Reportagem / Perfil
Entrevista Hortênsia Sequeira - Técnica de Diagnóstico e Terapêutica C. U. Dermatologia
As Funções do Técnico de Diagnóstico e Terapêutica na Dermatologia são basicamente todas as do conteúdo funcional para a Patologia Clínica (área da Microbiologia. No entanto, tratando-se duma área de carácter muito especifico exige um longo periodo de formação teórica e prática.
O Laboratório de Micologia da Clínica Dermatológica do Serviço de Dermatologia foi criado há cerca de cinquenta anos, pelo Prof. Juvenal Esteves, então Director de serviço, com o objectivo de promover a assistência clínica e laboratorial, bem como a investigação cientifica no âmbito da Micologia Médica.
Actualmente o laboratório recebe por ano cerca de 2000 amostras, provenientes na sua grande maioria da Consulta de Dermatologia, bem como de diversos Serviços do Centro Hospitalar Lisboa Norte e de outros Centros Hospitalares de diversas regiões do país.
As infecções fúngicas são, no âmbito das doenças infecciosas cutâneas, as mais frequentes na prática clínica Dermatológica. As dermatofitias ou tinhas, são infecções superficiais causadas por dermatófitos. Uma das funções especificas do técnico para esta área é efectuar colheitas de pele glabra, unhas e cabelos, para efectuar exame directo e respectivas culturas em diversos meios permitindo assim confirmar o diagnóstico. As micoses subcutâneas e profundas são menos frequentes; nalgumas o fungo infectante é cosmopolita, noutras o agente causal é de importação. Em regra o estudo micológico – exame directo e culturas em vários meios e temperaturas- é efectuado a partir de biópsias, crostas e outros produtos biológicos.
Os esporos fungícos estão presentes no meio ambiente e em grande número de vários substractos, sendo por isso uma possível fonte de contágio sobretudo em doentes em imunosupressão. Cabe ao técnico fazer colheitas para pesquisa de fungos em material inerte: terra, areia de praia, várias superficies tais como paredes, ralos de duche, em alimentos, farinhas, sumos condimentos, etc. Para além das funções técnicas de carácter assistencial, tem acrescido às minhas funções como técnica deste laboratório de uma clínica universitária, colaborar em actividades de formador em estágios de Micologia destinados a outros T.D.T., de outros Hospitais, ou em estágios destinados a internos de Dermatologia deste serviço e de outros serviços de Dermatologia do Pais. Ultimamente também tem sido solicitada formação a Patologistas Clinicos de vários Hospitais.
Tem sido ainda solicitada a minha colaboração em aulas teórico-práticas da cadeira de Dermatologia, bem como na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Esta Clínica, com o patrocínio da Sociedade Portuguesa de Dermatologia, tem organizado cursos de Micologia Médica, nos quais fui monitora numa fase inicial, actualmente a experiência adquirida ao longo da minha carreira permitiu-me ter a responsabilidade de programação, preparação de aulas práticas e docência.
O trabalho desenvolvido ao longo dos anos, em que se destaca trabalhos de epidemiologia, prospecção e de endemias dermátofiticas, integrados no âmbito da Saúde Pública, conduziram a apresentação de várias comunicações orais, posters em congressos e outras reuniões cientificas em Portugal e no Estrangeiro. A maioria destes trabalhos encontram-se publicados
em co-autoria ou como única autora em várias revistas de micologia nacionais e internacionais.
Para além das funções referidas também compete ao técnico deste laboratório elaborar a estatística mensal e anual.
Quais os Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica que são realizados no Laboratório de Micologia da Clínica Universitária de Dermatologia?
1- Montagem, observação ao microscópico e interpretação dos respectivos resultados no contexto clinicodos dos vários produtos biológicos.
2- Sementeiras para obtenção de primoculturas em meios de cultura selectivos;
3- Subculturas em meios quimicamente defenidos para obtenção de orgãos de frutificação de género e espécie, permitindo assim a classificação de diversos fungos isolados.
4- Estudo de leveduras lipofilicas
5- Técnica de Cultura em Lâmina
6- Pesquisa de tubos germinativos
7- Auxanograma do carbono – método clássico
Auxacolor®- micrométodo
8- Susceptibilidade “in vitro”: método de difusão em disco.
E Test. de vários antifungicos.
9- Pesquisa de antigénio de Cryptococus neoformans:
No liquor, soro, urina e L.B.A.-Elisa.
Pautei a minha vida profissional por uma entrega que desde cedo me estimulou e despertou para a necessidade de aprendizagem contínua, que só foi possível realizar pelo incondicional apoio e estimulo de todos os directores com tive o privilégio de trabalhar.
Iniciei Funções no Laboratorio de Micologia da Clínica Universitária de Dermatologia como preparadora. Sob orientação da Dra. Júlia Cabrita Investigadora Principal da Faculdade de Medicina de Lisboa, de quem recebi toda a formação baseada na evidencia cientifica, no rigor de informação e de métodos.
Em Fevereiro de 1981 através do Núcleo de Formação do Intituto Português de Oncologia Dr. Francisco Gentil foi-me proposto frequentar o Curso De Técnico de Análises Clinicas da Escola Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge. Este curso revelou-se de grande importância porque lhe aumentou e consolidou os conhecimentos técnicos de âmbito geral e lhe permitiu o ingresso na Carreira Técnica.
Uma vez que a minha actividade tem sido exclusivamente desenvolvida no âmbito da Micologia Médica e que a experiência que adquiri ao longo dos anos, me permitiram executar tarefas com maior grau de complexidade e responsabilidade, sob proposta da Dra. Júlia Cabrita e com o apoio do Prof. Guerra Rodrigo então director de Seviço foi aceite em Março de 1989 a titulo excepcional ( o curso era destinado a licenciados) para frequentar o “ Cours de Specialization en Mycologie Medical et Veterinaire” do Institut de Medecine Tropicale Prince Leopold. Autuerpia – Bélgica. Curso concluído em Junho do mesmo ano, após ter elaborado um trabalho de pesquisa pessoal de tema original referente a “Trichophyton Rosaceum” -Monografia foi cassificada em primeiro lugar, entre trinta candidatos de vários países. A partir desta data anualmente efectua estágios de actualização e aferição de conhecimentos no referido laboratório.
A fim de me candidatar ao Concurso de acesso à categoria de Técnica Especialista de 1ª Classe de Análises Clínicas e Saúde Pública da carreira de Técnico de Diagnóstico e terapêutica, elaborei uma monografia intitulada” Candidiase Vaginal. Diagnóstico Laboratorial/ Testes de suscptibilidade”.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica de 1/10/1984 a 12/10/84, sob a orientação do Professor Charles De Vroey. Este estágio teve por objectivo a actualização de conhecimentos no âmbito de Micologia Médica. Tive a oportunidade de tomar contacto com técnicas de determinação da sexualidade dos dermatófitos usados pelo Doutor Takashio. Foram-me oferecidas estirpes de polaridade (+) e (-) de Arthroderma simii, e todo o material indispensável para a execução desta técnica. A permanência em Antuérpia foi suportada pela Janssen Farmacêutica, permaneci um dia no Departamento de Microbiologia chefiado pelo Doutor Van Cutsen onde assisti à execução de técnicas que permitem obter doença experimental em animais, tendo em vista ensaios terapêuticos.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 01/03/1989 a 01/07/1989, sob a orientação do Professor Charles De Vroey. Este estágio realizou-se enquanto seguia o curso de especialização Micologia Médica e nele foi-me permitido participar activamente em todo o trabalho de rotina – Diagnóstico de micoses superficiais. Elaborei um trabalho de pesquisa pessoal referente a “ TRICOPHYTON ROSACEUM” – Monografia. Aprendeu: 1 – Técnicas de susceptibilidade “in vitro” – Método de difusão em meio de Casitone; 2 – Técnica Imunológica de pesquisa de antigénio de C. neoformans no liquor, urina, L.B.A; soro. Método ELISA.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 02/10/1989 a 13/10/1989 sob a orientação do Professor Charles De Vroey. Este estágio teve por objectivo actualizar e consolidar os conhecimentos adquiridos anteriormente em Micologia Médica, e ainda, colher pormenores das “TÉCNICAS DE SUSCEPTIBILIDADE IN VITRO” e da “PESQUISA DE ANTIGÉNIO DE C. NEOFORMANS” e de todo o material necessário para serem postas em prática no laboratório onde trabalho. Estas técnicas, por serem inexistentes no nosso País, revelaram-se, serem de grande utilidade no apoio à clínica, orientando e monitorizando a terapêutica. Constituem actualmente rotina na maioria dos laboratórios de Micologia e Microbiologia.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 15/04/1997 a 19/04/1997, sob a orientação directa da Professora Danielle Swinne. Este estágio teve por objectivo actualizar e consolidar conhecimentos. Assim, verificou que as técnicas de susceptibilidade aprendidas em estágios anteriores, tinham como novidade um micro-método “Fungitest”®. O mesmo fabricante dispunha de uma técnica para identificar de forma mais rápida, as leveduras com importância em patologia humana, “AUXACOLOR”®. Foram realizados estudos comparados de ambos os métodos clássicos, constituindo actualmente rotina laboratorial, e os resultados obtidos foram comunicados em reuniões científicas.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 16/03/1998 a 21/03/1998, sob a orientação directa da Professora Danielle Swinne. Neste estágio foi-me permitido acompanhar todo o trabalho realizado nesse período, confirmar a identificação de alguns fungos raros entre nós, que tive a oportunidade de isolar e classificar. Actualizei conhecimentos anteriormente adquiridos. Foi-me igualmente permitido assistir a uma conferência sobre “Mucorales”, proferida pela Professora Danielle Swinne, onde pode tomar conhecimento do facto, de que alguns fungos, habitualmente saprófitas, estarem a tomar peso significativo em Patologia Humana e o de serem resistentes à maioria dos antifúngicos.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 22/04/2002 a 25/04/2002, sob a orientação directa da Professora Danielle Swinne. Neste estágio foi-me permitido observar/manipular fungos raros que fazem parte da colecção do mesmo Instituto. Tive ainda a oportunidade de assistir a aula do curso que frequentou sobre “Actualização da terapêutica da tinha do couro cabeludo” proferida pela Professora Danielle Swinne.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 26/03/2003 a 28/03/2003, sob a orientação directa da Professora Danielle Swinne. Neste estágio foi-me permitido reactualizar os meus conhecimentos nas várias áreas da Micologia Médica
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 03/05/2004 a 07/05/2004, sob a orientação directa da Professora Danielle Swinne.Neste estágio foi-me permitido aprender duas novas técnicas, acompanhar a rotina do Laboratório e ainda assistir a uma conferência sobre “Micetomas” proferida pela Prof. Danielle Swinne.
Estágio no Laboratório de Micologia do Instituto de Medicina Tropical – Antuérpia, Bélgica, de 12/09/2005 a 16/09/2005, sob a orientação directa da Professora Danielle Swinne.Efectuei estágio de actualização a convite da Prof. Danielle Swinne e sob orientação directa da Dra. Marjan Van Esbroeck. Neste estágio privilegiei a minha actualização de conhecimentos na área de Higiene e Segurança no Trabalho.
A formação foi-se diferenciando com a frequência de estágios e cursos laboratoriais realizados em Portugal e no estrangeiro e, no decurso do tempo, com a participação em trabalhos de investigação micológica, leccionação de aulas e orientação de estagiários no Laboratório de Micologia, com a apresentação de trabalhos científicos em Congressos e outras reuniões nacionais e internacionais, e publicação de trabalhos em revistas nacionais e internacionais.
A Técnica Hortênsia Sequeira é ainda membro das seguintes sociedades científicas:
Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia.
Grupo de Micologia da Sociedade Portuguesa de Dermatologia.
Societé Belge de Mycologie Humaine et Animale.
International Society for Humans and Animal Mycology – ISHAM.
Hortênsia Sequeira
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