Globalmente, a COVID-19, à data de 21 de Março de 2021, mantinha pela quarta semana consecutiva um crescimento, com 3,3 milhões de novos casos na semana de 15 de Março e, na mesma altura o número de mortes, após descida sustentada nas últimas semanas, atingiu um planalto de 60.000 casos. A região Europeia e das Américas reportaram cerca de 80% dos novos casos e de mortes. Após um ano de pandemia registaram-se cerca de 123 milhões de casos e cerca de 2,8 milhões de mortes (OMS, 21.03.2021). Em Portugal, à data de 24 de Março, o número acumulado de casos de COVID-19 era de cerca de 820 mil e o de mortes de cerca de 17 mil (DGS, 24.03.2021).
A Organização Mundial de Saúde considera a situação muito preocupante, sendo as campanhas de vacinação e a emergência de variantes passíveis de terem impacto na evolução dos padrões de transmissão.
As vacinas são o melhor meio para travar a pandemia e, actualmente, três vacinas estão disponíveis para a COVID-19, sendo a prioridade salvar tantas vidas quanto possível, reduzindo, também, as hospitalizações, que criaram, entre nós, uma pressão enorme no Serviço Nacional de Saúde. Para já é necessário que seja dada prioridade àqueles grupos de pessoas mais vulneráveis, os mais idosos, que representam cerca de 87% das mortes por COVID-19. Um programa de vacinação de sucesso irá proteger as pessoas de doença grave e permitirá o retorno a uma vida próxima do normal, mas para que tal aconteça é necessário avançar cedo e sem demora. Porém, até que sejam atingidos estes objectivos, torna-se necessário que cada um cumpra a sua parte – manter-se, sempre que possível, em casa, lavar as mãos, usar máscaras faciais, manter as distâncias e limitar o contacto social. Testar, rastrear e isolar, incluindo aqueles infectados, mas assintomáticos, é crucial para manter o vírus sob controlo.
A emergência e a predominância, nalgumas regiões, de múltiplas novas variantes, altamente infecciosas, tem tido um impacto global dramático na epidemiologia da SARS-CoV-2. Para além do aumento da transmissibilidade, estas variantes são mais virulentas e com capacidade potencial de evasão à memória imunitária induzida pelas vacinas ou pela própria infecção. Acredita-se que estas variantes possam ter origem em indivíduos com capacidade imunitária reduzida para controlar o vírus, mas os factores conducentes à sua disseminação e à capacidade de se substituírem às outras variantes circulantes estão pouco caracterizados.
As variantes mais importantes são a B.1.1.7, a B.1.351 e a B.1.1.28.1, que foram, pela primeira vez, identificadas, respectivamente, no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil. Estas variantes, com maior capacidade de transmissibilidade do que as variantes ancestrais circulantes, têm, também, para os seus portadores, risco acrescido de hospitalização, maior gravidade e mortalidade (excepto para a variante B.1.1.28.1) e redução na capacidade de neutralização pelo plasma de convalescentes da COVID-19, com risco potencial de reinfecção (excepto para a B.1.1.7).
Quanto ao impacto potencial na eficácia das vacinas, não estão identificadas alterações significativas na capacidade neutralizante induzida pelas vacinas da Moderna, Pfizer-BioNTech e Oxford-AstraZeneca, em relação às variantes B.1.1.7 e B.1.1.28.1. No entretanto, as vacinas da Moderna, Pfizer e Oxford-AstraZeneca revelaram redução substancial da actividade neutralizante face à variante B.1.351. No que se refere à prevenção da doença não se verificaram alterações da eficácia, em relação às vacinas da Oxford-AstraZeneca e da Pfizer, quanto à variante B.1.1.7. No que se refere à variante B.1.351, a vacina da AstraZeneca parece ter alguma redução da eficácia para a doença por COVID-19, sendo plausível que o efeito para a doença grave esteja, também, em parte, comprometida.
Os estudos são limitados no impacto destas vacinas na prevenção da infecção, mas a eficácia contra estas variantes parece reduzida.
Todos os vírus, incluindo SARS-CoV-2 têm tendência a evoluírem, de que resulta a emergência de novas variantes, a maioria sem benefício directo para o vírus ou impacto em termos de saúde pública. O potencial para a mutação dos vírus aumenta com o crescimento da frequência das infecções no homem e nos animais. A redução da transmissão, da SARS-CoV-2, através do controlo da doença, assim como evitando a sua introdução em populações de animais são os aspectos mais importantes para a redução da emergência de mutações, que possam ter implicações negativas em saúde pública. Por outro lado, para além da vacinação, o reforço do distanciamento físico e de outras medidas de saúde pública e sociais são, também, da maior importância para a redução da propagação da SARS-CoV-2, incluindo as novas variantes.
Nota: Este texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.
Prof. Francisco Antunes
Infecciologista/Professor Jubilado da FMUL