Falar de escritores que são médicos, ou de médicos que são escritores é um tema interessante, mas não fácil. Existe na história da literatura mundial muitos casos de médicos escritores, que por paixão, talento ou curiosidade, seguiram, para além da sua profissão legitimada pela sociedade, um percurso não tão linear, o da literatura. Neste espaço, pretendemos dar a conhecer um pouco mais dos escritores e das suas obras e como estas se entrelaçam ou não no seu percurso pela medicina.
Neste mês de março, mês da Mulher, em que estreámos esta nova rubrica, foi fácil pensar que teria que ser sobre uma mulher médica escritora. Rapidamente lembrei-me de um livro que li há uns dois, três anos, “A mulher do chapéu de palha”, um livro reflexivo e nostálgico e de como achei curioso ter sido escrito por uma mulher portuguesa que era médica de profissão. Essa mulher chamava-se Graça Pina de Morais, nasceu no Porto, nos anos 20, filha também de um escritor e formou-se em Medicina em 1955, tendo-se dedicado a esta profissão durante largos anos. Em paralelo, ia publicando os seus livros, sempre com uma escrita muito intimista, simples e absorvente que tanto fala do quotidiano como do pensamento. Publicou quase toda a sua obra em vida, menos, curiosamente, o “A mulher do chapéu de palha”, que foi publicado apenas em 2000, 8 anos depois da sua morte. Dela, diz-se que era tímida e que não se juntava aos círculos literários da época. Por personalidade? Pelo mundo dos escritores ser, nesse tempo, em Portugal, um mundo ainda e apenas de homens?
De qualquer forma, atrevam-se a ler algo diferente, de uma mulher que esteve corajosamente em dois mundos, o da Literatura e da Medicina.
Obra editada pela editora Antígona:
Graça Pina de Morais
Sónia Teixeira
Equipa Editorial