“O Elefante acorrentado” é um dos contos do Livro “Deixa-me que te conte” (2010), de Jorge Bucay, médico psiquiatra e psicoterapeuta. Tal como Bucay, quisemos utilizar esta história para instigar a reflexão sobre aspetos essenciais ao bem-estar pessoal e profissional, nomeadamente, a importância do autoconhecimento e a construção e comunicação de uma marca pessoal/profissional coesa e autêntica.
Como em muitos contos, poderíamos começar com um “Era uma vez”…
Era uma vez um elefante que cresceu amarrado a uma estaca. Enquanto pequeno, lutou, tentando em vão libertar-se das amarras que o prendiam. À medida que o tempo foi passando, desistiu de lutar. Aceitou a realidade.
O que poderia explicar este desfecho? Como poderia o Elefante, grande e forte, se ter deixado ficar, quando lhe prendiam ténues amarras, que certamente sucumbiriam à força então adquirida?
Poder-se-ia falar de um desânimo aprendido, ou até mesmo de um desconhecimento acerca das suas forças, que lhe permitiriam adaptar à envolvente e redefinir o seu caminho.
Muitas vezes somos qual elefante num mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), em que o desconhecimento de nós e dos nossos recursos, bem como a falta de investimento no desenvolvimento destes, acaba por se repercutir nas escolhas, na nossa autenticidade, bem-estar e até na forma como nos apresentamos aos outros no contexto das relações pessoais e/ou profissionais.
Para se adaptar à envolvente, e construir o SEU caminho, teria sido uma mais-valia a este “elefante” dispor de um recurso fundamental - capital psicológico positivo. O capital psicológico é o estado psicológico de desenvolvimento positivo no qual o indivíduo se carateriza por: 1) uma elevada confiança (eficácia) para despender o esforço necessário para suceder em tarefas desafiantes; 2) fazer atribuições positivas (otimismo) acerca do poder ser bem-sucedido no futuro; 3) perseverar relativamente ao objetivo, não obstante os obstáculos, redirecionando o caminho para lá chegar (esperança), 4) bem como mostrar a capacidade de recuperar face à adversidade - resiliência (Luthans et al., 2007)[1].
Percebemos a importância deste capital psicológico e a urgência da aposta no desenvolvimento destes recursos. Vários estudos têm mostrado a sua relevância ao nível do bem-estar psicológico, na capacidade de gestão de stress, no engagement, no desempenho profissional, nos relacionamentos interpessoais positivos, na satisfação laboral e com a vida (…) (Avey, Reichard, Luthans, & Mhatre, 2011; Luthans & Youssef, 2017).
Promover este capital psicológico implica investir no autoconhecimento - “quem sou e em que pessoa me estou a transformar”, “de onde vim e para onde vou?”, “porque vou?”, “como vou?”, “quando vou?” - consciente que experiências passadas não têm que ser limitadoras das escolhas e dos caminhos a percorrer. Requer ainda conhecer e analisar as próprias potencialidades e limitações a diferentes níveis; abertura e disponibilidade para o desenvolvimento pessoal contínuo, bem como praticar a autenticidade no dia a dia.
Marca pessoal e profissional: construção e comunicação
Para melhor entendermos a importância da marca pessoal, pedimos que faça o seguinte exercício:
Pense em alguém que admira - pode ser do seu círculo de amizades ou da faculdade. Com essa pessoa em mente, tente responder às seguintes questões: O que mais admira nela? Qual é o seu estilo de trabalho? Quais são os seus principais valores? (…)
Certamente a pessoa na qual pensou, deixou uma impressão em si – a sua marca pessoal. Todos temos uma marca pessoal percebida.
Quando falamos de marca pessoal, incluímos aspetos como a forma como a pessoa se apresenta, comunica, as suas atitudes e comportamentos, valores, competências, personalidade, imagem pessoal e ainda a reputação digital.
Por isso, antes de avançamos, lançamos as seguintes perguntas:
Qual é a sua marca pessoal percebida? Como é que o veem enquanto estudante / futuro profissional? Estão a vê-lo da forma como pretende?
Estas questões, que colocam a ênfase no conhecimento que tem sobre si, permitem abrir espaços para que possa fortalecer esta sua marca pessoal e profissional e comunicá-la de forma autêntica e coerente.
A construção da sua marca é um processo que vai sendo feito desde cedo, e que requer cuidado, uma vez que facilmente pode ser impactada de forma negativa nos diferentes contextos em que nos movemos, incluindo no mundo digital.
Deixamos constantemente uma impressão “digital”, através das nossas partilhas, comentários e interações, pelo que as redes sociais podem funcionar tanto como um aliado ou como um adversário. Não é por isso de estranhar que, muito frequentemente, os recrutadores recorram à internet para fazer um online profile check do candidato, analisando o mesmo em 3 dimensões – identidade (quem é), comportamento (o que faz e o que diz), referências (a quem está ligado e o que os outros dizem de si).
Considerando a importância e o impacto da “impressão digital” na nossa marca pessoal, alertamos para alguns cuidados a ter:
PASSO 1 – REFLITA SOBRE AS QUESTÕES
- “No meu papel enquanto estudante / profissional como quero ser reconhecido? O que me guia?”
- “Como é que me veem enquanto estudante / profissional (…)?”
- “Existirá congruência e consistência entre a imagem profissional que passo e aquela que veiculo através das redes sociais?”
PASSO 2 – ANALISE A SUA PRESENÇA DIGITAL E NÃO SE ESQUEÇA[2]:
- Tenha uma presença digital equilibrada (analise que tipo de conteúdos partilha, com que regularidade o faz, qual a relevância dos mesmos)
- As redes podem ser úteis para publicar temas relacionados à sua área de atuação a nível profissional.
- Evite assuntos polémicos ou cinja algumas considerações a pessoas mais próximas. Ao se pronunciar sobre um assunto, faça-o com moderação e respeito por quem apresenta convicções diferentes das suas.
- Caso queira um espaço de partilha com maior privacidade, reveja a privacidade do seu perfil. Não o deixe público. Tenha atenção a determinados conteúdos de publicações. Faça uma reflexão sobre a publicação de fotos e artigos que possam ser mais “ousados” (fotos sensuais, a beber, fumar, a usar drogas …) [3]
- Considere os temas que compartilha e “gosta”. Ao fazê-lo exprime concordância com determinado assunto. Se o fizer indiscriminadamente, poderá estar a passar uma mensagem que não corresponde propriamente à sua forma de pensar / agir.
- Tenha cuidado para não compartilhar notícias falsas e contribuir para a sua propagação. Verifique as fontes.
- Não utilize as redes sociais para difamar o seu trabalho ou colegas, direta ou indiretamente, através de publicações e/ou memes. Se existem situações que o deixam insatisfeito deverá utilizar os canais adequados.
- Em suma, pense antes de publicar - há impressões digitais que ficam e uma vez na internet para sempre na internet.
A sua “impressão digital” - essa que o torna único - é também aquela que o ajudará a melhor se adaptar à envolvente. Implica abertura e coragem para investir no seu autoconhecimento e para se expressar de forma autêntica, procurando apostar continuamente no desenvolvimento de recursos pessoais.
12 ELEMENTOS CHAVES PARA CONTINUAR A CONSTRUIR A SUA “IMPRESSÃO DIGITAL” E AUMENTAR O SEU CAPITAL PSICOLÓGICO
- Apostar no autoconhecimento e autoaceitação
- Identificar, rentabilizar e potenciar os talentos
- Estar aberto a aprender e a aprender com o erro
- Desenvolver a sua assertividade
- Criar uma prática de autoconsciência, estando atento aos seus pensamentos e substituindo os mesmos quando necessário
- Adotar uma postura positiva face às circunstâncias
- Acreditar em si
- Criar uma lista de metas e objetivos a atingir
- Identificar histórias de sucesso / conquistas pessoais
- Rodear-se de pessoas positivas
- Não ter medo de tomar decisões, mas não as tomar de forma precipitada
- Aceitar que a mudança faz parte da vida e a adaptabilidade é chave, aprendendo a ser flexível consigo e com os outros
PARA SI QUE É ESTUDANTE DA FMUL…
Quer trabalhar no seu autoconhecimento e marca pessoal e profissional?
Conheça mais sobre as sessões de consultadoria do Projeto “Mapping your way” em: https://www.medicina.ulisboa.pt/mapping-your-way
Pode também acompanhar-nos na rede social do Facebook e Linkedin, e descobrir conteúdos que possam ser uma mais-valia na construção da sua carreira e sucesso académico e profissional.
[1] Pode saber mais informações sobre a temática em Sobre o capital psicológico positivo pode descobrir mais informações em:
Avey,J.,Reichard,R.,Luthans,F.,& Mhatre, K. (2011). Meta analysis of the impact of positive psychological capital on employee attitudes, behaviors, and performance. Human Resource & Development Quarterly,22(2),127–152.
Luthans, F., Avolio,B. J., Avey, J. B., &Norman, S. M. (2007).Positive psychological capital: measurement and relationship with performance and satisfaction. Personnel & Psychology, 60(3), 541–572.
Luthans,F.,& Youssef,C.M.(2017). Psychological Capital: An Evidence-Based Positive Approach. Annu. Rev. Organ. Psychol. Organ. Behav, 4, 339-366
[2] Dicas adaptadas de Kaltenback (2021). Redes sociais e imagem profissional: como suas postagens podem influenciar a sua carreira. Disponível em https://www.linkedin.com/pulse/redes-sociais-e-imagem-profissional-como-suas-podem-sua-kaltenbach/
[3] Uma nota importante: #Nãopartilhe - Se está a ser vítima da partilha de conteúdo sem o seu consentimento, recolha o maior número de provas possíveis e peça ajuda. Existem canais apropriados para tal e para ajudar a proteger do cyberbullying. Linha Internet Segura da APAV (linhainternetsegura@apav.pt, www.internetsegura.pt, 800 219 090); Associação #NãoPartilhes
Carla Vale Lucas
Gabinete de Apoio ao Estudante