Ouve-se o burburinho do lado de lá da porta de madeira do Auditório Sylvio Rebelo Alves. Há muitas dúvidas e hoje é o dia de as esclarecer. Fomos conhecer melhor o projeto Solvin’it, um caso de sucesso da sinergia entre o Gabinete de Apoio ao Estudante e a Associação de Estudantes da FMUL.
Assim que as portas abrem, 140 estudantes avançam e preenchem as cadeiras antigas dispostas em semicírculos, em torno de uma mesa de madeira maciça.
O quadro de ardósia negro também lá está, mas foi substituído por uma tela de projeção e no lugar do professor estão três estudantes dos 2.º e 3.º anos do Mestrado Integrado em Medicina. São monitores de Anatomia, do projeto Solvin’it, um caso de sucesso de peer-teaching, iniciado pela Associação de Estudantes da FMUL e que foi integrado no Gabinete de Apoio ao Estudante em 2018, funcionado em co-coordenação.
Começou em 2015 com 330 estudantes e desde então tem vindo a ganhar dimensão, tendo o ano letivo passado ultrapassado as 3600 participações.
“Uma segunda volta”
Até dezembro, estão agendadas seis sessões, dedicadas à Anatomia, Bioquímica, Fisiologia, Microbiologia, Neuroanatomia, Infecciologia e Patologia, os tais “cadeirões” de que nos fala Carolina Ciborro.
Tem 18 anos e à saída da primeira sessão confessa que “foi útil porque a linguagem é muito mais descontraída e parecida à que usamos no dia a dia”. E aqui “percebemos as noções básicas, os conceitos que são essenciais”.
Ao seu lado está Catarina Paixão, também estudante do primeiro ano. “Anatomia é quase uma nova linguagem e não temos o vocabulário suficiente para perceber tudo tão claramente nas aulas. Isto é como uma segunda volta e estou muito mais esclarecida.”
Estudantes a ensinar estudantes
O ambiente é informal e não tarda as perguntas começam a ouvir-se, como pipocas a rebentar, à medida que a matéria é exposta pelos colegas mais velhos. Talvez seja este o segredo do sucesso destas aulas.
David Alves Berhanu está a concluir o internato de neurorradiologia no Hospital de Santa Maria, mas neste momento encontra-se na Universidade de Oxford, no Reino Unido, para um fellowship.
Estava na direção da Associação de Estudantes quando o Solvin-it apareceu e, por isso, pode acompanhar de perto os primeiros passos deste projeto. “Lembro-me sobretudo de ser um grupo de alunos entusiasmados. Sentíamos uma proximidade maior com os alunos do ano anterior e alguma facilidade em conseguir explicar partes complexas da matéria e antecipar as dúvidas deles, porque tinham sido as nossas próprias dúvidas no ano anterior”.
Diana é monitora de Anatomia e partilha o microfone com o colega Diogo. «Um mês antes já estamos a preparar os materiais», revela esta estudante do segundo ano de MIM, que ajuda os novos estudantes a visualizar a matéria e a resolver o nó que os impede de compreender e avançar.
Os monitores continuam a ser estudantes, mas «é tudo uma questão de organizar o nosso tempo». O Diogo sabe que tinha de ter tudo na ponta da língua, por isso, tirou este dia para se preparar. «É giro, repete, explicando que acabam por fazer o mesmo nas aulas práticas, quando estão com o assistente. E «não há melhor forma de rever a matéria do que ensinar», remata Diana
A tecnologia na ponta dos dedos
Mas este processo não se limita à preparação dos slides das sessões. Tudo começa com a reunião de preparação da Comissão Organizadora do Solvin’it, com os tutores e monitores, neste caso, com o Professor João Pedro Nóbrega, de Anatomia, para se decidir o que era importante dar nestas aulas.
Depois há uma revisão/validação dos materiais por parte dos docentes, aqui Tutores. Só quando as aulas teóricas começam é que, paralelamente, os estudantes podem assistir a estas sessões Solvin’it, que explicam a matéria de forma completamente distinta.” Temos uma forma de falar mais próxima da deles”, explica Diogo Relveiro.
Já cá fora, fazem questão de reforçar que estas sessões não são para substituir as aulas teóricas, são sim complementares.
"O Solvin' it é um reforço do processo de aprendizagem através de um exercício mais livre e refletido de dúvida e questionamento do que o que é possível numa aula teórica”, confirma o Professor Miguel Castanho, regente da cadeira de Bioquímica. Deve decorrer em simultâneo, como reforço da aula teórica e “não pode ser encarado como uma substituição das aulas",
Com a tecnologia na ponta dos dedos, esta nova geração acaba a sessão acaba com um QR Code projetado no quadro, através do qual os estudantes avaliam os monitores, descarregam a apresentação e uma ficha de estudo, que condensa os principais pontos.
Margarida Leal
Equipa Editorial