Em dezembro de 2021 a Microsoft visitava a Faculdade de Medicina para firmar um compromisso de cooperação, munindo o ensino médico e a investigação com novas ferramentas tecnológicas. Os óculos de realidade aumentada prometiam ser nova senha de entrada para uma informação imediata e palpável, contudo ainda pouco clara para a maioria das pessoas.
Diluído ao longo de um dia, quase no Natal, o Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos ia recebendo equipas para filmar e protagonistas que a seu tempo deixavam o relato sobre o futuro que acabara de chegar à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A realidade estava a acontecer à distância de algumas pessoas e da sua interação com a tecnologia.

Trunfo guardado como diamante, Fausto Pinto, anunciara em 2018 a recandidatura à Direção da Faculdade com a promessa que o ensino da Medicina sofreria forte evolução. Eleito para segundo mandato, erguia-se a alma de um edifício à espera do momento certeiro para abrir portas, como uma viagem ao futuro. Talvez nessa data poucos tivessem como certo aquilo que viria a ser palavra cumprida. Facto é que o futuro aconteceu.

Lançados os primeiros cursos por simulação digital, com as Masterclass Online Courses, a Faculdade de Medicina e a sua consultora Glamhealth, estendiam novas linhas de ação, assumindo parceiros universitários internacionalmente inquestionáveis, Cambridge, Oslo e Miami e asseguravam parcerias com grandes marcas tecnológicas. Ao mesmo tempo que a Microsoft e a Holocare entravam no espaço académico de Medicina e do seu campus, sofisticados simuladores iam ocupando posições a anunciar que a aprendizagem dava novo salto qualitativo.

Num vídeo de 20 minutos, recentemente exibido no evento Building The Future da Microsoft, a Faculdade e o Hospital Escolar, de mãos dadas com a Glamhealth e o testemunho em direto da tecnologia de ponta de Oslo, mostravam a cores e ao vivo o futuro através da imagem.
Simular técnicas cirúrgicas, falando entre cirurgiões por reunião holográfica, permitia ensaiar aquilo que em breve Luís Castro e Mauro Sousa poderão vir a fazer quase comummente.
Médico Interno de Formação Especializada em Cirurgia Geral no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte
Mestrado em Medicina na FMUL
A experiência com os Hololens vai para além do contacto com uma nova e entusiasmaste tecnologia, abre a porta para uma nova realidade. A realidade aumentada, que dá os primeiros passos na sua aplicação à Medicina, pode vir a revolucionar o planeamento cirúrgico e até mesmo a navegação intra-operatória.
Médico Interno de Formação Especializada em Cirurgia Geral no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte
Universidade da Beira Interior - Faculdade de Ciências da Saúde, na Covilhã
Desde 2021 que integrei o projeto Holocare na premissa de melhorar a prestação de cuidados de saúde aos nossos doentes.
Os Hololens permitirão em primeira instância uma melhor avaliação pré-operatória de todos os doentes, através da integração de vários métodos complementares de diagnóstico e da visualização tridimensional holográfica de órgãos/sistemas atingidos por várias patologias (nomeadamente neoplasia do fígado, entre outras). Permitirá durante esta avaliação, uma melhor perceção técnica (das dificuldades) prévia à cirurgia e assim melhorar os outcomes cirúrgicos para o doente. Será/é uma mais-valia para os nossos doentes.
Futuramente, ao desenvolvimento deste projeto inicial, penso que terá ainda uma maior papel determinante durante a cirurgia, permitindo ao cirurgião através da tecnologia holográfica, o auxílio e análise in vivo no decorrer da cirurgia, com um melhor desempenho para o cirurgião na identificação de estruturas anatómicas e ajudar a superar obstáculos.
Será um passo para o futuro, servindo como ferramenta tecnológica essencial para o Cirurgião do futuro, permitindo assim melhorar ainda mais o desempenho nos cuidados de saúde prestados, e deste modo benefício para o doente.
Alison Sundset
CEO da HoloCare AS - OSLO
O que nos pode dizer sobre o Projeto Holocare?
Alison: O projeto HoloCare foi iniciado há seis anos, durante um congresso nos EUA, quando a Microsoft forneceu um headset de realidade aumentada HoloLens para a consultora internacional Sopra Steria, na Noruega, que, por sua vez, contratou cirurgiões do Hospital Universitário de Oslo. Esses médicos trabalharam com engenheiros de software e designers da Sopra Steria na Noruega para criar os aplicativos e a infraestrutura que se tornaram o HoloCare AS. Esta colaboração, financiada pelo Conselho Norueguês de Pesquisa e Sopra Steria, permitiu aos professores de cirurgia em Oslo e à HoloCare desenvolver hologramas 3D interativos da anatomia de um paciente (com base em dados anonimizados de TC e RM), com o objetivo de auxiliar o planeamento cirúrgico e -intervenções e procedimentos operatórios. As aplicações cirúrgicas incluem cirurgia hepática, cardiopatia congênita, ortopedia (quadril e joelho) e supervisão remota. Médicos de diferentes países e hospitais podem colaborar em casos cirúrgicos e visualizar os mesmos hologramas da anatomia e patologia de um paciente simultaneamente.
Em que medida a parceria entre a Faculdade e a Holocare podem contribuir para melhorar o Ensino?
Alison: Cirurgiões de variadas disciplinas atribuiram à HoloCare AS uma visão mais holística do(s) órgão(s), através de um complrto modelo digital interativo 3D (uma solução holográfica) que os ajuda no treino, planeamento cirúrgico e na identificação de áreas de possíveis complicações (onde evitar), por exemplo, principais estruturas vasculares de artérias e veias.
Os benefícios desta abordagem 3D:
• O estudante de cirurgia e o Professor: capacidade de partilhar visões 3D dos desafios clínicos apresentados e melhorar a abordagem holística para compreender questões e abordagens de intervenção.
• O paciente: projetado para menor tempo de cirurgia, menos eventos adversos, menor tempo de recuperação na UTI e melhores resultados.
• O hospital e o pagador: custos mais baixos de atendimento por procedimento, melhor utilização de recursos hospitalares caros, maior produtividade do centro cirúrgico e melhores resultados para os pacientes.
Como pode a Holocare avaliar as necessidades da Medicina?
Alison: No relatório “The future of Surgery”, encomendado pelo Royal College of Surgeons em 2018 (1), afirmava-se que a Realidade Aumentada (AR) e (Realidade Virtual tornar-se-ão parte integrante do processo cirúrgico:
• “As plataformas de tecnologia permitirão que equipes multidisciplinares se conectem e cirurgiões especialistas suportem remotamente procedimentos complexos.
• O planeamento e a impressão 3D avançarão e serão usados com mais frequência para o ensino, treino e preparação cirúrgica para intervenções cirúrgicas complexas.”
Quais são as principais vantagens de trabalharmos com soluções Holográficas?
Alison: Os cirurgiões estão a planear procedimentos cirúrgicos regularmente complexos, com base nas imagens 2D (planas) de ressonâncias magnéticas ou tomografias computadorizadas. Masjá operam o doente em em 3D. As suas observações sobre as questões estão descritas abaixo:
O professor Ola Wiig, cirurgião ortopédico de podologia do Hospital Universitário de Oslo,
• “As imagens planas são apenas uma sombra da realidade. Hoje, temos que criar a realidade na nossa imaginação”.
• “Os hologramas são o futuro da imagem médica. Depois de ver um holograma, não se pode voltar a planear numa tela 2D”
O professor Wolfram Lamade da Clínica de Cirurgia Geral e Visceral de Heidelberg declarou:
• “A reconstrução tridimensional leva a uma melhoria da capacidade de localizar o tumor e a uma maior precisão no planeamento da operação em cirurgia hepática.”
O professor Bjorn Edwin de Cirurgia Hepato-Biliar do Hospital Universitário de Oslo concordou que a visualização 3D melhorou as questões no processo de planeamento cirúrgico:
• “2D todos nós vemos de forma diferente, 3D todos nós vemos a mesma coisa”
O professor Henrik Brun, cirurgião cardíaco do Hospital Universitário de Oslo, opinou:
• “Hologramas 3D fornecem uma base melhor para escolher a solução cirúrgica certa em casos complexos”.
As opiniões desses cirurgiões, que propõem que os hologramas 3D em cirurgia se tornem a norma, são apoiadas por análises de mercado do mercado de hologramas 3D: e deverão expandir-se a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 27,2% de 2021 a 2028.”
Esse crescimento será impulsionado pela “crescente adoção de tecnologias de Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR), em cirurgias médicas para otimizar procedimentos cirúrgicos e aumentar a eficiência do tratamento como um dos principais fatores que impulsionam o crescimento do mercado nos últimos anos."
Nota de agradecimento: Ao Luís Fareleiro da GlamHealth que sem ele nada seria tão fácil e estimulante. Ao Engenheiro Cristiano Tavares pelo empenho e zelo silencioso de quem prepara o palco para os outros, mas nunca se coloca no meio.
Joana Sousa
Equipa Editorial
