Espaço Aberto
Neonatologia, A perspectiva de um neonatologista do Hospital de Santa Maria
Desde o século XIX que a medicina se interessa de modo particular pelos recém-nascidos doentes e principalmente prematuros, tendo sido usadas então as primeiras incubadoras e a prática de alimentação por sonda gástrica.
A partir da segunda metade do século XX, coincidindo com o desenvolvimento tecnológico, suceder-se-ão várias práticas como a ventilação invasiva e não invasiva, a monitorização fisiológica, a alimentação parentérica, o uso de corticoides prenatais e de surfactante, a ultrassonografia, o óxido nítrico inalado, a hipotermia induzida e a oxigenação extracorporal. Estes avanços vão permitir a sobrevivência, globalmente com menos sequelas, de um número cada vez maior de recém-nascidos. Estes factos são bem documentados pela evolução das taxas de mortalidade perinatal e neonatal nos países mais desenvolvidos.
O termo “neonatologia” passa a ser usado a partir de 1960.
Também em Portugal, desde o princípio da década de 70 (no hospital de Santa Maria em 1973) surgem os “berçários”, “serviços de prematuros” e assistência regular nas salas de partos. É estruturado a nível nacional o “esquema básico de cuidados perinatais” com apetrechamento básico dos hospitais públicos no final da década de 70.
O primeiro ventilador usado é, neste hospital, um Loosco® (de anestesia), em 1976, pela Drª Ofélia Guerreiro, tendo sobrevivido o primeiro prematuro ventilado em 1977. Desde então e até 1983 há registo de dez recém-nascidos ventilados sobreviventes. Neste ano são adquiridos ventiladores próprios para recém-nascidos (BearCub® BP 200 e BP 2001). Consegue-se um quadro próprio para neonatologia em 1986, embora a competência nessa área só venha a ser reconhecida, primeiro no contexto das carreiras médicas, na década de 90 e posteriormente pela Ordem dos Médicos (criação da sub-especialidade em 2003). A partir da década de 90 sucedem-se os ventiladores com tecnologia cada vez mais sofisticada: com sincronização, com volume garantido, de alta frequência e, principalmente, de ventilação não invasiva.
A estruturação dos serviços de apoio perinatal, o seu apetrechamento e a implementação de um sistema de transporte medicalizado de recém-nascidos no final dos anos 80 muito contribuíram para a extraordinária melhoria dos resultados nesta área em Portugal, catapultando-nos para o grupo dos melhores.
Foi o serviço de pediatria do hospital de Santa Maria que recebeu a sede operacional do INEM-RN em Lisboa, em 1987, sob a coordenação do Doutor Lincoln Silva, posteriormente transferida para a maternidade Alfredo da Costa.
A par de todo este desenvolvimento tecnológico, começa a dar-se a maior importância à individualização dos cuidados ao recém-nascido, ao seu conforto e bem-estar, à integração da família e demais vertentes psicológicas e sociais, fundamentais ao pleno desenvolvimento das potencialidades das crianças, como é seu direito reconhecido. São integrados na equipa “neonatal” psicólogos, nutricionistas, terapeutas, técnicos do serviço social, farmacêuticos para além da própria multidisciplinaridade em diversas áreas médicas pediátricas e não pediátricas. Somos, no hospital de Santa Maria, um serviço neonatal de referência cirúrgica, neurocirúrgica, de doenças metabólicas, neurológicas e nefrológicas.
Para além de todo este intensivismo, continuamos a acolher o nascimento de recém-nascidos sem problemas de maior, área onde damos a maior ênfase a cuidados de rastreio, prevenção de doenças e acidentes e promoção da saúde no seu mais lato sentido. Preparamos a candidatura a “hospital amigo dos bebés”, manifestando deste modo a adesão incondicional à promoção do aleitamento materno, fator de saúde incontornável.
A vertente de ensino/formação nunca foi menosprezada, quer em integração com a formação pré-graduada e pós-graduada de Pediatria, quer através dos ciclos de estudos especiais, quer através da formação interna e externa de diversos técnicos de saúde.
Margarida Ejarque Albuquerque
Assistente hospitalar graduada, assistente convidada da Clínica Universitária Pediátrica
Serviço de Neonatologia
Departamento da Criança e da Família
Hospital de Santa Maria – EPE-Lisboa Norte
guida.ejarque@gmail.com
__________________
Bibliografia:
Cardoso B, Oliveira G, Albuquerque, ME. Ventilação Assistida na UCERN desde 2000.
Sessão clínica do serviço de pediatria do HSM. 2008. np
Guerreiro, O. Unidade de Neonatologia do HSM 1973-2005. Apontamentos. Jornadas
de Neonatologia do HSM. 2005. np
Videira Amaral, JM. A Neonatologia no Mundo e em Portugal. Factos Históricos.
Angelini, 2004
A partir da segunda metade do século XX, coincidindo com o desenvolvimento tecnológico, suceder-se-ão várias práticas como a ventilação invasiva e não invasiva, a monitorização fisiológica, a alimentação parentérica, o uso de corticoides prenatais e de surfactante, a ultrassonografia, o óxido nítrico inalado, a hipotermia induzida e a oxigenação extracorporal. Estes avanços vão permitir a sobrevivência, globalmente com menos sequelas, de um número cada vez maior de recém-nascidos. Estes factos são bem documentados pela evolução das taxas de mortalidade perinatal e neonatal nos países mais desenvolvidos.
O termo “neonatologia” passa a ser usado a partir de 1960.
Também em Portugal, desde o princípio da década de 70 (no hospital de Santa Maria em 1973) surgem os “berçários”, “serviços de prematuros” e assistência regular nas salas de partos. É estruturado a nível nacional o “esquema básico de cuidados perinatais” com apetrechamento básico dos hospitais públicos no final da década de 70.
O primeiro ventilador usado é, neste hospital, um Loosco® (de anestesia), em 1976, pela Drª Ofélia Guerreiro, tendo sobrevivido o primeiro prematuro ventilado em 1977. Desde então e até 1983 há registo de dez recém-nascidos ventilados sobreviventes. Neste ano são adquiridos ventiladores próprios para recém-nascidos (BearCub® BP 200 e BP 2001). Consegue-se um quadro próprio para neonatologia em 1986, embora a competência nessa área só venha a ser reconhecida, primeiro no contexto das carreiras médicas, na década de 90 e posteriormente pela Ordem dos Médicos (criação da sub-especialidade em 2003). A partir da década de 90 sucedem-se os ventiladores com tecnologia cada vez mais sofisticada: com sincronização, com volume garantido, de alta frequência e, principalmente, de ventilação não invasiva.
A estruturação dos serviços de apoio perinatal, o seu apetrechamento e a implementação de um sistema de transporte medicalizado de recém-nascidos no final dos anos 80 muito contribuíram para a extraordinária melhoria dos resultados nesta área em Portugal, catapultando-nos para o grupo dos melhores.
Foi o serviço de pediatria do hospital de Santa Maria que recebeu a sede operacional do INEM-RN em Lisboa, em 1987, sob a coordenação do Doutor Lincoln Silva, posteriormente transferida para a maternidade Alfredo da Costa.
A par de todo este desenvolvimento tecnológico, começa a dar-se a maior importância à individualização dos cuidados ao recém-nascido, ao seu conforto e bem-estar, à integração da família e demais vertentes psicológicas e sociais, fundamentais ao pleno desenvolvimento das potencialidades das crianças, como é seu direito reconhecido. São integrados na equipa “neonatal” psicólogos, nutricionistas, terapeutas, técnicos do serviço social, farmacêuticos para além da própria multidisciplinaridade em diversas áreas médicas pediátricas e não pediátricas. Somos, no hospital de Santa Maria, um serviço neonatal de referência cirúrgica, neurocirúrgica, de doenças metabólicas, neurológicas e nefrológicas.
Para além de todo este intensivismo, continuamos a acolher o nascimento de recém-nascidos sem problemas de maior, área onde damos a maior ênfase a cuidados de rastreio, prevenção de doenças e acidentes e promoção da saúde no seu mais lato sentido. Preparamos a candidatura a “hospital amigo dos bebés”, manifestando deste modo a adesão incondicional à promoção do aleitamento materno, fator de saúde incontornável.
A vertente de ensino/formação nunca foi menosprezada, quer em integração com a formação pré-graduada e pós-graduada de Pediatria, quer através dos ciclos de estudos especiais, quer através da formação interna e externa de diversos técnicos de saúde.
Margarida Ejarque Albuquerque
Assistente hospitalar graduada, assistente convidada da Clínica Universitária Pediátrica
Serviço de Neonatologia
Departamento da Criança e da Família
Hospital de Santa Maria – EPE-Lisboa Norte
guida.ejarque@gmail.com
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Bibliografia:
Cardoso B, Oliveira G, Albuquerque, ME. Ventilação Assistida na UCERN desde 2000.
Sessão clínica do serviço de pediatria do HSM. 2008. np
Guerreiro, O. Unidade de Neonatologia do HSM 1973-2005. Apontamentos. Jornadas
de Neonatologia do HSM. 2005. np
Videira Amaral, JM. A Neonatologia no Mundo e em Portugal. Factos Históricos.
Angelini, 2004
