Momentos
A Universidade da Madeira. Os efeitos dos trágicos acontecimentos recentes na vida dos estudantes
A news@fmul teve a amabilidade de me convidar para escrever um artigo sobre os efeitos da tragédia ocorrida na Madeira e os seus reflexos na vida académica. Agradeço o convite e, embora não sendo fácil, tendo em conta a natureza do tema, vou procurar em algumas linhas traduzir os efeitos da tragédia, na vida dos Madeirenses e, em particular, na dos estudantes da Universidade da Madeira (UMa).
A tragédia abateu-se sobre a Madeira e, independentemente, dos erros humanos, a Natureza foi implacável e imprevisível! Ilha da Madeira sinónimo de Paraíso e de local aprazível para todos os seus habitantes e para quem nos visita, transformou-se, por alguns dias, num cenário dantesco. Na madrugada e manhã do dia 20 de Fevereiro um violento temporal caiu sobre a Madeira. Desabaram sobre a Ilha chuvas persistentes e diluvianas, deixando um rasto de destruição, igualável, segundo a Historia da Madeira, à tragédia registada em Outubro de 1803.
Apesar das condições climáticas adversas, os madeirenses, iniciavam o seu dia. Para uns, um dia de lazer, para outros, mais um dia de trabalho. Inesperadamente, por volta das 11horas as águas vindas das montanhas a uma velocidade estonteante invadiram, sem cerimónia e com brusquidão, os leitos das principais ribeiras que desaguam na mítica baía do Funchal e que se revelaram insuficientes para acolher e suster tanta água. Os seus leitos transbordaram ao longo das encostas. As águas lamacentas, as rochas e os inertes por elas transportados, invadiram sem dó nem piedade, casas, ruas, pontes, centros comercias, arrastando com a sua força incontrolável, pessoas, carros e outros bens.
As muitas imagens já divulgadas através dos media e nas redes sociais são aterradoras e impressionantes mas, infelizmente, ilustram a forma cruel com que a Natureza nos brindou. Esta mostrou o seu poder soberano e não desculpou as possíveis intromissões ou desrespeitos do Homem no seu território. Igualmente, não teve qualquer pejo em ocupar o espaço que há muito já não lhe pertencia. Implacável e intolerante, não foi condescendente com a “pérola” situada no meio do Atlântico coberta, nesse dia, por uma gigantesca e grande depressão. As imagens meteorológicas divulgadas, revelaram a nossa pequenez perante tamanho fenómeno natural.
Como madeirense, senti uma profunda tristeza e um sentimento de impotência. Ao ver algumas imagens de zonas, que me são muito queridas, recordei com alguma nostalgia, a Ribeira de S. João, em tempos coberta por lindas buganvílias de cores intensas, imagem que guardo desde criança, no percurso que fiz durante anos até ao Colégio, situado na Avenida do Infante.
No que à vida académica diz respeito, o edifício do Campus Universitário, situado ao longo da Ribeira de São João, foi atingido com algumas inundações ao nível dos andares técnicos, privando o edifício de electricidade sem que, no entanto, tivessem ocorrido outros prejuízos dignos de referência. O mesmo, não aconteceu com os acessos ao edifício que, ficaram totalmente obstruídos com lama, pedras e outros materiais arrastados das montanhas. Esta situação, bem como, as dificuldades de acesso dos nossos alunos que vivem nas zonas mais rurais, igualmente, atingidas pelo temporal, bem como, as restrições impostas pela Protecção Civil, levaram a Reitoria a suspender as actividades académicas até ao dia 1 de Março. Relativamente ao curso de Medicina, não foi possível os nossos alunos realizarem dois exames finais, nomeadamente, o do Módulo I.I e do Tronco Comum II a), os quais serão, oportunamente, realizados. Não houve notícia de acidentes pessoais com docentes, funcionários ou alunos da nossa Universidade, embora alguns alunos tenham perdido familiares na tragédia. Infelizmente, aconteceu a morte do pai do André Capelo, aluno do 2º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM), na sequência de um acto de coragem, quando tentava salvar uma pessoa que, por sinal, tinha desrespeitado um acesso que estava interdito. Ao André que, ainda ontem fez um exame de melhoria do Mód. II.III, quero expressar a minha solidariedade nesta hora de dor, mas, também de esperança. Sei que terá a força necessária para ultrapassar este momento adverso e para concluir, no futuro, com êxito o MIM. Essa será a melhor homenagem póstuma que poderá prestar ao seu pai.
Não posso deixar de destacar o papel importantíssimo que os nossos alunos desempenharam nesta tragédia. A Associação Académica da UMa (AAUMa) rapidamente se mobilizou para acções de solidariedade, nomeadamente, na recolha de bens e no apoio aos desalojados, bem como, em acções de limpeza dos acessos à Universidade. Para eles uma palavra de agradecimento.
A actuação das autoridades regionais e o apoio das autoridades nacionais, bem como, das forças militares, foram determinantes nas horas que se seguiram ao violento temporal. As equipas orientadas para as operações de limpeza e de reconstrução foram rapidamente mobilizadas e revelaram-se de uma eficiência inigualável.
A solidariedade vinda dos quatro cantos do Mundo e o espírito de entreajuda, foram minimizando a dor dos que foram duramente atingidos e comoveu profundamente todos os madeirenses, sentimos que não estávamos sós e isso marcou-nos muito. Um obrigado sem fim a TODOS!
Na cidade do Funchal e em toda a ilha começam-se, paulatinamente, a retomar as rotinas diárias, embora, com algumas limitações ao nível das acessibilidades. As actividades lectivas já regressaram à sua normalidade. A semana que a Universidade esteve encerrada, será reposta através de um período complementar de aulas e de avaliação.
A Ilha ficou ferida, para trás ficaram muitos momentos de dor e, por certo, muitas histórias por contar, muitas vidas se perderam.
Agora é tempo de olhar o futuro!
Acreditamos que a Madeira voltará a ser o Paraíso para os seus habitantes e para os que nos visitam. Continuamos a precisar da ajuda de todos. Recomendo que escolham a Madeira como vosso destino de férias, de lazer ou de realização de encontros científicos. Sigam a minha sugestão e não se vão arrepender!
Maria Isabel Torres
Professora Associada da Unidade de Ciências Médicas
Universidade da Madeira
isat@uma.pt
A tragédia abateu-se sobre a Madeira e, independentemente, dos erros humanos, a Natureza foi implacável e imprevisível! Ilha da Madeira sinónimo de Paraíso e de local aprazível para todos os seus habitantes e para quem nos visita, transformou-se, por alguns dias, num cenário dantesco. Na madrugada e manhã do dia 20 de Fevereiro um violento temporal caiu sobre a Madeira. Desabaram sobre a Ilha chuvas persistentes e diluvianas, deixando um rasto de destruição, igualável, segundo a Historia da Madeira, à tragédia registada em Outubro de 1803.
Apesar das condições climáticas adversas, os madeirenses, iniciavam o seu dia. Para uns, um dia de lazer, para outros, mais um dia de trabalho. Inesperadamente, por volta das 11horas as águas vindas das montanhas a uma velocidade estonteante invadiram, sem cerimónia e com brusquidão, os leitos das principais ribeiras que desaguam na mítica baía do Funchal e que se revelaram insuficientes para acolher e suster tanta água. Os seus leitos transbordaram ao longo das encostas. As águas lamacentas, as rochas e os inertes por elas transportados, invadiram sem dó nem piedade, casas, ruas, pontes, centros comercias, arrastando com a sua força incontrolável, pessoas, carros e outros bens.
As muitas imagens já divulgadas através dos media e nas redes sociais são aterradoras e impressionantes mas, infelizmente, ilustram a forma cruel com que a Natureza nos brindou. Esta mostrou o seu poder soberano e não desculpou as possíveis intromissões ou desrespeitos do Homem no seu território. Igualmente, não teve qualquer pejo em ocupar o espaço que há muito já não lhe pertencia. Implacável e intolerante, não foi condescendente com a “pérola” situada no meio do Atlântico coberta, nesse dia, por uma gigantesca e grande depressão. As imagens meteorológicas divulgadas, revelaram a nossa pequenez perante tamanho fenómeno natural.
Como madeirense, senti uma profunda tristeza e um sentimento de impotência. Ao ver algumas imagens de zonas, que me são muito queridas, recordei com alguma nostalgia, a Ribeira de S. João, em tempos coberta por lindas buganvílias de cores intensas, imagem que guardo desde criança, no percurso que fiz durante anos até ao Colégio, situado na Avenida do Infante.
No que à vida académica diz respeito, o edifício do Campus Universitário, situado ao longo da Ribeira de São João, foi atingido com algumas inundações ao nível dos andares técnicos, privando o edifício de electricidade sem que, no entanto, tivessem ocorrido outros prejuízos dignos de referência. O mesmo, não aconteceu com os acessos ao edifício que, ficaram totalmente obstruídos com lama, pedras e outros materiais arrastados das montanhas. Esta situação, bem como, as dificuldades de acesso dos nossos alunos que vivem nas zonas mais rurais, igualmente, atingidas pelo temporal, bem como, as restrições impostas pela Protecção Civil, levaram a Reitoria a suspender as actividades académicas até ao dia 1 de Março. Relativamente ao curso de Medicina, não foi possível os nossos alunos realizarem dois exames finais, nomeadamente, o do Módulo I.I e do Tronco Comum II a), os quais serão, oportunamente, realizados. Não houve notícia de acidentes pessoais com docentes, funcionários ou alunos da nossa Universidade, embora alguns alunos tenham perdido familiares na tragédia. Infelizmente, aconteceu a morte do pai do André Capelo, aluno do 2º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM), na sequência de um acto de coragem, quando tentava salvar uma pessoa que, por sinal, tinha desrespeitado um acesso que estava interdito. Ao André que, ainda ontem fez um exame de melhoria do Mód. II.III, quero expressar a minha solidariedade nesta hora de dor, mas, também de esperança. Sei que terá a força necessária para ultrapassar este momento adverso e para concluir, no futuro, com êxito o MIM. Essa será a melhor homenagem póstuma que poderá prestar ao seu pai.
Não posso deixar de destacar o papel importantíssimo que os nossos alunos desempenharam nesta tragédia. A Associação Académica da UMa (AAUMa) rapidamente se mobilizou para acções de solidariedade, nomeadamente, na recolha de bens e no apoio aos desalojados, bem como, em acções de limpeza dos acessos à Universidade. Para eles uma palavra de agradecimento.
A actuação das autoridades regionais e o apoio das autoridades nacionais, bem como, das forças militares, foram determinantes nas horas que se seguiram ao violento temporal. As equipas orientadas para as operações de limpeza e de reconstrução foram rapidamente mobilizadas e revelaram-se de uma eficiência inigualável.
A solidariedade vinda dos quatro cantos do Mundo e o espírito de entreajuda, foram minimizando a dor dos que foram duramente atingidos e comoveu profundamente todos os madeirenses, sentimos que não estávamos sós e isso marcou-nos muito. Um obrigado sem fim a TODOS!
Na cidade do Funchal e em toda a ilha começam-se, paulatinamente, a retomar as rotinas diárias, embora, com algumas limitações ao nível das acessibilidades. As actividades lectivas já regressaram à sua normalidade. A semana que a Universidade esteve encerrada, será reposta através de um período complementar de aulas e de avaliação.
A Ilha ficou ferida, para trás ficaram muitos momentos de dor e, por certo, muitas histórias por contar, muitas vidas se perderam.
Agora é tempo de olhar o futuro!
Acreditamos que a Madeira voltará a ser o Paraíso para os seus habitantes e para os que nos visitam. Continuamos a precisar da ajuda de todos. Recomendo que escolham a Madeira como vosso destino de férias, de lazer ou de realização de encontros científicos. Sigam a minha sugestão e não se vão arrepender!
Maria Isabel Torres
Professora Associada da Unidade de Ciências Médicas
Universidade da Madeira
isat@uma.pt