Monkeypox é o mais recente surto que surgiu na Europa no início do mês de maio. Reino Unido, Espanha e Portugal são os países com maior número de infetados e, até ao momento, ainda não foi possível perceber a origem da infeção. Terminamos maio com mais de 200 casos no mundo.
Foi em abril que terá surgido o primeiro caso em Portugal, mas só foi identificado em maio, depois de outros pacientes terem dado entrada no hospital apresentado os mesmos sintomas. Continua a não se saber qual o primeiro infetado e não existem certezas absolutas sobre a origem do surto.
Falámos com o investigador Miguel Prudêncio do IMM e professor da FMUL para perceber quais as características e qual a origem do vírus. “Sabe-se que é da mesma família da varíola humana embora com algumas diferenças,” nomeadamente “não causa doença com a mesma gravidade. Os sintomas são menos severos e para já, de acordo com os relatos, não há nenhuma morte associada,” diz.
Este surto da varíola dos macacos tem origem em África, onde existem duas estirpes: uma na África Ocidental, menos grave, e outra na Bacia do Congo e com características mais graves em termos de manifestação de doença. Ao que se sabe, a expressão menos grave da doença é que a está associada ao atual surto.
O período de incubação da doença varia entre os 14 e os 21 dias e o contágio acontece através de contacto cutâneo. As autoridades pedem por isso que se evite o contacto físico direto com outras pessoas e a partilha de vestuário, toalhas, lençóis e objetos pessoais enquanto estiverem presentes as lesões cutâneas, em qualquer estádio, ou outros sintomas. As bolhas, que são a característica mais distintiva deste tipo de varíola, têm no seu interior um líquido e é através dele que, em contacto com uma lesão na pele de outro indivíduo, acontece a transmissão. Só depois da crosta cair é que não há risco de contágio. Mas as vias respiratórias funcionam também como porta de entrada para o vírus. Se tocar numa dessas bolhas e levar às mãos à boca ou ao nariz, há também o risco de contágio. “A saliva e o suor também contêm vírus, mas a transmissibilidade por esta via não é fácil, não tem nada a ver com o que se passa com o SARS-CoV-2”, adianta o investigador, que destaca ainda o papel importante que cada um dos infetados deve ter para evitar a transmissão do vírus. “No Reino Unido foi declarado o isolamento total, em Portugal não, por isso, o principal é que as pessoas ao saberem que estão infetadas, restrinjam os contactos próximos, ao máximo.”
Sequenciação do genoma
Portugal foi o primeiro país a fazer a sequência do genoma do vírus da varíola dos macacos. Saber qual é a sequência do genoma “é conhecer as características do vírus e isso facilita a criação de uma vacina de última geração, mas não só. Ajuda por exemplo a perceber se o vírus sofreu alguma alteração genética quando comparado com o vírus africano. Perceber se adquiriu características genéticas que favorecem o contágio humano e que justifique estes casos de contágio.”
Para já não existe terapêutica específica para esta doença e, face à evolução no número de casos os países estão a tomar medidas.
Para já Portugal informou que vai constituir uma reserva nacional de vacinas através do mecanismo europeu. “Sabe-se que a eficácia da vacina da varíola é de 85 por cento, o que abre a possibilidade de a administrar como forma de proteção contra esta doença.”
Vacinação em anel
O RU já avançou com esta prática, a de vacinar os elementos mais próximos da pessoa infetada, e também alguns profissionais de saúde. Ao todo foram mil as vacinas já administradas nestes dois grupos. Há mais países a equacionarem esta possibilidade. Para já, não faz avançar com uma vacinação massiva. “No entanto temos de nos manter vigilantes.”
Mais de 200 casos confirmados
No final de maio, de acordo com uma atualização do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), havia registo de 219 casos confirmados em países onde a doença não é endémica. Todos os infetados são homens com idades entre os 20 e os 60 anos, mas não há nenhuma razão biológica que impeça o vírus de infetar mulheres.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial