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Sarau Cultural 100 anos FMUL
Nesse aspecto, a chuvosa e ventosa noite de 7 de Outubro de 2010 não desiludiu, muito pelo contrário, deixou saudades e um sentimento de antecipação até que a edição do próximo ano nos revele as suas promessas e argumentos para regressarmos.
A abrir o espectáculo, com pompa e circunstância, foram proferidos os discursos do Digníssimo Sr. Director da FMUL, Prof. Doutor Fernandes e Fernandes, do Presidente do Conselho Pedagógico da FMUL e Coordenador da Comissão Organizadora deste Sarau Cultural, o Exmo. Senhor Prof. Doutor Miguel Oliveira da Silva e do Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (AEFMUL), o aluno Nuno Gaibino.
Embora se tivesse feito presente no cocktail que antecedeu o espectáculo e desde o início este evento tenha contado com a colaboração do Magnífico Senhor Reitor da Universidade de Lisboa, infelizmente para todos nós, devido a um impedimento de força maior de ordem pessoal, não foi de todo possível contar com a sua presença na cerimónia preambular. Ainda assim, ouviu-se em palco um agradecimento público por todo o interesse, apoio incondicional e dedicação ao Sarau Cultural deste ano, por parte do senhor Prof. Doutor António Nóvoa.
Nesta viagem, por várias épocas distintas e tipologias musicais diversas, as vozes esplendidamente organizadas e treinadas sobressaíram em várias línguas e linguagens melodiosas, saltando de século em século, de estilo em estilo, de trás para a frente e vice-versa, com uma qualidade sempre impressionante para um grupo coral desta natureza.
Na sequência deste esplêndido momento esperava-nos um outro de formosura... sim, porque um sarau não é só tocar e cantar.
A aluna Ana Catarina Nora dançou “Nutcracker, suite from the ballet, op.71”. A peça chama-se "Dança da Fada do Açúcar" e faz parte do segundo acto do bailado "O Quebra-nozes" que foi composto por Piotr Tchaikovsky. Este bailado, que conta uma história passada numa noite de Natal, será provavelmente dos mais conhecidos, tendo sido por essa razão amplamente reconhecido pela assistência.
Seguidamente, fomos convidados pela fantástica apresentadora desta edição, a aluna Joana Baptista, a escutarmos o Primeiro Andamento da Sonata KV 331.
Escrita por Wolfgang Amadeus Mozart e composta na forma de tema e variações, a qual consiste na apresentação de um tema inicial, que depois se vai repetindo várias vezes, introduzindo, em cada repetição, cada vez mais alterações do que as escutadas anteriormente.
Ao piano, o aluno Pedro Madeira Marques foi uma das gratas surpresas do serão.
Talvez ninguém suspeitasse das magníficas vozes da soprano Maria Guilhermina Pereira e do barítono Afonso Moreira, nomeadamente quando os vemos no papel de incógnitos alunos nos corredores do Hospital de Santa Maria ou na entrada das salas situadas no Edifício Egas Moniz. Foram ambos acompanhados por outro insuspeito artista, o aluno Afonso Ferreira, ao piano, em “Papageno” d’A Flauta Mágica. O Dueto com que nos brindaram faz parte do segundo e último acto da famosa ópera de Wolfang Amadeus Mozart, Die Zauberflüte, no título original.
Igualmente, notável voz tem a aluna Natacha Husson, a qual actuou com o pianista Tito Tavares, num medley constituído pelas músicas Summertime, de 1935 (George Gershwin), composta para a ópera Porgy and Bess e imortalizada por Ella Fitzgerald, seguida de Feeling Good (Anthony Newley e Leslie Bricusse), escrita para o musical, de 1964, The Roar of the Greasepaint - The Smell of the Crowd.
A finalizar a primeira parte, o sarau terminou com uma apresentação de dança. A montagem coreográfica de “Do your Thing” englobou tanto coreografias criadas pelo aluno José Maria Farinha, como outras que lhe foram transmitidas pelo bailarino, e coreógrafo de Hip-Hop, Vasco Alves, reconhecido tanto a nível nacional como internacional. Os passos apresentados envolveram dois estilos que o dançarino domina: Jazz e Hip-Hop, sendo este último predominante.
A segunda parte iniciou-se com o conhecido “Libertango” de Astor Piazzolla. Para interpretar este arrebatador momento de música e dança, tivemos Gonçalo Freire na flauta de bisel, a violinista Raquel Paulinetti da Câmara, no violoncelo Francisco Moitinho de Almeida, no piano Maria Guilhermina Pereira e a dançarina Rita Carvalho.
O piano voltou de novo a impor-se como soberano do sarau. Ao longo de todo o séc. XIX, a música para piano adquire um relevo e importância decisivos na cultura musical, tendo esta época sido solenizada através da interpretação do pianista Afonso Ferreira em “Capriccio “ op.76 nº1 de Johannes Brahms.
Seguir-se-ia, do mesmo autor, a dança Húngara Nº 5. Foi composta em 1869 e a obra original foi escrita para piano a quatro mãos, num arranjo para quarteto de flautas realizado por Hans-Peter Beer em 2007.
O soprano Gonçalo Freire, a contralto Sofia Barreira, o tenor Pedro Ribeiro e o baixista Afonso Moreira mereceram, sem dúvida, o forte aplauso de que foram alvo no final.
Actuaram, seguidamente, os alunos Maria Gilhermina, Ana Sofia Spencer, Mariana Cardoso, Afonso Ferreira, Pedro Ribeiro, Afonso Moreira e António Carvalho, acompanhados nas cordas pelo Prof. Doutor Miguel Oliveira e Silva e pelos alunos Sofia Ribeiro e Francisco Almeida. Interpretaram, magnificamente, a peça “Ave Verum Corpus” um hino eucarístico que, durante a Idade Média, era cantado durante a elevação da hóstia no acto da consagração. Wolfgang Amadeus Mozart compôs este motete para um amigo, em 1791, ano da sua morte, tendo-o adaptado para coro e pequeno ensemble de cordas.
A fechar o “Sarau Cultural 100 anos FMUL”, tivemos a Tuna Médica de Lisboa, um grupo que nasceu da cooperação entre a FMUL e a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, o qual nos presenteou com uma vibrante e sedutora actuação, enchendo de alegria todo o auditório, ao ponto de levar a multidão em êxtase para a cantar e a dançar.
Esmero de alunos e professores à parte, subiram assim ao palco todos unidos pela arte, tendo-se revelado, naquela noite, impressionantes surpresas, quer seja pelo dom, génio, talento e propriedade com que tocam os instrumentos musicais, pela graciosidade com que se impuseram nas danças clássicas, como o Ballet e o Tango, na magnificência com que demonstraram um espectacular à-vontade e saber estar no Jazz e no Hip-Hop ou ainda pelas suas esplêndidas vozes encantadoras.
No fim do espectáculo podia-se escutar vários comentários, aqui e acolá, nas conversas de corredor, entre as muitas pessoas da assistência que encheram completamente o Grande Auditório do Edifício Egas Moniz, ocupando todos os espaços livres disponíveis, incluindo, para além dos quase 400 lugares sentados, o hall de entrada, os corredores laterais e até as escadas...
O encantamento não advém apenas e tão somente dos trajes de gala usados a preceito, mas, sobretudo, das excelentes obras levadas a palco, pelas igualmente primorosas interpretações e por descobrirmos outra faceta oculta em pessoas que estamos mais habituados a reconhecer no papel de Docentes ou Discentes, resguardando por trás de uma bata ou dessa familiar presença quotidiana, insuspeitáveis qualidades interpretativas ou o domínio de determinado instrumento musical.
Miguel Andrade
Instituto de Introdução à Medicina
mandrade@fm.ul.pt
