A Noite da Medicina é um espectáculo académico realizado anualmente na última quarta-feira do mês de Outubro, cabendo ao 6.º ano do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa a responsabilidade pela respectiva organização.

O espectáculo conta com números de variedades musicais, dança, vídeo e actuações em palco, pretendendo interagir com o público e assumindo-se, sem dúvida, como momento de união dos estudantes da FMUL, assinaladamente através da sátira aos aspectos do seu quotidiano académico.

As suas primeiras edições tiveram lugar nos anos oitenta e decorriam na Sala de Alunos da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa (AEFML), tendo sido posteriormente transferidas para o Anfiteatro da FMDUL por um ano, seguindo-se, durante as três edições subsequentes a Aula Magna da Universidade de Lisboa, e nestas três últimas edições... o mítico Coliseu dos Recreios.

A mais recente Noite da Medicina teve lugar no passado dia 27 de Outubro de 2010 e, tal como antecipado, constituiu uma inesquecível noitada de espectáculo que durou aproximadamente 5 intensas horas de entretenimento.

Em relação aos anos anteriores notou-se, como aliás tem sido hábito, uma cada vez maior qualidade do espectáculo em si e uma notável sofisticação, quer dos meios audiovisuais, quer dos números apresentados em palco.

Um humor corrosivo, típico da irreverência e da juventude dos estudantes, levou frequentemente o público às lágrimas e à exaustão por tanto rir, particularmente aqueles que na assistência convivem diariamente com o quotidiano da FMUL.

Passaram-se inúmeras mensagens, de forma directa ou subliminar, aos caloiros, aos alunos dos outros anos, aos Serviços e Direcção da Faculdade e até mesmo aos Docentes.

No entanto, neste «único espaço de crítica e sátira, o último reduto do pensamento livre» da Faculdade, como se ouviu no diálogo de uma das peças em tom de folia, embora a sempre presente e saudável crítica mordaz, própria do evento, tivesse brincado os próprios alunos e a vida de estudante assim como com inúmeros personagens, serviços ou características da instituição, o respeito foi preponderante. Este ano houve mesmo uma certa moderação na linguagem em relação ao que vinha sendo tradição.

Foi sobretudo uma noite de festa, galhofa, pândega, brincadeira e animação, à mistura com excelentes números artísticos em palco, os quais atingem já um nível e classe que, particularmente algumas actuações, bem poderiam integrar um Sarau Cultural.

O arrebatamento e entusiasmo de todos os estudantes presentes, com um destaque neste aspecto para os sempre maioritários e animados alunos do 1.º ano, mimaram o espectáculo com os habituais cânticos e rituais de celebração em grupo, trazendo a festa para a assistência e fazendo, em vários momentos chave, literalmente estremecer o lendário Coliseu dos Recreios.

Uma nota final muito positiva para a impecável organização de 2010, assim como para a alegria e juventude contagiantes.

Só é pena que o espectáculo nunca possa acolher todos os funcionários, Docentes, amigos e familiares que ficam, todos os anos, impedidos de viver este momento excepcional, devido meramente à questão da lotação da sala. Infelizmente outros espaços com mais capacidade de público estão fora do alcance do orçamento das sucessivas organizações deste memorável evento, senão seria caso para dizer... avance-se já para o Pavilhão Atlântico, porque a Noite da Medicina já tem classe e interesse para o merecer.
Miguel Andrade
Instituto de Introdução à Medicina
mandrade@fm.ul.pt