Espaço Aberto
A alimentação no recém-nascido de risco
Uma das primeiras perguntas que o Prof. Gomes-Pedro me fez, foi: “O que faz uma Terapeuta da Fala com um recém-nascido? Brinca? Fala com ele?” E nessa altura, respondi: “Ajuda o recém-nascido que tem dificuldades na alimentação.” Percebi mais tarde, com a ajuda e o conhecimento transmitido pelo Prof. Gomes-Pedro, que estávamos a falar de um dos primeiros touchpoints na vida de um bebé e que esta é uma óptima oportunidade para desenvolver a comunicação.
É assim que começa, no serviço de Pediatria, o meu trabalho de Terapeuta da Fala com recém-nascidos de risco e com pais. Nessa altura, assisto a uma aula do Prof. Gomes-Pedro e começo a observar como estabelece com a sua mestria uma relação de confiança com aqueles pais e aquele bebé. Começa por perguntar: “Como se chama o vosso bebé?” Os pais respondem “É o Tomás”. Mais à frente com um sorriso aberto, pergunta: ”Querem iniciar uma viagem na descoberta do Tomás?” É desta forma sensível e afectiva, demonstrada pelo Prof. Gomes-Pedro, que entro mais directamente em contacto com a metodologia touchpoints e que tenho vontade de a descobrir e conhecer.
Começo então a questionar o que é isto de ajudar a alimentar um recém-nascido de risco? De que estamos a falar e o que é que isso implica na vida destes pais e destes bebés? E em que momento surge na alimentação a “água do banho” que o Prof. Gomes-Pedro tanto fala de forma cativante e apaixonada?
Percebo que alimentar os filhos é uma “missão sagrada” para todos os pais. Por isso, os pais têm dúvidas e perguntam: Será que o meu bebé tem força para mamar? Não se cansa? Devemos insistir? Quando parar? É seguro?
Para os pais é importante conhecer e aprender a observar cuidadosamente a alimentação do seu filho. Um bebé mais frágil precisa de tempo para se organizar e nunca se sente completamente preparado quando lhe põem um biberão ou a mama na boca. Precisa de sentir antes umas gotas de leite nos lábios, para com a sua língua procurar e saborear o alimento que aí vem. É importante, por isso, ajudá-lo a sugar, a engolir e a respirar, para que mostre sinais de prazer e conforto quando se alimenta. Todo este processo demora tempo e é preciso aprender a conhecer os sinais que o bebé nos dá, para garantir que a alimentação seja feita de forma segura. Assim, é importante que os pais conheçam um profissional, especialista na alimentação, que os possa ajudar nesta tarefa, possibilitando o aumento de peso, o desenvolver da sucção e a alta hospitalar.
Dizia-me ainda o Prof. Gomes-Pedro: “O mais importante, como terapeuta da fala, numa unidade de recém-nascidos especiais, é transmitir a paixão onde quer que a encontre a pais e profissionais! Só assim conseguimos estabelecer uma relação de confiança, acreditando que os verdadeiros especialistas da alimentação são os pais e que o nosso trabalho é ajudá-los a perceber as suas forças e descobrir o bebé enquanto pessoa.” Começo então a olhar para o bebé como um ser único e individual, com gostos e vontades próprias. E a partir daqui como estabelecer essa paixão comunicativa, como refere o Prof. Gomes-Pedro? Observo-o nas suas aulas, mais uma vez, e começo a descobrir o que é a linguagem própria do bebé, o partilhar comportamentos e sentimentos acerca dele. Neste momento a aliança e parceria com os pais está criada.
Outra questão que os pais me fazem é: Será que alguma vez o meu bebé irá conseguir mamar na mama. “Ele desinteressa-se, fica muito cansado, é mais fácil o biberão...o que quero é que aumente de peso para podermos ir para casa...mas gostava tanto de lhe dar de mamar.”
Amamentar um bebé pode ser um grande desafio para os pais e não é uma tarefa fácil, mas, no fim, pode ser muito compensador tanto para a mãe como para o bebé. Quando a mãe leva pela primeira vez o bebé à mama, ele começa por sentir o cheiro, a temperatura e o ritmo do coração da mãe. É um ambiente que já conhece e nesse momento, confiante, lambe e procura onde está a fonte de alimento. Começa assim a estabelecer-se uma ligação afectiva, a mãe aprende a tocá-lo, a agarrá-lo, a embalá-lo, a falar-lhe e a estar em sintonia com ele. Este é um momento especial de comunicação, de interacção, de conhecimento dos ritmos um do outro e de uma adaptação mútua. Muitas vezes, estes bebés ainda estão a aprender a coordenar o sugar com o engolir e o respirar, mas o importante é criar várias oportunidades, dando tempo ao bebé e à mãe. A amamentação permite o crescimento e desenvolvimento harmonioso do bebé, preparando-o, mais tarde, para comer à colher, mastigar e só depois falar.
Para conhecer o ritmo e o padrão de sucção do bebé, é preciso primeiro conhecer quem é este bebé e quem são os seus pais. Assim, a convite do Prof. Gomes-Pedro, lançei-me na aventura da NBAS (Neonatal Behavioral Assessment Scale), para melhor compreender o bebé, as suas respostas, o seu tempo e a sua personalidade. Agradeço ao Prof. Gomes-Pedro ter-me mostrado de forma verdadeira e apaixonada como a metodologia touchpoints é fundamental no nosso trabalho com pais e crianças. Hoje esta metodologia faz parte da minha intervenção pessoal e profissional.
Joana de Sousa Rombert
Departamento da Criança e da Família do Hospital de Santa Maria
Unidade de Desenvolvimento
joanarombert@gmail.com
_____________________
Bibliografia:
1. Brazelton TB, Sparrow J. A criança e a alimentação. Lisboa: Editorial Presença 2004
2. Fucile S, Gisel EG, Lau C. Effect of an oral stimulation program on sucking skill maturation of preterm infants. Dev Med Child Neurol 2005; 47:158-162.
3. Lester, B, Sparrow J. Nurturing Children and Famalies: Building on the legacy of T. Berry Brazelton. New Jersey: John Wiley & Sons 2010
4. Nugent JK, Petrauskas B, Brazelton TB. The Newborn as a Person: Enabling Healthy Infant Development Worldwide. New Jersey: John Wiley & Sons 2009
É assim que começa, no serviço de Pediatria, o meu trabalho de Terapeuta da Fala com recém-nascidos de risco e com pais. Nessa altura, assisto a uma aula do Prof. Gomes-Pedro e começo a observar como estabelece com a sua mestria uma relação de confiança com aqueles pais e aquele bebé. Começa por perguntar: “Como se chama o vosso bebé?” Os pais respondem “É o Tomás”. Mais à frente com um sorriso aberto, pergunta: ”Querem iniciar uma viagem na descoberta do Tomás?” É desta forma sensível e afectiva, demonstrada pelo Prof. Gomes-Pedro, que entro mais directamente em contacto com a metodologia touchpoints e que tenho vontade de a descobrir e conhecer.
Começo então a questionar o que é isto de ajudar a alimentar um recém-nascido de risco? De que estamos a falar e o que é que isso implica na vida destes pais e destes bebés? E em que momento surge na alimentação a “água do banho” que o Prof. Gomes-Pedro tanto fala de forma cativante e apaixonada?
Percebo que alimentar os filhos é uma “missão sagrada” para todos os pais. Por isso, os pais têm dúvidas e perguntam: Será que o meu bebé tem força para mamar? Não se cansa? Devemos insistir? Quando parar? É seguro?
Para os pais é importante conhecer e aprender a observar cuidadosamente a alimentação do seu filho. Um bebé mais frágil precisa de tempo para se organizar e nunca se sente completamente preparado quando lhe põem um biberão ou a mama na boca. Precisa de sentir antes umas gotas de leite nos lábios, para com a sua língua procurar e saborear o alimento que aí vem. É importante, por isso, ajudá-lo a sugar, a engolir e a respirar, para que mostre sinais de prazer e conforto quando se alimenta. Todo este processo demora tempo e é preciso aprender a conhecer os sinais que o bebé nos dá, para garantir que a alimentação seja feita de forma segura. Assim, é importante que os pais conheçam um profissional, especialista na alimentação, que os possa ajudar nesta tarefa, possibilitando o aumento de peso, o desenvolver da sucção e a alta hospitalar.
Dizia-me ainda o Prof. Gomes-Pedro: “O mais importante, como terapeuta da fala, numa unidade de recém-nascidos especiais, é transmitir a paixão onde quer que a encontre a pais e profissionais! Só assim conseguimos estabelecer uma relação de confiança, acreditando que os verdadeiros especialistas da alimentação são os pais e que o nosso trabalho é ajudá-los a perceber as suas forças e descobrir o bebé enquanto pessoa.” Começo então a olhar para o bebé como um ser único e individual, com gostos e vontades próprias. E a partir daqui como estabelecer essa paixão comunicativa, como refere o Prof. Gomes-Pedro? Observo-o nas suas aulas, mais uma vez, e começo a descobrir o que é a linguagem própria do bebé, o partilhar comportamentos e sentimentos acerca dele. Neste momento a aliança e parceria com os pais está criada.
Outra questão que os pais me fazem é: Será que alguma vez o meu bebé irá conseguir mamar na mama. “Ele desinteressa-se, fica muito cansado, é mais fácil o biberão...o que quero é que aumente de peso para podermos ir para casa...mas gostava tanto de lhe dar de mamar.”
Amamentar um bebé pode ser um grande desafio para os pais e não é uma tarefa fácil, mas, no fim, pode ser muito compensador tanto para a mãe como para o bebé. Quando a mãe leva pela primeira vez o bebé à mama, ele começa por sentir o cheiro, a temperatura e o ritmo do coração da mãe. É um ambiente que já conhece e nesse momento, confiante, lambe e procura onde está a fonte de alimento. Começa assim a estabelecer-se uma ligação afectiva, a mãe aprende a tocá-lo, a agarrá-lo, a embalá-lo, a falar-lhe e a estar em sintonia com ele. Este é um momento especial de comunicação, de interacção, de conhecimento dos ritmos um do outro e de uma adaptação mútua. Muitas vezes, estes bebés ainda estão a aprender a coordenar o sugar com o engolir e o respirar, mas o importante é criar várias oportunidades, dando tempo ao bebé e à mãe. A amamentação permite o crescimento e desenvolvimento harmonioso do bebé, preparando-o, mais tarde, para comer à colher, mastigar e só depois falar.
Para conhecer o ritmo e o padrão de sucção do bebé, é preciso primeiro conhecer quem é este bebé e quem são os seus pais. Assim, a convite do Prof. Gomes-Pedro, lançei-me na aventura da NBAS (Neonatal Behavioral Assessment Scale), para melhor compreender o bebé, as suas respostas, o seu tempo e a sua personalidade. Agradeço ao Prof. Gomes-Pedro ter-me mostrado de forma verdadeira e apaixonada como a metodologia touchpoints é fundamental no nosso trabalho com pais e crianças. Hoje esta metodologia faz parte da minha intervenção pessoal e profissional.
Joana de Sousa Rombert
Departamento da Criança e da Família do Hospital de Santa Maria
Unidade de Desenvolvimento
joanarombert@gmail.com
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Bibliografia:
1. Brazelton TB, Sparrow J. A criança e a alimentação. Lisboa: Editorial Presença 2004
2. Fucile S, Gisel EG, Lau C. Effect of an oral stimulation program on sucking skill maturation of preterm infants. Dev Med Child Neurol 2005; 47:158-162.
3. Lester, B, Sparrow J. Nurturing Children and Famalies: Building on the legacy of T. Berry Brazelton. New Jersey: John Wiley & Sons 2010
4. Nugent JK, Petrauskas B, Brazelton TB. The Newborn as a Person: Enabling Healthy Infant Development Worldwide. New Jersey: John Wiley & Sons 2009
