Na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, alunos e professores, juntam-se mensalmente para falar de Literatura e Medicina. Nesta iniciativa inovadora, grandes livros têm sido tema de conversa ao serão, procurando um novo olhar sobre o exercício da Medicina.
Referências dos organizadores:
Sofia Reimão: Professora da FMUL, Regente da Área disciplinar de Imagiologia, Médica Neurorradiologista no CHLN, EP, Mestre em Filosofia e Doutorada em Medicina na FMUL.
Teresa Santana: aluna do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina na FMUL.
Como surgiu esta iniciativa?
Sofia Reimão: Ao ouvir, num Podcast, o Dr. Tod Worner falar da importância da literatura na Medicina e como lecionava um curso sobre este tópico, pareceu-me que precisávamos de algo assim. Se não podíamos ir até aos Estados Unidos frequentar este curso, pensei que poderíamos organizar algo semelhante na FMUL e trazer o Dr. Tod Worner até Lisboa, mesmo que apenas de forma virtual.
Partilhei esta ideia com a aluna Teresa Santana que, prontamente e de forma entusiástica, aderiu à organização e concretização.
Estávamos em plena primeira vaga da pandemia e a viver momentos complicados. Precisávamos de momentos de esperança que nos fizessem ver para além dos momentos difíceis que estávamos a atravessar. E nada melhor que a literatura para nos levar a olhar mais além.
Surgiu, assim, a ideia de se criar um espaço que aliasse Literatura e Medicina, reunindo uma comunidade académica alargada, de alunos e professores da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, numa reflexão em torno de grandes obras da literatura universal.
Como funciona e o que abordam nestes serões?
Os serões têm uma periodicidade mensal, havendo um livro de referência (previamente divulgado no programa) cuja leitura é proposta para cada encontro. Na primeira parte dos serões, é feita uma introdução à obra escolhida por um ou mais oradores convidados, sendo a segunda parte aberta a discussão e partilha entre os participantes.
Quem pode participar? E como o podem fazer?
Os serões destinam-se primeiramente à comunidade académica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, tanto discente como docente. No entanto, são abertos a qualquer pessoa interessada. Para participar, basta aceder ao link disponibilizado no site da Faculdade, que remete automaticamente para o encontro (virtual), não sendo necessária inscrição prévia.
Qual é a importância destes serões?
Vivemos tempos inesperadamente difíceis e particularmente desafiantes. Como médicos, professores e alunos de Medicina, vemo-nos confrontados com muitas questões, sentindo no concreto os limites e a fragilidade do ser humano e os seus limites, o que nos fez olhar a existência/vida sob novos horizontes. Neste contexto, emergiram inúmeros desafios à nossa vocação que, como nenhuma outra, “toca” a profundidade do humano.
Perante a dureza de certos desafios e a desesperança gerada por alguns cenários, a literatura oferece-nos um novo olhar de esperança e um acesso privilegiado à experiência humana.
Numa época particularmente tecnológica, como é a que que atravessamos, em que tantas vezes se reduz a Medicina à sua componente técnica, as Humanidades e, em particular, a literatura, podem ajudar-nos a refletir sobre devolver o lado humano desta ciência que é também uma arte.
Estes serões são importantes para a formação/carreira dos alunos?
Embora a literatura sobre a qual nos debruçamos nestes serões não seja propriamente literatura de índole médica, no sentido estrito do termo, dir-se-ia que qualquer aluno tem muito a ganhar com a participação nestes encontros, não só para a sua formação enquanto futuro médico, mas, principalmente, enquanto pessoa, estando, evidentemente, ambos os domínios interligados.
A este respeito, parecem-nos bastante elucidativas as palavras do Professor João Lobo Antunes quando diz que “a Medicina tem um travo diferente quando é praticada por médicos cultos, não só porque apreendem mais facilmente a complexidade do que é estar doente (...), mas também porque desenvolvem aptidões como empatia, curiosidade, sentido de humor, imaginação, disponibilidade, que lhes permitem saborear melhor a profissão que abraçaram.”
Se só pudessem escolher um só livro, qual seria?
Teresa Santana: Escolher apenas um livro é uma tarefa difícil e, de certa forma, impossível; é bom recordar, contudo, que a riqueza da literatura também reside na sua diversidade. No entanto, diria que os bons livros são aqueles que têm a capacidade de nos ler, para usar a expressão de Lionel Trilling (“real books read us”). São habitualmente também aqueles que nos convidam a uma releitura e dos quais parece que conseguimos sempre retirar algo de novo.
Dito isto, a minha escolha recairia sobre “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry, que me parece ilustrar perfeitamente o velho adágio de que os grandes livros nem sempre são livros grandes. Se pudesse ainda acrescentar um autor, seria Sophia de Mello Breyner Andresen, com a sua escrita transparente, íntima e desarmante, que permanece sempre atual.
Sofia Reimão: Não consigo selecionar um livro. É tarefa, de facto, impossível. Apenas poderia escolher uma biblioteca, com os livros que me acompanharam em diferentes tempos, momentos, acontecimentos.
O próximo Serões de Literatura e Medicina realiza-se no dia 14 de maio, assista ao evento através do link.
Leonel Gomes
Equipa Editorial