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Doutoramentos em Biomedicina e Ciências da Saúde na Europa

Quando comecei a trabalhar no Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Julho de 2009, como responsável pelo Programa de Doutoramento do IMM, procurei projectos semelhantes na Europa e nos Estados Unidos e foi assim que descobri a ORPHEUS. A ORPHEUS (Organisation for PhD Education in Biomedicine and Health Sciences in the European System) é uma associação que visa promover a harmonização dos programas de doutoramento em biomedicina e nas ciências da saúde, dar apoio aos seus membros e fomentar a cooperação, o intercâmbio e a mobilidade entre instituições europeias. Além disso, a ORPHEUS tem por fim representar o ensino superior e a investigação em biomedicina e nas ciências da saúde, e influenciar as políticas públicas ao nível nacional, europeu e internacional.
Esta organização pareceu-me extremamente interessante, o que me levou a inscrever-me na sua conferência anual. Desde 2004, que a ORPHEUS organiza conferências regularmente. A sua quinta conferência (em que participei) realizou-se este ano em Viena, entre 8 e 10 de Abril, e foi subordinada ao tema "O avanço dos programas doutorais europeus em biomedicina e ciências da saúde através do intercâmbio cooperativo". O simpósio reuniu 196 participantes, que representavam 114 instituições de 39 países. Foi extremamente útil ouvir as experiências de outros países e instituições, bem como foi reconfortante ver que, apesar de sermos diferentes, temos muitos dos mesmos problemas e trabalhamos para um mesmo objectivo – uma educação de excelência para os nossos alunos de doutoramento.
Os tópicos debatidos neste quinto encontro giraram à volta do desenvolvimento da cooperação e do intercâmbio a nível internacional, de forma a promover a mobilidade entre estudantes de doutoramento e pessoal académico, e de aumentar a competitividade dos programas doutorais na Europa. É com este fim que existem os programas internacionais de doutoramento; dessa forma, uma das conclusões do encontro de Viena foi o apoio a programas colaborativos de doutoramento, estabelecidos com base na colaboração já existente na investigação. No entanto, houve um consenso entre a assembleia da conferência, de que todas as instituições devem permitir e estimular os seus estudantes de doutoramento a passar algum tempo em instituições estrangeiras.
A conferência estava organizada por paineis específicos e, no último dia, os participantes foram divididos em pequenos grupos de trabalho (de acordo com as suas áreas de preferência) para identificarem problemas e possíveis soluções. A sessão final foi a discussão, com todos os participantes, de um rascunho para um artigo de opinião que está a ser finalizado e deverá em breve estar disponível.
Este artigo recomenda que as instituições adoptem critérios comparáveis (ver abaixo) de modo a facilitar a cooperação entre as Instituições Biomédicas e de Ciências da Saúde na Europa, um espaço multicultural. Foi também reconhecida a necessidade de estipular métodos que permitam, tanto ao estudante como à instituição (ou instituições) de acolhimento, creditar o trabalho levado a cabo na(s) mesma(s). Embora o sistema convencional de ECTS possa facilmente aplicar-se a cursos, é menos apropriado para a quantificação de trabalho de investigação.
Outras recomendações saídas da 5ª conferência da ORPHEUS incluíram o encorajamento à redacção de uma minuta como base para boas práticas de trabalho entre os sistemas de ensino e as empresas; o estímulo à implementação de medidas que facilitem o regresso de jovens investigadores aos seus países-natal; e, também, o envolvimento de sociedades científicas no estabelecimento de redes para encorajar programas internacionais.
A ORPHEUS produziu vários documentos com recomendações quanto à organização e harmonização de programas de doutoramento. Resumidamente estes documentos afirmam que:
- Os programas de doutoramento se destinam a permitir a indivíduos que levem a cabo uma investigação independente, original e cientificamente relevante, e que avaliem criticamente o trabalho feito por outros.
- Os painéis de avaliação de teses de doutoramento devem ser competentes e independentes dos candidatos ou supervisores das teses – daí que seja encorajada a inclusão nos painéis de membros provenientes de outras universidades e países.
- Uma tese de doutoramento deve basear-se em publicações originais in extenso em revistas médico-científicas, na qual o contributo independente do candidato deve ser claramente demonstrado.
- Embora o cerne de um programa de doutoramento deva ser a tese e a publicação de artigos científicos, deve também ser incluída uma parte curricular, que não deve ocupar mais de 20% da carga de trabalho do candidato.
- Todas as universidades devem divulgar publicamente os seus programas de doutoramento (em inglês).
- O desenvolvimento de programas de doutoramento bem concebidos e de elevada qualidade requer um apoio substancial das faculdades de medicina, dos governos nacionais, da Comissão Europeia, ou de patrocinadores privados e outras instituições, de forma a envolver os melhores estudantes de medicina na investigação científica.
- Os candidatos ao doutoramento podem ser estudantes a tempo inteiro ou em part-time. Sobretudo em medicina, é de esperar que a maior parte dos candidatos sejam estudantes em part-time.
- De acordo com as elevadas exigências de uma tese de doutoramento, nenhuma universidade deve inscrever um número de estudantes de doutoramento superior àquele a que pode fornecer serviços adequados.
- Recomenda-se às autoridades nacionais e internacionais a criação de fundos específicos que ajudariam especificamente à mobilidade e à cooperação nestes programas de doutoramento.
O recentemente proposto programa de doutoramento do Centro Académico de Medicina de Lisboa segue estas recomendações e tem uma estrutura curricular muito flexível, que permite acomodar candidatos em variados regimes de trabalho.
Mais informação disponível em http://www.orpheus-med.org/
Inês Crisóstomo, Unidade de Comunicação e Formação, Instituto de Medicina Molecular (IMM)
21 799 94 11 (# 47022)
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