O encontro anual de estudantes de PhD decorreu entre os dias 3 e 6 de maio, no auditório João Lobo Antunes, edifício Egas Moniz.
Durante estes dias foi possível assistir às apresentações dos trabalhos científicos feitos pelos alunos de PhD, quer os que estão na fase inicial, Beginners quer os intermediates e os experts, já na fase final da área de investigação a que se propuseram.
O plano de trabalhos estava dividido em várias áreas desde apresentações, mesas redondas a também convidados especiais.
No primeiro dia, 4 de maio, foi possível ouvir alguns alunos do último ano. Inês Faleiro, natural de Tavira e a estudar em Lisboa, foi um desses exemplos. Licenciada em Biologia Celular e Molecular, tirou, posteriormente, um mestrado em Ciências Biomédicas. Neste momento, está a fazer o PhD e o objeto de estudo é a resposta dos músculos a agentes genotóxicos. Os avanços que conseguiu podem ser importantes na prevenção e no tratamento das doenças que afetam o músculo.
Inês ficou satisfeita com a apresentação e adianta “apesar dos nervos que fazem parte do processo nestas apresentações, geram-se aqui hipóteses de colaborações com outros alunos. No meu caso, houve interesse em alargar o meu estudo aos neurónios.” Aos 28 anos sabe que quer continuar a fazer investigação.
Filipa Gonçalves, 29 anos, está já na fase final do estudo que lhe ocupou os últimos anos; as mutações na proteína pink1 e de que forma isso influencia a manifestação e a progressão da doença de Parkinson. “Claro que a ideia é sempre encontrar a cura, mas se se conseguir encontrar novos fármacos, nomeadamente, que atuem como mecanismo de compensação já é um avanço importante.”


Meetings funcionam “como troca de experiências”
Quanto à importância destes meetings, os alunos foram perentórios “é uma troca de experiências e as perguntas da plateia abrem por vezes novas oportunidades de estudo. As discussões levam ao melhoramento da nossa apresentação e as questões levantadas permitem olhar para o estudo de outra perspetiva, que não só a nossa.”
Neste momento a jovem natural de Torres Novas e a estudar em Lisboa, está já na fase final do seu doutoramento. “Estou a escrever a tese e a submeter o artigo”, acrescenta.
Licenciada em Biologia humana, com um mestrado em Genética Molecular e Biomedicina imagina-se na área da patologia e da neurociência.
E se uns estão a acabar, outros estão a iniciar. É o caso de Nuno Miguel de Sousa Santos, do Instituto de Saúde Ambiental, foi um dos alunos, que estando ainda numa fase inicial do seu estudo, partilhou com a plateia a área que investiga: de que forma a nutrição influencia a depressão e os benefícios da dieta mediterrânica. Para o ano aguardamos mais novidades sobre estudo.
Outra das alunas que está ainda numa fase embrionária é Deepanwita Ghosh, que se mostrou muito motivada com a imunologia e garante ser uma área que pretende prosseguir. Para já, e estando no primeiro ano, tem a certeza que vai ficar por Portugal durante mais três. Originária da Índia e com apenas 26 anos, viajou com o marido, que também está a estudar em Portugal, e decidiu apostar na área da investigação fazendo um PhD. Faz parte da equipa de laboratório do Professor Luís Graça e uniu a área da nanotecnologia à da imunologia. O objetivo é o de criar vacinas eficientes e mais precisas para que no futuro a escassez destas, não seja mais um fator de clivagem entre os países desenvolvimentos e os menos desenvolvidos. Para já, vai dividindo os estudos com as saudades da família, sendo certo que pelo menos uma vez por ano os vai visitar à Índia.
Tratamento da depressão
Um dos vários oradores convidados a discursar nestes 4 dias, foi o Professor Albino Oliveira Maia, Médico psiquiatra na Fundação Champalimaud, doutorado em Medicina e mestre em Saúde Pública, formado nas Universidades do Porto, Duke e Harvard. Professor de Psiquiatria e Neurociências na NMS, veio falar das possibilidades do uso da substância psilocibina como possível tratamento em casos de depressão resistente. De acordo com entrevista dada em janeiro à CNN, o médico explica, “a Fundação Champalimaud foi escolhida para integrar um ensaio clínico internacional que investiga o potencial terapêutico da psilocibina, uma substância psicadélica presente nos cogumelos, para tratar doentes com depressão resistente. O estudo internacional contou com 233 pacientes, espalhados por vários pontos do Globo. Em Portugal, dois doentes foram acompanhados na Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud.”
Quanto aos resultados; “aproximadamente um terço dos doentes tiveram uma resposta suficiente e duradoura com uma única administração do fármaco. Um terço não é uma perspetiva extraordinariamente animadora, quando estamos a propor um tratamento a um doente, portanto suspeito que, para o futuro, poderão vir a ser ensaiados métodos de administração da substância que não impliquem apenas uma administração, mas que possam, eventualmente, permitir a aplicação de múltiplas doses para sustentar o efeito ao longo do tempo.”
Ainda há muito para ser feito até que haja aprovação quer pela Food And Drug administration (FDA) quer pela Agência Europeia dos Medicamentos (EMA) para serem usadas em contexto hospitalar.
O papel da comunicação na ciência
A comunicação é capacidade de passar mensagens e se é fundamental no dia a dia não é exceção na ciência. O último dia começou com uma conversa sobre o papel da comunicação na ciência. Joana Carvalho, Inês Domingues, Catarina Ramos e Maria Vicente deram o seu ponto de vista sobre a forma como os investigadores devem envolver a sociedade no seu trabalho.
Na maioria dos casos o cientista está fechado no laboratório focado nos seus objetivos e esquece-se que é importante dar a conhecer o seu trabalho de forma clara, à sociedade. A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, é a população quem vai beneficiar daquela experiência, por isso, faz todo o sentido que se encontrem pontos de interesse e de entendimento entre estes dois players.
Mas manter a sociedade envolvida exige um esforço extra, um tempo extra e com todas as dificuldades que existem para quem faz investigação em Portugal, nomeadamente, na obtenção de fundos, nem sempre esse esforço tem a recompensa necessária para ser um caminho a percorrer. Mas, a verdade é que a necessidade da comunidade pode bem ser uma ferramenta que potencia o financiamento e daí, Inês Domingues avançar que, “quando apelamos aos fundos europeus, primeiro avaliamos o impacto na sociedade.”
Todas partilham da opinião de que a comunicação é fundamental na ciência. “Sempre que se dá início a um novo projeto, este deve ser tratado da mesma maneira que uma marca trata um novo produto a ser lançado no mercado. É fundamental perceber a quem se destina? Faz falta? Vale a pena? O objetivo e o target devem estar sempre presentes”, destacou Maria Vicente, acrescentando “no fundo, é ter a capacidade de se pôr na pele dos outros.”
Já para Catarina Ramos, o papel da comunicação na ciência ficou claro: “o nosso objetivo é dizer às pessoas que a investigação tem impacto nas vossas vidas.” A discussão levou à intervenção da plateia com várias perguntas sobre a metodologia do projeto e a interação deste com a sociedade.
Joana Carvalho afirmou, “descodificar a linguagem científica é encontrar pontos de interesse e de desenvolvimento, dando enfâse, uma vez mais, ao chamamento da população para as matérias alvo de estudos.”
Seguiram-se mais algumas apresentações de alunos. Diogo Alexandre de Mendonça apresentou um estudo sobre Dengue e Zica e propõe novos tratamentos baseados no projeto que tem vindo a desenvolver em parceria com o MCastanho Lab. Estes vírus estão a alastrar-se pelo mundo, devido às alterações climáticas e encontrar novas respostas é urgente.
Vincenzo Crunelli e o estudo das crises de ausência na epilepsia
É um nome conhecido na área da neurologia, na investigação e na área da epilepsia. Uma apresentação dinâmica que captou a atenção da plateia, apesar do orador ter iniciado a mesma, pedindo desculpa por estar “a litle bit rusty” devido a um período de internamento nos Cuidados Intensivos e por ter abdicado recentemente da cafeína e da nicotina. Não se notou nada!
A crise da ausência é uma manifestação da epilepsia, que atinge as crianças, e quem tem merecido a atenção do Professor e do seu grupo de estudo. Até agora, o grupo de investigação, foi o único que conseguiu identificar uma substância, o composto ABC que consegue controlar estes ataques e ao mesmo tempo atuar sobre as comorbilidades como é o caso da depressão e a ansiedade, e ainda prevenir défice comportamental e de atenção.
Esta descoberta abre a possibilidade para novas terapêuticas no tratamento destas crises de ausência, caracterizadas por perda de consciência durante alguns segundos e que podem passar despercebidas. De salientar que este estudo envolve um grupo de trabalho extenso e localizado em vários pontos do globo; Universidade de Cardiff, Sorbonne, Universidade de Malta e Universidade de Lisboa. Neste grupo existem portugueses.
O último dia de palestras e troca de experiências foi bastante concorrido. Os alunos estavam satisfeitos com os objetivos alcançados e acreditam que estas apresentações os preparam para o futuro.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial
