-se essencialmente nas disciplinas de Saúde Ambiental e de Saúde Ocupacional integradas no currículo optativo do Mestrado Integrado em Medicina (MIM), por onde já passaram cerca de 1000 futuros médicos, com uma média de aprovações superior a 95% e o testemunho expresso de um nível de satisfação muitíssimo encorajador. Quase marginalmente, incluiu também várias participações na disciplina de Epidemiologia no MIM e nas Licenciaturas de Microbiologia e de Dietética e Nutrição. Mais recentemente e no âmbito da Licenciatura em Ciências da Saúde, a disciplina de Ecologia e Saúde organizada na UniSA, com um cariz essencialmente prático focado nos balanços ecológicos – sobretudo de raiz social mas também individual, que suportam a qualidade ambiental e consequentemente a saúde humana –, tem contribuído para sensibilizar, para estas problemáticas, os futuros profissionais das áreas da saúde, chamando-os a ter opinião, a tomar decisões e a definir eventuais intervenções no exercício do seu direito/dever de cidadania, na perspectiva de prevenir, combater ou mitigar as agressões do homem ao ambiente e os correspondentes efeitos negativos na saúde e no bem-estar das populações. Por sua vez, os Estágios de Investigação na Comunidade, que a UniSA também disponibiliza anualmente, têm constituído um espaço privilegiado de sensibilização para a temática da Saúde Ambiental e Ocupacional, e também de aprendizagem da metodologia de investigação, tendo alguns dos projectos desenvolvidos neste contexto sido apresentados em conferências e os artigos correspondentes publicados em revistas internacionais da especialidade.
Ao nível da pós-graduação, a actividade pedagógica desenvolvida no âmbito da UniSA incidiu sempre no binómio Ambiente-Saúde, com a participação no Mestrado/Doutoramento em Epidemiologia mais centrada nas questões de Epidemiologia Ambiental e, no Mestrado em Comunicação em Saúde, nos complexos aspectos da comunicação em Saúde Ambiental, procurando sensibilizar os mestrandos para a importância da comunicação na gestão efectiva dos riscos ambientais, para a necessidade de identificação das melhores estratégias e para a aplicação das ferramentas de comunicação mais adequadas a diferentes públicos-alvo e a situações de normalidade ou de crise. A outra componente da actividade em pós-graduação tem a ver com o acolhimento e orientação de teses de mestrado e de doutoramento (7 das quais actualmente em curso), que a UniSA tem proporcionado e que são de inestimável valia para o progresso e dinamismo da Unidade.
Ao longo dos dez anos de vida da UniSA, tem havido a preocupação de gerir, da melhor forma possível, actividades e recursos, dando continuidade à intervenção nas áreas em que a Unidade foi ganhando competência, procurando os indispensáveis financiamentos de suporte à investigação e aos próprios investigadores, integrando recursos jovens (e outros menos jovens, nomeadamente médicos) em projectos de investigação e promovendo a colaboração sinérgica com outras instituições, nacionais e internacionais, estas últimas num esforço de consolidação e incremento da internacionalização que o IMP e a própria FML implementaram e têm mantido. Espera-se que o lastro do que já se conseguiu seja suficiente para levar a encarar as interrogações dum futuro sempre incerto como alavancas de progresso, sobretudo nas áreas de suporte da UniSA, em que há tanto para fazer.
M. Fátima Reis (Prof.ª Doutora)
Coordenadora da Unidade de Saúde Ambiental
Professora Regente de Saúde Ambiental, Saúde Ocupacional, Estágios de Investigação na Comunidade e Ecologia e Saúde
mfreis@fm.ul.pt
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[1] ESBIO – Expert team to Support BIOmonitoring in Europe.
[2] The twin European projects COPHES (Consortium to Perform Human Biomonitoring on a European Scale) and DEMOCOPHES work in full cooperation on complementary actions to measure environmental exposure of children and their mothers in a European human biomonitoring survey: a feasibility study.
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