Investigação e Formação Avançada
Programa Gulbenkian de Formação Médica Avançada
Prof. Doutora Leonor Parreira
Directora do Programa Gulbenkian de Formação Médica AvançadaNo passado dia 6 de Outubro teve início na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa/ Instituto de Medicina Molecular (FMUL/IMM) a componente educacional da 1ª edição do Programa Gulbenkian de Formação Médica Avançada (PGFMA), um Programa Doutoral especificamente dirigido a Médicos-Clínicos. Uma iniciativa Gulbenkian a que se associou a Fundação Champalimaud, o PGFMA estará aberto durante 3 anos consecutivos, aceitando 10 clínicos (Especialistas e Internos de Especialidade) por ano, 5 em dedicação integral e 5 em part-time. O Programa oferece aos candidatos admitidos uma formação científica de excelência em ciências biomédicas e clínicas bem como apoio financeiro para a frequência do Programa e actividades de investigação (toda a informação em www.gulbenkian.pt).
As razões:
O extraordinário progresso da Biologia nas últimas décadas oferece hoje à Medicina oportunidades sem precedentes para uma melhor compreensão do normal e do patológico, novas abordagens à fisiologia de sistemas complexos e poderosos instrumentos de prevenção e terapêutica. A biomedicina contemporânea trouxe ainda consigo, os alicerces de uma nova taxonomia da doença, de carácter intrinsecamente preditivo, onde assinaturas moleculares específicas prometem a identificação pré-sintomática do indivíduo em risco e, desejavelmente, a prevenção da doença. Admirável promessa, mas de difícil “translação” para realidade se os Médicos-Clínicos se alhearem do processo de produção do conhecimento. De facto, a investigação feita por um Médico Clínico é marcada por duas características tão únicas quanto indeléveis: a sua experiência pessoal de cuidar o ser humano doente e uma formação orientada por uma visão “centrada no organismo”. Se a primeira explica que o clínico-investigador tenha, desde sempre, encarnado a ânsia de transpor para o doente os benefícios do progresso científico, a segunda, ao contribuir sua perspectiva holistica para uma biomedicina tendencialmente reducionista, surge hoje como factor imprescindível ao próprio progresso da investigação biomédica fundamental.
Nas últimas décadas, contudo, tem-se assistido a um declínio progressivo do envolvimento de médicos na prática da investigação. Fenómeno observado em todos os países desenvolvidos, deve-se, em grande parte, à dificuldade sentida pelo clínico de compatibilizar uma formação profissional longa e complexa, bem como uma actividade assistencial espartilhada por fortes restrições económicas, com a aquisição de competências que lhe permitam acompanhar o passo da ciência biomédica contemporânea. Este profundo divórcio entre o clínico e a ciência arrisca-se a converter o Médico num executor passivo de produtos derivados de uma agenda de investigação que ele próprio não determinou e para a qual não contribuiu. O corolário será, em última análise, uma séria ameaça ao desenvolvimento de investigação médica verdadeiramente útil para o doente.
Os objectivos: O principal objectivo do Programa é o de contribuir para que Médicos interessados em aliar à sua actividade assistencial a investigação de problemas clínicamente relevantes, adquiram bases científicas sólidas e possam desenvolver projectos de investigação de qualidade nas suas áreas específicas de interesse.
A quem se destina: Médicos, Internos ou Especialistas, altamente motivados para actividades de investigação clínica ou de translação, que:
• Estejam convictos de que uma formação científica sólida é o alicerce de uma investigação médica de excelência e de uma melhor prática clínica,
• Desejem, no futuro, envolver-se em projectos multidisciplinares e cooperativos como complemento da sua actividade assistencial,
O que caracteriza o Programa:
Embora especificamente desenhado para Médicos-Clínicos, o PGFMA partilha dos mesmos princípios de todos os Programas Doutorais Gulbenkian:
1. rigorosa selecção dos candidatos através de concurso competitivo de âmbito nacional;
2. exposição dos alunos a um corpo docente de excelência maioritariamente internacional;
3. forte diversidade e flexibilidade dos programas educacionais;
4. forte estímulo à criatividade e independencia intelectual dos alunos bem como ao desenvolvimento das suas capacidades de liderança.
Na sua estrutura actual, a componente formativa decorre ao longo de 6 meses em Instituições de investigação Biomédica de excelência no país, seguindo-se um período de 2,5 anos de actividade de investigação (alunos em full-time) em Portugal ou no estrangeiro.
Dada a natureza dos alunos a que se destina, a componente educacional do Programa difere, contudo, da de outros Programas Doutorais num aspecto essencial. Não tem, por objectivo, formar cientistas profissionais mas, antes, Médicos Clínicos cientificamente informados. Procura, especificamente, familiarizar o clínico com os conceitos, a linguagem e as tecnologias da Ciência Biomédica contemporânea, conferindo-lhe capacidade de avaliar criticamente as respectivas contribuições para a Medicina Clínica e oferecendo-lhe novos horizontes de investigação.
Adicionalmente, o Programa procura incentivar o contacto permanente entre os seus alunos-médicos e estudantes de Doutoramento não-médicos, facultando, para isso, a frequência de todos os seus módulos tutoriais a estudantes de Doutoramento não médicos das diferentes instituições associadas ao Programa.
A 1ª edição do PGFMA
Concorreram à primeira edição do PGFMA 98 Clínicos, 27 Especialistas e 71 Internos, provenientes de um total de 30 unidades de saúde no país (Tabela 1a,b).
Os 10 candidatos admitidos foram seleccionados por uma Comissão constituída pelos Professores João Lobo Antunes (FMUL/IMM), António Coutinho (Instituto Gulbenkian de Ciência/FMUL), Ricardo Brentani (Universidade de São Paulo/Fundação Champalimaud), Manuel Rodrigues Gomes (Fundação Gulbenkian), Isabel Palmeirim (Universidade do Minho), Miguel Castelo Branco (Universidade de Coimbra) e Leonor Parreira (FMUL/Directora do Programa) (Tabela 2).
Em 2008-2009, os 6 meses da componente educacional do Programa (Figura 1) terão lugar no IMM/FMUL, no Instituto Gulbenkian de Ciência, na Faculdade de Medicina do Porto e no IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade) do Porto, contando com a participação de um corpo docente maioritariamente internacional proveniente dos melhores centros de investigação médica e biomédica europeus e americanos (Tabela 3).
A organização de 7 dos 15 módulos educacionais da 1ª edição do Programa, está a cargo de docentes/investigadores da FMUL/IMM, a quem coube decidir sobre os conteúdos programáticos e seleccionar os respectivos docentes nacionais e internacionais. As aulas tutoriais dos módulos IMM/FMUL beneficiam do apoio do Instituto de Formação Avançada e da Unidade de Gestão do IMM, e decorrem nas salas de pós-graduação do Edifício Egas Moniz às quais foi agora acrescentado um novo espaço de estudo para alunos de Doutoramento e Mestrado da FMUL, cujo equipamento informático foi financiado pela Fundação Gulbenkian.
Salienta-se que todos os seminários e conferências do Programa estão abertos a todos os interessados.