Prática, determinada e simpática, estas são as características que saltam à vista quando conhecemos Maria Sykes de 18 anos e agora aluna da FMUL. Aos poucos começamos a conhecer as diversas camadas desta jovem de sorriso rasgado e olhos que acompanham esse movimento. É calma a falar, mas com um sentido muito objetivo, claro, do caminho a seguir. Na verdade, sai do estereótipo da boa aluna. Ela garante ser tímida, mas não se nota. É faladora, pelo menos quando lhe fazemos perguntas. Facilmente conta como foi a infância, a adolescência e até nos abre a porta de casa ao partilhar alguns momentos em família. É filha única, vive na zona de Lisboa e as ciências sempre estiveram presentes, mas nem sempre de forma consciente, porque não era certa que fariam parte do caminho profissional. Curiosa, sentia-se atraída por coisas peculiares. Sempre descobriu algum tipo de interesse nas áreas com que se foi deparando. “Consigo sempre descobrir algo que me parece digno de interesse e é esse gosto que me faz prosseguir.” Foi assim quando foi se inscrever no Cambridge, que frequentou durante 4 anos, até chegar ao grau de “proficiente”, foi assim quando teve aulas de piano e foi assim também quando aos 5 anos, incentivada pelo pai, “decidiu” experimentar uma arte marcial.
A verdade é que foi sempre boa em quase tudo, se não em tudo, e o taekwondo, o desporto que
escolheu, não foi exceção. Participou durante anos em competições, chegando a fazer parte da Seleção Nacional. Atualmente é 3º Dan, mas pratica apenas por lazer. “Sempre gostei de estar ocupada, de ter muitas tarefas para fazer, mas quando fui para o secundário, tive de abdicar de algumas e o desporto de competição foi uma delas.” As aulas de piano também passaram para segundo plano, mas sabe tocar.
Memórias
Ler sempre foi uma paixão e aos 5 anos já gostava de entrar na biblioteca lá em casa e procurar palavras estranhas nos livros que estavam dispostos nas prateleiras. O desafio era compreender o seu significado. Nas várias estantes, muitos livros foram folheados pelas, ainda pequenas, mãos da Maria e os pais ainda contam que havia um livro em particular que captava a sua atenção; “Era um ABC da saúde onde eu li “fratura cominutiva” e depois perguntava às pessoas se sabiam o que era.” Talvez a mãe soubesse, uma vez que é médica dentista, mas mais do que qualquer outra coisa, aquilo já apontava para algo especial. “Os meus pais deixaram-me seguir o meu caminho porque sabiam que eu tinha tudo controlado. Sempre soube fazer a gestão do meu tempo e do que quero.”
Sempre foi boa aluna e acredita que isso se deve ao método de estudo que tem. Com muitas atividades, acaba por ter tudo muito organizado não resvalando, porque o tempo é contado ao minuto. Não há desperdício!
“A escola esteve sempre num lugar central na minha vida,” mas, “diziam que eu participava pouco nas aulas, que era mais reservada” e era isto que a fazia questionar-se se queria ser médica. “A relação com os doentes, estar numa sala a receber tantas pessoas todos os dias, faziam-me questionar se era realmente isso que eu queria. A medicina parecia-me inatingível”.
Foi por isso que a química, a determinada altura, lhe pareceu aliciante. “Sim, tive outros interesses antes de me decidir pelo MIM e a química foi uma deles. Por ser uma área muito desafiante,” afirma.
Diz que não é de afetos, mas houve um episódio de dimensão humana que foi revelador: “fiz parte de vários projetos de voluntariado através da Pressley Ridge e um deles consistia em acompanhar crianças carenciadas no Bairro da Cova da Moura. Quando as aulas acabaram despedi-me e a forma como as crianças reagiram fez-me questionar se não faria sentido escolher uma profissão mais próxima das pessoas, que fizesse diferença nas suas vidas.” A forma sentida, calorosa e curiosa com que as crianças se despediram dela foi uma espécie de epifania que ajudou a definir a sua escolha.
Estudou no Colégio Mira Rio em Telheiras que oferece aos alunos do 11º e 12º ano o IB Diploma Programme, onde não há avaliação contínua e os alunos têm de fazer a gestão da sua aprendizagem sem os exames. Isso cria mais pressão e a expectativa é maior. Por isso diz que ter 20 de média, “foi uma agradável surpresa”, esclarecendo que tenta sempre ser contida, porque se o resultado não for excelente, as expectativas não são defraudadas, mas se as mesmas forem superadas, como aconteceu, então sim é uma agradável surpresa.
Quando viu as suas notas percebeu que podia estudar o que quisesse onde quisesse. Medicina já não era “inatingível” e como o espírito de missão começou a desenvolver-se acabou por escolher fazer o MIM. A escolha de o fazer na FMUL aconteceu por “ter boas referências, boa imagem e por recomendação do meu oftalmologista com quem fui falando sobre esta possibilidade”, acrescenta.
Maria Sykes, 18 anos, foi a melhor aluna do país. Entrou com média de 20 o que significa que não podia ser melhor. Já há algumas ideias, ainda que muito de início. A área cirúrgica atrai muito a rapariga de cabelo curto, ligeiramente ondulado, porque sempre gostou de lidar com objetos pequenos e construir coisas. Recorda o kit de silicone para fazer suturas que os pais lhe deram e que até hoje não esquece. Trabalhos minuciosos, que exijam foco, concentração são muito apetecíveis.
Claro que em 6 anos vai ter oportunidade de descobrir muitas coisas que a poderão levar a enveredar por outro caminho, ainda assim, medicina será a sua base de formação. Se vai fazer investigação ou receber doentes num hospital ou num consultório a verdade é que vai salvar vidas.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial
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