Aberto ao público para que pudessem interagir com os simuladores de topo, o Centro de Tecnologia Médica Avançada (CTMA), do recente Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos, da Faculdade de Medicina, apresentava as oportunidades mais sofisticadas daquilo que os elementos do Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML) podem aprender e melhorar. Área estratégica da Medicina, a Simulação é o mais recente passo da Faculdade para abraçar o mundo global, unindo num só espaço entidades e instituições como a Microsoft, a Holocare, a Body Interact, e com o know-how das Universidades de Cambridge, Oslo ou Miami.
Assistir clinicamente a um parto, simular uma colonoscopia ou endoscopia, aplicar procedimentos cirúrgicos, ou ampliar um fígado ou coração, através de uns óculos de realidade avançada, são todas técnicas que permitem uma maior aproximação entre o médico e aquele que irá ser o doente real. Médicos internos, alunos dos anos clínicos de Medicina e algumas pessoas curiosas, iam chegando ao Centro discretamente, com evidente vontade de interagir com os diferentes parceiros tecnológicos. Propósito que justificava o Open Day, depois de uma manhã de apresentações formais da Direção da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
No mesmo espaço alargado do Centro de Simulação, dois irmãos e a mãe tentavam todas as técnicas improvisadas de ampliação dos vasos do coração virtual. Com as Hololens (óculos de realidade avançada) colocadas na cabeça, tanto desenhava curvas e traços no ar, como caminhavam ao mesmo tempo no vazio até quase esbarrar na parede. Na maca mesmo ali ao lado, um grupo de médicos interagia com outro simulador, enquanto trocava impressões clínicas precisas e fazia contraponto com a experiência imediata.


Responsáveis por cada uma das suas áreas clínicas, mas assegurando a supervisão geral de Rui Tato Marinho e Diogo Ayres de Campos (Diretor do Centro Técnico de Medicina Avançada) passavam o olhar clínico e explicativo sobre possíveis caminhos de interação.
Na intervenção cirúrgica não invasiva e cujo tempo era cronometrado para a reação médica, dois estudantes de Medicina conversavam enquanto tentavam ter a precisão vital para retirar uma vesícula virtual. Tendo esgotado o tempo, o simulador avisava que afinal uma hemorragia interna causada pela intervenção médica, levara à morte do doente. Vantagem de se proceder por tentativa e erro virtual e cujos protagonistas combinamos não revelar.
Já junto ao simulador Adam, devidamente acompanhado por um Anestesiologista do campus, mais uma aspirante aprendiz temia fazer demasiada pressão torácica, para reanimação, preferindo falar-lhe de perto “não morras Adam”.
Contacto mais ou menos próximo do real, o CTMA é o espelho do verdadeiro potencial do Ensino médico. Reforço feito pelo Diretor do Centro, Diogo Ayres de Campos que reconhece cada vez mais que, “não só o conhecimento importa na prática médica, como é também preciso aplicar esse conhecimento, comunicando-o depois com o doente e com os seus pares”.
A contrariar ainda um sistema de ensino muito baseado na observação direta, o que levanta questões de falta de privacidade para o doente, outro fator referido pelo Professor foi a necessidade do treino permanente, sem que o possível erro penalize o doente. “Há que tirar os alunos das enfermarias, estruturando a aprendizagem. Assim se faz a simulação médica, simulando gestos, treinando a comunicação com doentes e em simultâneo com a restante equipa médica”.
Coordenador do novo método de avaliação para o ensino médico, através da OSCE - Objective structured clinical examination, Diogo Ayres de Campos acompanha este novo método em que se avaliam componentes diversas comunicacionais e técnicas. Implementado desde 2019 com o exame final europeu da especialidade em Ginecologia, esta modalidade avaliativa pretende colocar a simulação ao serviço do ensino, mas também do treino médico.
Treino esse virtual que traduz a permanente vontade de contrariar qualquer estagnação. Fausto Pinto, o Diretor da Faculdade de Medicina e um dos grandes impulsionadores da globalização tecnológica, abria o Open Day reiterando uma Medicina robusta e alargada de plataformas. “Temos de continuar a crescer e a alargar as nossas áreas e se há uma área onde não se pode descansar é a do Ensino, onde a Faculdade de Medicina é referência”.
Dando especial relevo à qualidade dos profissionais que constituem o campus académico, Fausto Pinto não quis ainda deixar para segundo plano o acesso mais facilitado a todos aqueles que façam investigação ou clínica. A cultura do treino e do erro, num conceito de cross-pollination, polonização entre partes que se acrescentam, seria o conceito desenvolvido por Rui Tato Marinho, Professor e Diretor de Gastrenterologia e Hepatologia bem como coordenador do Ensino Virtual de Centro. Numa avaliação permanente entre o colocar-se à prova e diante da perceção do erro, o simulador traça o caminho da aprendizagem e reduz o improviso, técnica magistralmente ensinada com os pilotos de aviação.
Ambos médicos e membros do quadro principal de intervenientes do CTMA, Lucindo Ormonde e João Coutinho resumiam, no fecho da sessão da manhã, as potencialidades de colocar o novo Centro de vanguarda tecnológico, ao serviço “do rigor educacional e do cruzamento de técnicas menos invasivas para os doentes”.
Abertas que ficaram as portas para a interação do Centro Tecnológico, ficam as informações dos Simuladores e a promessa de que muitas notícias se seguirão de novos passos dentro deste mundo global.
É a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa a abrir as portas da Medicina Avançada dentro de Portugal, ao mundo.
Joana Sousa
Equipa Editorial
