“(…) fazemos algumas experiências; pensamos nelas; elaboramos uma teoria; e depois, finalmente, somamos dois mais dois. É assim que se aprende”.
(Gladwell, 2010)
Como aprender?
Como adquirir competências?
Como mostrar resultados?
Como ter um desempenho compatível com o esforço?
“Estudei, estudei e só estudei, mal vivi nos últimos tempos”; “Já não sei o que quero, já não sei quem sou, o que me define”. “Não sei estudar, como cheguei até aqui?”
Estas são algumas das frases habituais dos estudantes de Medicina e Nutrição. Habituais entre corredores. Frequentes no espaço seguro de um gabinete de apoio. Pedidos de ajuda. O desespero é visível aos olhos de quem observa. Mais um exame que não correu como o esperado, ou a antecipação de um momento difícil pelo qual não se quer passar. Existe um misto de emoções, de pensamentos: Continuar e desistir coexistem. Precisamos de parar, precisamos de rever métodos, precisamos organizar, priorizar e…viver. Medicina e Nutrição não se para de estudar. Ao longo do ciclo de vida integra-se mais conhecimento, introduz-se mais informação, pelo que parece fundamental que a prática de estudo seja eficaz. Profícua, no aqui e no agora. Mas, se possível, que mais tarde seja recuperada e relembrada para “assentarem outros conhecimentos”. Que fique consolidada. O melhor possível. Que seja útil para além da função de passar ao exame. Quanto mais cedo a aprendizagem for realizada de um modo eficaz, mais proveitosa será.
Não se começa a construir uma casa pelo telhado. Vamos à base. São frequentes as alterações na alimentação e no sono enquanto se estuda intensamente para um exame. Uma falsa perceção de eficácia. Não parar, não perder tempo paira constantemente no pensamento. Uma refeição entre os livros, entre o computador, e, aproveitar cada segundo ao limite.
É fundamental parar. Fazer pausas, “terapêuticas”, sem culpa. Acordar, fazer a higiene, mudar de roupa. Escolher um local confortável para o estudo. Ter snacks saudáveis por perto e líquidos. Em casa, na biblioteca, num café. Com música ou sem música, estudo individual ou acompanhado. O que funcionar melhor para cada um. Temos que nos definir como “estudantes”. O que é melhor para mim pode não funcionar tão bem para o outro colega e vice-versa. Temos que ensaiar. Experimentar o que se adapta a mim e a cada cadeira. Estudar para microbiologia pode ser diferente da metodologia ou do contexto que utilizo para estudar anatomia ou para fisiologia. Apesar das diferenças pessoais que todos temos existem de facto estratégias tendencialmente mais eficazes.
É importante definir um plano realista. O que é realmente importante. Quanto tempo tenho. Estimativa do tempo que irei demorar. Estabelece a prioridade do dia. O que nesse dia não podes deixar de estudar. Começa pela prioridade, pois aumenta a sensação de controlo e autoeficácia. Por vezes, também é importante começar por um tema onde sentes maior grau de “mestria” e intercalar com temas mais exigentes e menos “trabalhados”. Acaba novamente o dia com um tema apelativo. Definir um plano realista não é, habitualmente, uma tarefa fácil. Há uma frequente tendência para ter expectativas muito elevadas relativamente à quantidade de estudo que se define para cada dia. Ainda assim, mesmo quando o plano está bem estruturado, pode acontecer falhar. Não estamos 100% produtivos, todos os dias, de igual modo. Aceita. Reestrutura. Avalia a quantidade de coisas que correram bem. Se não tivesses definido o plano talvez nem tivesses começado.
Organiza o local onde vais estudar. O que é preciso? Ter tudo por perto. Documentos do computador, organizar em pastas de fácil acesso. Priorizar (não é realista pensar que consigo ler tudo. Foco-me no que é fundamental.) Controla distratores. A nossa produtividade aumenta marcadamente com o telefone fora do nosso alcance visual e auditivo.
Começa. Começa. Não há forma de vencer a procrastinação até começar. Se iniciar for difícil, a primeira fase de estudo pode ser apenas 15 minutos. Envolve-te com os conteúdos. Possivelmente 90% dos alunos vão ficar mais tempo na tarefa. Quebraram a resistência inicial.
Ciclos de estudo são eficazes. A famosa técnica “pomodoro”. Utiliza a técnica com flexibilidade e adapta o que fizer mais sentido e seja mais ajustado a ti. 25 minutos de estudo, pausa 10 minutos e volta 25 minutos Temos 1 ciclo de estudo. Faz uma pausa maior, 30 minutos, 1 hora. Analisa se consegues mais um ciclo de estudo.
Aproveita as pausas para te exercitares. Levanta-te. Hidrata-te. Faz uma pequena caminhada à volta de casa. Em casa. Na varanda. O que for possível. Abre a janela. Oxigena-te. Aproveita para preparar uma refeição mais completa (mas fácil!). Vai deitar fora o lixo. Vai ao supermercado, mais próximo, comprar alguma coisa que esteja em falta.
Fica atento ao teu discurso interno, aos pensamentos catastróficos e auto-depreciativos. Lembra-te os desafios pelos quais já passaste e conseguiste ultrapassar. Não te esqueças das tuas experiências positivas e todas as conquistas anteriores. Utiliza a imagética. Vê-te confiante, seguro no momento do exame. Alimenta a tua confiança. No pior cenário, aceita, vais continuar a fazer o melhor que consegues nos próximos exames.
Lê. Relê. Sublinha. Usa cores. Faz esquemas. As cores, os mapas mentais, flashcards, post-it, podem ser facilitadores. Pratica o auto-questionamento e a paráfrase. Coloca questões a ti mesmo e/ou estuda em grupo e coloquem questões uns aos outros. Completem o melhor possível uma resposta. Se estiveres sozinho/a tenta explicar o que estudaste como se estivesse outra pessoa a ouvir. Estas estratégias permitem que te apropries com mais facilidade da informação e capacita-te do que compreendeste melhor ou daquilo onde tens que investir mais e, eventualmente, procurar informação complementar e/ou pedir ajuda a colegas que já tenham feito a cadeira ou estejam a estudar para o exame como tu. Faz listagem de palavras. Utiliza diferentes fontes de informação (por exemplo, vídeos, livros, áudios). Técnicas ativas de estudo produzem maior eficácia. Grava áudios. Podes ouvi-los com headphones em vários contextos. Ajuda a consolidar.
Observa-te. Avalia-te. Reestrutura a metodologia. Replica o que funciona para ti e para cada conteúdo.
Sugestões mais estruturadas de técnicas
Sublinhar
Salienta apenas o que é realmente importante em cada parágrafo;
Lembra-te que sublinhar tudo é equivalente a não ter nada sublinhado;
Usa um código de cores.
Ler e Reler
Primeiro faz uma primeira leitura exploratória, onde tomas notas na margem. Simultaneamente, pode ser útil utilizares o sublinhado, pois vai permitir quando releres que sejam salientadas palavras-chave;
Relê, faz uma segunda leitura com o intuito de compreender e memorizar pontos importantes.
Esquematizar
Faz um esquema com as ideias principais que leste. Relaciona, sempre que possível, a informação com setas, quadrados, círculos ou chavetas. Podes utilizar diferentes cores;
Podes realizar esquemas mais orientados para uma relação de causa-efeito; outros que que organizem hierarquicamente as categorias; que estabeleçam comparações (semelhanças e diferenças) e mapas de ideias.
Auto-questionamento
Coloca questões a ti mesmo;
Clarifica o que não compreendeste.

Parafrasear
Explica por palavras tuas o que leste como se estivesses a explicar a um colega ou a dar uma aula.

Bibliografia
Carita, A., Silva A., Monteiro, A. & Diniz, T. (2001). Como ensinar a estudar. Lisboa: Editorial Presença.
Cosme, A. & Trindade, R. (2001). Área de Estudo Acompanhado: O Essencial para Ensinar a Aprender. Porto: ASA.
Dias, M. & Nunes, M. (2003). Manual de Métodos de Estudo. Lisboa: Edições Universitárias.
Dunlosky, J., Rawson, K., Marsh, E., Nathan, M. & Willingham, D. (2013). Improving Students Learning With Effective Learning Techniques: Promising Diretions from Cognitive and Educationa Psychology. Psychological Science in the Public Interest 14 (1), 5-58.
Gladwell, M. (2010). Blink: “Decidir num Piscar de Olhos”. Lisboa: Dom Quixote.
Knapp, J., & Zeratsky, J. (2018). Make Time: How to Focus on What Matters Every Day. London: Penguim.
Silva, A. & Sá, I. (1997). Saber Estudar e Estudar para saber. Porto: Porto Editora.
Joana Marafuz
Psicóloga do Espaço S
