Era uma vez uma menina há muito tempo. Uma menina que gostava de cor-de-rosa e que brincava com barbies. Quando se tornou mais velha e aprendeu a ler, tão fascinada pelo mundo brilhante e romantizado das bonecas, foi pesquisar mais sobre elas. Descobriu que as barbies foram criadas nos Estados Unidos da América a 9 de março de 1959 pela empresária Ruth Handler, seguindo o modelo da boneca alemã Bild Lilli. A Barbie, após ser comprada pela Mattel, foi considerada a boneca mais famosa e lucrativa da empresa.
Tendo descoberto a história por detrás do seu brinquedo favorito, a menina, contente, sentou-se à frente da televisão a assistir aos filmes da sua boneca favorita. Estava, então, a passar pela parte chata dos anúncios, quando apareceu na TV o lema da barbie. “Podes ser tudo o que quiseres”. A menina queria ser médica. Pegou no lema como encorajamento e trabalhou para o seu sonho todos os dias.
Mas acontece que a Barbie acabou por ser a sua maior desilusão. “Podes ser tudo o que quiseres”. 1,75 m de altura, 45,7 cm de cintura, 55,8 cm de circunferência de cabeça e 22,6 cm de circunferência do pescoço. As pernas não tocam uma na outra. Loura. Olhos azuis. Estas são as características de uma boneca Barbie enquanto jovem comum. Contudo, no país onde foi criada, uma rapariga de 19 anos tem, em média, 1,63m de altura, 85,4 cm de cintura, 50,8 cm de circunferência de cabeça, 38,1 cm de circunferência do pescoço. A coxas tocam-se.
A Barbie, que até então se tinha tornado no mais célebre ícone de beleza em todo o mundo entre as jovens, representava agora padrões de beleza praticamente inatingíveis, impostos a todas as crianças vulneráveis. E o mais estranho, o paradoxo implacável de tudo isto é que se apresentava como um símbolo inspirador que encorajava, especialmente as meninas, a serem tudo o que quisessem. Mas elas nunca conseguiriam ser a Barbie.
Apesar de hoje em dia as bonecas serem já mais heterogéneas no que toca a tipos de corpo e até cores de pele ainda falta muito para chegarmos a um equilíbrio. A Barbie, até hoje, continua a ser uma das maiores referências no que toca ao corpo perfeito.
Essa menina. A menina da qual falava no início, hoje já é mais crescida. Ainda quer ser médica, entrar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) mas já não segue a Barbie e espera que no futuro alcancemos paz no que toca a complexos corporais gerados por padrões de beleza inatingíveis.
Lúcia Diógenes e Nogueira
Filha mais velha da Professora Maria José Diógenes
