O tempo académico foi passando rápido para todos eles. Teresa Valido foi quem acabou por referir como, desde há 4 anos, se iniciava a estruturação do longo projeto cuja vontade tinha já mais de uma década.
Ao longo de quatro mandatos que cada um acompanhou da forma mais responsável e empenhada aquilo que viria a ser um propósito maior que a sua própria gestão, a Reforma do Ensino Clínico.
Fazia-nos por isso sentido ouvir a Teresa Valido, a Andreia Daniel, o José Rodrigues e o António Velha. Todos eles Presidentes da Direção da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina e defensores de mudanças estruturais que assumiriam como grandes causas suas.
Mobilizados que o ensino médico precisava de se atualizar à medida dos tempos, assim se foram envolvendo com os seus grupos de trabalho e dando contributos inequívocos, articulados com um grupo consultivo de professores formado dentro da Faculdade de Medicina.
Cumpridos que estão cada um dos mandatos, hoje não falamos com a Teresa, a Andreia, o Zé e o António a título de balanço pessoal. Mas refletindo na gestão do ano de cada um deles e olhando para a Nova Reforma que em setembro nasce, desafiando a reflexões para cada um deles.
Os planos que fizeram e a herança deixada por cada um dos últimos quatro Presidentes da AAFML, foi o que daqui resultou.
Teresa Valido
Presidente da Direção da AEFML 2017/2018
“(…) Ver esta reforma finalmente implementada, 10 anos depois de ter começado a ser discutida pelos Estudantes e 4 anos depois de ter sido iniciada a sua estruturação”.
A Reforma do Ensino Clínico da FMUL foi talvez um dos “projetos” mais desafiantes do meu mandato enquanto Presidente da AEFML e da minha Direção, que participou ativamente em todo o processo.
Quando tomamos posse, a AEFML tinha acabado de apresentar e aprovar em Reunião Geral de Alunos, no final do mandato 2016/2017, o documento de Recomendações dos Estudantes relativamente à Reforma dos Anos Clínicos. Este documento tinha resultado do trabalho realizado pela AE, os discentes do Conselho de Escola e os discentes do Conselho Pedagógico, desde 2015, altura em que a nova direção da FMUL criou a Comissão de Avaliação do Ensino Clínico (CAEC), com objetivo de propor a reforma que já se falava na Faculdade desde 2011.
No início do meu mandato, a CAEC finalmente apresentou o documento “A new curriculum for the Clinical Cycle at the FMUL: Meeting the needs of future doctors. Improving medical care”, que conceptualizava esta reforma e criava as bases para a implementação da mesma. Posteriormente foi criada a Comissão de Implementação da Reforma do Ensino Clínico (CIREC), a qual integrei enquanto Presidente da AEFML, tendo sido esta a primeira vez que a Associação de Estudantes integrou os grupos de trabalho da Faculdade no âmbito da reforma do ensino.
Assim, foi no mandato 2017/2018 que se trabalhou a forma como os ideais base desta reforma seriam implementados, a começar no desafio da integração das componentes médicas e cirúrgicas, bem como a necessidade do mapeamento curricular, a organização dos semestres, a divisão dos ECTS pelos módulos e ainda a reformulação e inovação dos métodos de ensino e avaliação. Além disso, as questões burocráticas foram iniciadas no nosso mandato, nomeadamente a submissão da proposta de novo currículo à A3ES. Realço ainda a importância da construção do módulo de Foundation Skills, que veio trazer uma das principais inovações deste currículo, no qual se procurou integrar soft skills e competências transversais num currículo que até então era puramente científico e clínico.
Muitos foram os obstáculos encontrados no caminho, e creio que este primeiro ano de Comissão de Implementação da Reforma foi essencial para perceber quais os problemas que tinham de ser ultrapassados para que a reforma fosse o mais bem conseguida possível, bem como sedimentar as bases a partir da qual esta reforma foi posteriormente concretizada. A articulação entre os vários grupos de estudantes foi extremamente importante. A AEFML por um lado, e os discentes representantes nos órgãos de gestão da Faculdade, através da manutenção do Grupo de Trabalho dos Anos Clínicos (GTAC), coordenado pela Associação de Estudantes, e no qual todas as posições posteriormente veiculadas por mim na CIREC foram acordadas, garantindo que a voz dos estudantes se fazia ouvir numa Comissão em que eu era a sua única representante.
Posto isto, não posso deixar de manifestar a minha satisfação por ver esta reforma finalmente implementada, 10 anos depois de ter começado a ser discutida pelos Estudantes e 4 anos depois de ter sido iniciada a sua estruturação. Para mim e para a Direção 2017/2018 foi sem dúvida um enorme prazer e orgulho fazer parte deste processo, que considero ser uma das marcas fundamentais da FMUL na última década.
Andreia Daniel
Presidente da Direção da AEFML 2018-2019
“Se uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança, o currículo agora a ser implementado deve ter a plasticidade suficiente para dar uma resposta adequada (…)”
Desde o início do meu percurso associativo na AEFML que a temática da reforma curricular fora uma presença constante. Ainda enquanto frequentava os primeiros anos na FMUL, grupos de estudantes constituídos por alunos pertencentes aos anos clínicos reuniam-se periodicamente para discutir a necessidade de reformular o currículo clínico para que fosse ao encontro das necessidades da formação médica da atualidade. Após integrar esses mesmos grupos, tomei ainda mais consciência da importância da alteração curricular na construção daqueles que são os médicos do Futuro.
Durante o ano 2018/2019, foi dada continuidade ao trabalho previamente iniciado em mandatos anteriores da Direção da AEFML em conjunto com a FMUL. Partindo do princípio que a última reforma curricular ocorrera aquando da implementação do processo de Bolonha e que, desde aí, a evolução da medicina e as expectativas colocadas à prática médica se alteraram, várias questões sobre o modo de funcionamento do currículo foram colocadas. No decorrer deste processo de reflexão, identificaram-se vários pontos de melhoria, nomeadamente, a falta de integração de conteúdos entre áreas disciplinares, a sobreposição e repetição de temas, carga excessiva de aulas teóricas e avaliações e um elevado rácio aluno: tutor, que em muitas aulas excedia a proporção recomendada para garantir uma aprendizagem adequada.
Partindo das problemáticas identificadas, foi feito um enorme esforço para que, interligando o sistema de saúde e o sistema educativo, se criasse um projeto sólido que permitisse aos estudantes uma aprendizagem mais prática, dinâmica e dirigida aos desafios atuais. Na minha perspetiva, destaco como os principais pontos que marcaram o trabalho da CIREC durante o ano de 2018/2019, a finalização da primeira proposta de objetivos curriculares e a realização de um mapeamento curricular validado por um perito em Educação Médica. Estas foram etapas fundamentais para a construção do documento “A new curriculum for the Clinical Cycle at the FMUL: Meeting the needs of future doctors. Improving medical care”, onde constava não só informação sobre as principais alterações em cada área disciplinar como o desenho de um inovador modelo de avaliação curricular. Apesar do enorme entusiasmo inerente à construção de uma proposta tão promissora, várias foram as preocupações subjacentes. Destaco, principalmente, a dificuldade na operacionalização da proposta pela exigência em recursos humanos e materiais às particularidades do ensino onde a proposta se deveria articular corretamente, nomeadamente, no caso dos alunos Erasmus e alunos a frequentar anos de transição entre os dois modelos curriculares. Não esquecendo a importância que os alunos e docentes têm em todo este processo, foram feitas ainda durante este ano sessões de apresentação da reforma permitindo, não só uma atualização constante das partes envolvidas, como a reunião de ideias muito úteis na revisão dos documentos pelo grupo de trabalho.
Apesar de uma mudança desta magnitude gerar alguma controvérsia e receio, os estudantes foram sempre elementos muito ativos em todo este processo, não só a integrar as várias comissões de trabalho existentes desde 2015 como também a impulsionar várias mudanças que permitissem um melhor processo de aprendizagem no futuro.
Felizmente hoje estamos perante um currículo mais atual, mais dinâmico e mais integrador. Se uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança, o currículo agora a ser implementado deve ter a plasticidade suficiente para dar uma resposta adequada aos desafios sucessivos da evolução da Medicina nas dimensões científica, clínica e tecnológica.
José Rodrigues
Presidente da Direção da AEFML 2019-2020
“E, se nenhum homem é uma ilha, uma reforma do ensino clínico que depende do trabalho coordenado de uma larga equipa de pessoas muito menos o é.”
Desde o lançamento do processo que vai culminar na implementação da Reforma do Ensino Clínico, há já alguns anos, que nenhuma Direção da AEFML pôde fazer um balanço do trabalho desenvolvido no seu mandato sem mencionar este tema. A centralidade desta reforma para os estudantes que a AEFML representa assim o exige.
No mandato 2019/2020, o papel da AEFML na CIREC foi assumido de forma dedicada e comprometida. Na altura da nossa Tomada de Posse, em meados de junho de 2019, estávamos convictos de que os trabalhos caminhavam a passos largos para o seu término e que a Reforma seria implementada a partir do ano letivo 2020/2021. Nesse sentido, a partir da filosofia orientadora da Reforma há muito definida e guiados pelo trabalho desenvolvido nos anos anteriores relativamente à estruturação deste novo modelo de ensino, a AEFML participou de forma ativa, crítica e construtiva na organização dos diferentes semestres e na discussão relativa à necessidade da contratação de novos docentes, entre outros assuntos. Para além disso, procurou dar a perspetiva dos alunos relativamente às decisões tomadas e foi um elo de ligação fundamental entre a comunidade estudantil e os elementos da CIREC, quer pela sessão de esclarecimentos dinamizada a 8 de janeiro de 2020, quer pelos esclarecimentos informais prestados sempre que solicitados.
Era neste espírito que caminhávamos no sentido de limar as últimas arestas para a implementação de uma Reforma que estava próxima.
Todavia, o inexpectável aconteceu. E, se nenhum homem é uma ilha, uma reforma do ensino clínico que depende do trabalho coordenado de uma larga equipa de pessoas muito menos o é. Nesse sentido, tal como o mundo que nos rodeia, também esta reforma teve de se adaptar às circunstâncias que a pandemia COVID-19 trouxe. Assim, é provável que o momento mais marcante do meu trabalho na CIREC tenha sido a decisão difícil, mas inevitável, do adiamento em um ano da sua implementação.
Agora, mais de um ano volvido após esse momento, é com enorme satisfação que vejo que esta Reforma entrará finalmente em vigor, fruto de um enorme trabalho partilhado e muito frutífero entre docentes e alunos.
Estando a ver de fora, aguardo com expectativa a implementação prática deste modelo de Ensino pensado e delineado para a formação dos médicos do futuro, com a certeza que será um marco na história da FMUL que se repercutirá ao longo das próximas décadas nos cuidados de saúde que os médicos formados na nossa Instituição prestarão aos cidadãos de Portugal e do mundo.
António Velha
Presidente da Direção da AEFML 2020-2021
“(…) Todos teremos um papel a desempenhar, dando o nosso feedback de forma clara e construtiva para tentar otimizar o ensino e promover a saúde mental de todos nós (...)"
Apanhei o processo de implementação da reforma do ensino clínico já na sua reta final, sendo que a sua análise e construção teve lugar ao longo da última década. Durante o último ano letivo, foi principalmente feito um trabalho de recuperar daquele que foi o abrupto atrasar da reforma para o ano letivo 2021/2022, tendo em conta o impacto que a pandemia teve na nossa faculdade, bem como acompanhar a Comissão de Implementação da Reforma no ultimar dos planos de aulas teóricas e práticas, avaliações, aplicação de inovação pedagógica e organização de espaços pedagógicos, dado que toda a corrente filosófica e as alterações a implementar já haviam sido definidas em anos anteriores. Também existiu uma atenção na comunicação da reforma aos docentes e estudantes da faculdade, principalmente do curso 18-24, que irá ser o primeiro a contactar com a mesma.
Doravante, será feito um trabalho de acompanhar as modificações que a reforma trará e concluir a sua implementação ao nível do 5.º ano. Muitas destas alterações se falavam há bastante tempo e são amplamente necessárias – a integração de conteúdos, a reorganização e reequilíbrio dos conteúdos semestres, o aumento do contacto prático em detrimento das componentes teóricas, a autonomização da aprendizagem, entre outras. Outras alterações poderão ser um pouco mais controversas, sendo certo que será uma organização muito diferente do que estamos habituados.
Todas as alterações que vão ser introduzidas são baseadas num conjunto de princípios de educação médica e em evidência nesta área, mas não são dogmáticas, pelo que o próximo ano letivo será decisivo para percebermos o que funciona melhor ou pior e averiguar o impacto que terá sobre os estudantes, para que possamos aprender e melhorar a cada passo. Para isso todos teremos um papel a desempenhar, dando o nosso feedback de forma clara e construtiva para tentar otimizar o ensino e promover a saúde mental de todos nós, mantendo os princípios orientadores e estruturais da reforma. A integração de conteúdos, o outcome based education, os critérios de boas avaliações da WFME, entre outros. Existirão vias de auscultação, tanto diretas como por via dos representantes dos estudantes da CC 18-24, CP, CE e AEFML, para que o feedback chegue à Comissão de Acompanhamento da Implementação da Reforma e se possa transmitir todas as considerações e perspetivas dos estudantes.
Joana Sousa
Equipa Editorial