O XXIX Sarau Cultural decorreu no passado dia 6 de abril na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa. Com uma coordenação partilhada entre o Francisco Ribeiro e a Mafalda Fernandes vários foram os momentos que subiram a palco sobre o mote “Entre versos”.
Numa viagem entre o prólogo, durante 20 cenas e até ao epílogo, fica o balanço justo de um trabalho que poderia esgotar qualquer bilheteira.
No impossível de relatarmos fielmente o que a arte nos deu, descrevemos esta noite sob dois olhares em dois atos. Evidenciando os números e dados desta grande produção dos nossos estudantes de Medicina.
Bravo!
Sinopse
Num mundo em que a Arte foi proibida (2062) e esquecida, a população portuguesa vive de forma monótona, sem cor ou emoção, girando em volta do entretenimento proporcionado pelos ecrãs. Rita, depara-se um dia com um baú deixado à porta da casa, dentro deste, encontra um diário. À medida que lê passagens do diário, acompanha-se a história da vida de Aurora, uma jovem atriz que assistiu à proibição e consequente esquecimento das Artes.
I Ato - Nos olhos de uma criança
A longa fila que se se adensava ao longo da Reitoria da Alameda Universitária, permitia-a sentir-se importante entre todos os que a rodeavam. Erguia a cabeça para poder prever os próximos passos, mas quanto mais pessoas chegavam, mais a euforia estreitava na curiosidade imensa de não saber bem o que fazia entre tantos adultos felizes.
Quase à porta da Aula Magna os pais ansiavam pela entrada na sala de espetáculos, para ver os protagonistas em palco, os estudantes de Medicina, elenco de excelência de mais um Sarau Cultural.
Na meia hora que criava o longo compasso de espera diante do vento frio de abril, alguns dos sorrisos do elenco espreitavam entre portas e saudavam os de fora: amigos de Medicina, família, outros curiosos e os olhares atentos e vivos dela.
Entrada apressada na grande sala da Aula Magna, cada grupo celebrava o encontro com outros tantos conhecidos e agrupavam-se amigos em filas inteiras. Caía a luz e o silêncio da plateia que consentia assim a chegada dos artistas.
XX Atos de uma história contada sobre a inércia, apatia, aculturação das massas e falta de liberdade para pensar ativamente. Assim se tocava a plateia e o olhar da pequena que saltitava entre os degraus do auditório e o colo da mãe, para ver mais longe, mais alto, como pedia o guião.
Cada cena um bailado profissional, cada mensagem uma interação entre atores, cada cena um avanço e recuo de ações humanas, cada cena uma ação embalada pela melodia de gente treinada e preparada para cantar e tocar, embalados todos por uma orquestra de mestres estudantes que poderiam ser todos apenas músicos profissionais.
No escuro e a cada Ato terminado a ovação efusiva de um Auditório repleto e o fulgor do aplauso dela, olhos tão abertos e a ausência de estar rodeada de outros tantos olhares. Naquele olhar ainda pouco experiente a tanta habilidade e profissionalismo em palco, era como se tivesse mergulhado num mundo imaginário, com cenários desenhados à mão e personagens reais mas que apenas se assistem na distância da televisão.
XX Atos de uma I Parte de glória e beleza artística, terminados numa trilogia de performances incríveis, de grito crítico e livre, de atores cantores, artistas de alma cheia, que se emprestam por breves momentos à arte como segunda opção de vida, enquanto trabalham e estudam para serem médicos.
Luzes abertas e um curto intervalo que lhe foi apresentado como término do espetáculo, saiu em lágrimas porque era ali que queria pertencer, porque trouxe consigo a emoção certa da mensagem que lhe quiseram passar.
Aplausos. A todos vocês aplausos de pé.
A mãe de uma pequena de grande olhar.
II Ato - A surpresa
Não sabia o que iria encontrar no palco da Aula Magna da Reitoria. Desde que trabalho na FMUL nunca tinha assistido a um Sarau Cultural, a pandemia impediu a realização de espetáculos. Mas, sempre ouvi falar muito deste Sarau, nas palavras dos outros que já o tinham visto e que me contavam tudo com grande entusiamo. A curiosidade era muita e ia aumentado sempre que alguém me falava deste espetáculo, colocando as expectativas muito altas.
O que é que eu sabia do Sarau Cultural? Apenas que era um espetáculo todo montado pelos alunos da FMUL e que envolvia várias artes performativas: o teatro, a dança e a música. Alunos que estão a estudar para serem médicos, mas com muitas outras qualidades escondidas aos olhos da medicina. Para além do gosto pela medicina, muitos deles optam por continuar ligados ao teatro, à dança, ou à música para, de certa forma, desanuviar do stress do estudo e das épocas de exames.
O espetáculo começou. À medida que os atos iam sendo encenados as expectativas eram superadas e as palavras eram poucas para avaliar tanta qualidade num espetáculo só. O nível de coordenação entre atores, bailarinos e músicos é fascinante. Está tudo montado ao pormenor e cada um sabe o que fazer sem hesitar em qualquer passo que tenha de ser dado em cima do palco.
A sala estava cheia de amigos, familiares e de pessoas, como eu, que ficaram fãs deste espetáculo. O palco da Aula Magna juntou mais uma vez os alunos de medicina da FMUL, mas não só, juntou, principalmente, o talento destes estudantes.
Os agradecimentos para a concretização:
- Comissão Organizadora constituída por 20 elementos dos cursos de MIM e LCN da FMUL;
- 197 Artistas: de ambos os cursos que se envolveram nas áreas de teatro, dança, música, cenografia, escrita e crítica de guião entre outras vertentes artísticas.
- Aos vários coreógrafos e encenador;
- Coro e Orquestra Médica de Lisboa, bem como da Tuna Médica de Lisboa;
O backstage:
- Toda a comissão organizadora (20 pessoas) tinha funções durante o decurso do espetáculo, garantindo o bom funcionamento do backstage e portas, na montagem de equipamentos de som e, por fim, colaborando ativamente nas reggies de som, luz e streaming;
Os Números:
- mais de 3 mil visualizações no live streaming;
- espectadores presenciais 1059
- 4152,60€ angariados para a ANACED (Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiência), de forma a contribuir para a melhoria de infraestruturas e serviços prestados.
- 1 mês de ensaios;
Joana Sousa | Leonel Gomes
Equipa Editorial