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Associação dos Antigos Alunos da Faculdade Medicina de Lisboa (AAAFML) inicia ciclo de Debates.
"…Entrar para Medicina não pode, nunca, excluir a Vocação e o sentido Humano da Profissão…”
Professor António Gentil Martins
Iniciou-se, no passado 13 de Janeiro 2010, um ciclo de debates promovidos pela AAAFML, com periodicidade trimestral, tendo como objectivo promover uma reflexão académica alargada e auscultar as diversas sensibilidades em torno de questões que envolvem a educação médica, sociedade civil, médicos e profissionais de saúde.
Que Médicos queremos para o nosso País?
Que Médicos estamos a formar actualmente?
Foram estas as duas perguntas que motivaram o primeiro encontro sobre temas relacionados com o ensino e prática médicas.
O debate foi Moderado pelo Dr. Rui Simões Bento, Cirurgião Cardiotorácico, ex-Presidente do Conselho Nacional de Deontologias e Ética da Ordem dos Médicos e Presidente da AAAFM.
Foram Palestrantes o Prof. Doutor José Fernandes e Fernandes, Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), o Prof. Doutor João Martins e Silva, Professor Catedrático e Médico Patologista Clínico, ex-Director da FMUL e do Instituto de Biopatologia Química, autor do livro “Um Projecto de Educação Médica”, o Dr. Fernando Esteves Franco, Médico Ortopedista, ex-Director do Serviço de Ortopedia e do Hospital de Faro e Diogo Medina, aluno do 5º Ano do Mestrado Integrado em Medicina, Presidente da Associação de Estudantes da FMUL.
Na introdução ao debate, o moderador Dr. Rui Simões, falou da pertinência das perguntas em debate para os médicos. "São 40673 inscritos em Portugal, distribuídos por 47 especialidades num sistema Nacional de Saúde que se tem desenvolvido com alterações na formação introduzidas a nível da União Europeia e novos cursos em Aveiro e no Algarve" referiu.
A seguir o Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), Prof. Doutor Fernandes e Fernandes agradeceu a Associação pela iniciativa e por contribuir para o diálogo entre gerações de médicos. Começou por falar da panorâmica actual da Faculdade.” De acordo com o processo de Bolonha a Medicina não é uma Licenciatura mas sim um Mestrado Integrado. Temos também uma colaboração importante com o Instituto Superior Técnico para um Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica e várias pós-graduações nas Disciplinas da Saúde. A Faculdade não pode limitar-se ao ensino pré-graduado, devemos virar-nos para o ensino pós-graduado e a educação médica permanente porque essa é também a nossa responsabilidade” disse. O Director da Faculdade considerou ainda que a medicina do século XXI vai ser baseada na ciência e centrada no doente. “Para tal é necessário que haja capacidade de comunicação, a necessidade de auto-aprendizagem e de educação permanente” referiu. “Aos alunos deve-se transmitir que a medicina será praticada em equipas multidisciplinares, centrada nos valores dos doentes porque estes têm direito ao acesso aos seus dados e a uma segunda opinião. Porque este é um curso exigente deve permitir-se uma escolha informada da profissão” disse ainda o Prof. Doutor Fernandes e Fernandes. No seu discurso realçou também a importância da publicação da Portaria que criou o Centro Académico de Lisboa, um consórcio entre a Faculdade de Medicina, o Instituto de Medicina Molecular e o Centro Hospitalar Lisboa Norte o qual vai permitir uma melhor articulação entre estas três instituições.
O segundo palestrante, Presidente da mesa da Assembleia Geral da Associação dos Antigos Alunos referiu, por sua vez, que este era um tema importante, constantemente reciclado ligado à noção daquilo que é o bom médico no plano da relação com o doente. “Hoje, no entanto, em muitas especialidades existe uma disposição, uma metologia especial que de certo modo limita esse relacionamento médico/doente porque a nossa profissão se tem especializado muito” considerou a esse propósito. O que é que é que a sociedade exige? Quais são as exigências dos doentes e o que é que os alunos pretendem formam um conjunto de perguntas que, no entender do Prof. Doutor J. Martins e Silva, devem ser equacionadas na formação médica. Para terminar focou a aprendizagem porque disse, “ não deve só haver matéria mas sim uma reflexão sobre essa matéria para se chegar à capacidade de intervenção terapêutica”.
Um dos intervenientes no debate, Dr. Fernando Esteves Franco considerou que os médicos têm que exigir participar na organização hospitalar. Deu, por isso, nota positiva à intenção da Ministra da Saúde, Ana Jorge, de criar comissões consultivas, já em 2010. Pelo contrário, criticou a desarticulação dos cuidados primários e diferenciados, assim como, o facto de se estar o produzir, em Portugal, bons médicos, não lhe dando, no entanto, boas condições de trabalho. “Excesso de trabalho, médicos saltitando de urgência em urgência, são situações que não favorecem a humanização dos serviços de saúde” referiu.
Por seu lado, Diogo Medina focou algumas questões essenciais do exercício da medicina. Considerou que, nesta área, os estudantes são aqueles que têm melhor preparação académica e é o desafio intelectual que move muitos deles: “aquilo que aprendemos deve levar-nos a gostar da medicina”, salientou. “No passado, o curso estava mais virado para a parte académica e não para a parte humana, felizmente, hoje já não é assim”. Referindo ainda que “Se houve de facto uma melhoria na componente humana é altura de se fazer uma reavaliação. Será necessário uma nova reforma curricular que destaque o gosto pela investigação, que olhe para os resultados académicos, para as unidade opcionais e para o Programa Sócrates – Erasmus”.
Referiu-se também ao Núcleo de Cooperação Internacional que, no seu entender, “não funciona e onde é necessário dar apoio aos alunos”. Como pontos positivos aludiu ao facto do ensino clínico ser cada vez mais precoce, igualmente, o trabalho final de mestrado e, por fim, a cooperação entre faculdades, que deve ser cada vez maior, acabando de vez com o espírito de “cerca”. Diogo Medina deixou ainda um pedido: para que estas sessões futuramente ocorram no período da tarde, para possibilitar uma maior participação de alunos e professores.
No debate que se seguiu, Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, considerou que “o Serviço Nacional de Saúde foi tomado de assalto por gestores e passou a ser mais importante o que se produz, perdendo-se o impulso para uma reflexão”. O bastonário salientou, ainda, que ”a imagem que a comunicação social transmite dos médicos é diferente daquilo que as pessoas pensam no contacto diário porque ainda existe, de facto, uma ideia de credibilidade e seriedade da classe”. “O bem mais escasso é o tempo e, cada vez menos, conseguimos reunir para reflectir sobre a nossa profissão”, lamentou ainda.
Outro interveniente, o Professor António Gentil Martins, quis deixar bem claro que “não se quer médicos que tenham clientes, mas sim que tenham doentes!”. A esse propósito abordou, também, a proposta de vocação para o curso de medicina onde, segundo ele, se devia fazer voluntariado social no ensino secundário antes de enveredar pela carreira médica, do mesmo modo que devia ser feita uma avaliação curricular no acesso.
Com periodicidade trimestral estão já agendados pela Associação, sem datas ainda definidas, os seguintes temas a abordar:
- ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL. Será que existem como valores ou serão reminiscências para esquecer ou ignorar? Prevalecem ou deverão prevalecer os contravalores?
- CONSENTIMENTO ESCLARECIDO... E informado até onde?
- TESTAMENTO VITAL. Aberração ou direito?
- CUIDADOS CONTINUADOS, utopia ou prática consequente?
- EUTANÁSIA. Selecção da Desistência ou da Persistência?
As sessões estão previstas com uma duração máxima de 2 horas, das 11 às 13 horas mas, como foi referido na sessão, o horário pode vir a ser alterado de modo a permitir uma maior participação, uma vez que, como os organizadores reconheceram, esta é uma hora de consultas e blocos operatórios para os clínicos e de aulas para os estudantes.ML FMUL
Mais informações no Site Oficial em http://sites.google.com/site/aaafmul/Home ou no Blog da Associação dos Antigos Alunos em http://aaafml.blogspot.com/
Carlos André
Equipa Editorial news@fmul
carlos.andre@campus.ul.pt
Professor António Gentil Martins
Iniciou-se, no passado 13 de Janeiro 2010, um ciclo de debates promovidos pela AAAFML, com periodicidade trimestral, tendo como objectivo promover uma reflexão académica alargada e auscultar as diversas sensibilidades em torno de questões que envolvem a educação médica, sociedade civil, médicos e profissionais de saúde.
Que Médicos queremos para o nosso País?
Que Médicos estamos a formar actualmente?
Foram estas as duas perguntas que motivaram o primeiro encontro sobre temas relacionados com o ensino e prática médicas.
O debate foi Moderado pelo Dr. Rui Simões Bento, Cirurgião Cardiotorácico, ex-Presidente do Conselho Nacional de Deontologias e Ética da Ordem dos Médicos e Presidente da AAAFM.
Foram Palestrantes o Prof. Doutor José Fernandes e Fernandes, Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), o Prof. Doutor João Martins e Silva, Professor Catedrático e Médico Patologista Clínico, ex-Director da FMUL e do Instituto de Biopatologia Química, autor do livro “Um Projecto de Educação Médica”, o Dr. Fernando Esteves Franco, Médico Ortopedista, ex-Director do Serviço de Ortopedia e do Hospital de Faro e Diogo Medina, aluno do 5º Ano do Mestrado Integrado em Medicina, Presidente da Associação de Estudantes da FMUL.
Na introdução ao debate, o moderador Dr. Rui Simões, falou da pertinência das perguntas em debate para os médicos. "São 40673 inscritos em Portugal, distribuídos por 47 especialidades num sistema Nacional de Saúde que se tem desenvolvido com alterações na formação introduzidas a nível da União Europeia e novos cursos em Aveiro e no Algarve" referiu.
A seguir o Director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), Prof. Doutor Fernandes e Fernandes agradeceu a Associação pela iniciativa e por contribuir para o diálogo entre gerações de médicos. Começou por falar da panorâmica actual da Faculdade.” De acordo com o processo de Bolonha a Medicina não é uma Licenciatura mas sim um Mestrado Integrado. Temos também uma colaboração importante com o Instituto Superior Técnico para um Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica e várias pós-graduações nas Disciplinas da Saúde. A Faculdade não pode limitar-se ao ensino pré-graduado, devemos virar-nos para o ensino pós-graduado e a educação médica permanente porque essa é também a nossa responsabilidade” disse. O Director da Faculdade considerou ainda que a medicina do século XXI vai ser baseada na ciência e centrada no doente. “Para tal é necessário que haja capacidade de comunicação, a necessidade de auto-aprendizagem e de educação permanente” referiu. “Aos alunos deve-se transmitir que a medicina será praticada em equipas multidisciplinares, centrada nos valores dos doentes porque estes têm direito ao acesso aos seus dados e a uma segunda opinião. Porque este é um curso exigente deve permitir-se uma escolha informada da profissão” disse ainda o Prof. Doutor Fernandes e Fernandes. No seu discurso realçou também a importância da publicação da Portaria que criou o Centro Académico de Lisboa, um consórcio entre a Faculdade de Medicina, o Instituto de Medicina Molecular e o Centro Hospitalar Lisboa Norte o qual vai permitir uma melhor articulação entre estas três instituições.
O segundo palestrante, Presidente da mesa da Assembleia Geral da Associação dos Antigos Alunos referiu, por sua vez, que este era um tema importante, constantemente reciclado ligado à noção daquilo que é o bom médico no plano da relação com o doente. “Hoje, no entanto, em muitas especialidades existe uma disposição, uma metologia especial que de certo modo limita esse relacionamento médico/doente porque a nossa profissão se tem especializado muito” considerou a esse propósito. O que é que é que a sociedade exige? Quais são as exigências dos doentes e o que é que os alunos pretendem formam um conjunto de perguntas que, no entender do Prof. Doutor J. Martins e Silva, devem ser equacionadas na formação médica. Para terminar focou a aprendizagem porque disse, “ não deve só haver matéria mas sim uma reflexão sobre essa matéria para se chegar à capacidade de intervenção terapêutica”.
Um dos intervenientes no debate, Dr. Fernando Esteves Franco considerou que os médicos têm que exigir participar na organização hospitalar. Deu, por isso, nota positiva à intenção da Ministra da Saúde, Ana Jorge, de criar comissões consultivas, já em 2010. Pelo contrário, criticou a desarticulação dos cuidados primários e diferenciados, assim como, o facto de se estar o produzir, em Portugal, bons médicos, não lhe dando, no entanto, boas condições de trabalho. “Excesso de trabalho, médicos saltitando de urgência em urgência, são situações que não favorecem a humanização dos serviços de saúde” referiu.
Por seu lado, Diogo Medina focou algumas questões essenciais do exercício da medicina. Considerou que, nesta área, os estudantes são aqueles que têm melhor preparação académica e é o desafio intelectual que move muitos deles: “aquilo que aprendemos deve levar-nos a gostar da medicina”, salientou. “No passado, o curso estava mais virado para a parte académica e não para a parte humana, felizmente, hoje já não é assim”. Referindo ainda que “Se houve de facto uma melhoria na componente humana é altura de se fazer uma reavaliação. Será necessário uma nova reforma curricular que destaque o gosto pela investigação, que olhe para os resultados académicos, para as unidade opcionais e para o Programa Sócrates – Erasmus”.
Referiu-se também ao Núcleo de Cooperação Internacional que, no seu entender, “não funciona e onde é necessário dar apoio aos alunos”. Como pontos positivos aludiu ao facto do ensino clínico ser cada vez mais precoce, igualmente, o trabalho final de mestrado e, por fim, a cooperação entre faculdades, que deve ser cada vez maior, acabando de vez com o espírito de “cerca”. Diogo Medina deixou ainda um pedido: para que estas sessões futuramente ocorram no período da tarde, para possibilitar uma maior participação de alunos e professores.
No debate que se seguiu, Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, considerou que “o Serviço Nacional de Saúde foi tomado de assalto por gestores e passou a ser mais importante o que se produz, perdendo-se o impulso para uma reflexão”. O bastonário salientou, ainda, que ”a imagem que a comunicação social transmite dos médicos é diferente daquilo que as pessoas pensam no contacto diário porque ainda existe, de facto, uma ideia de credibilidade e seriedade da classe”. “O bem mais escasso é o tempo e, cada vez menos, conseguimos reunir para reflectir sobre a nossa profissão”, lamentou ainda.
Outro interveniente, o Professor António Gentil Martins, quis deixar bem claro que “não se quer médicos que tenham clientes, mas sim que tenham doentes!”. A esse propósito abordou, também, a proposta de vocação para o curso de medicina onde, segundo ele, se devia fazer voluntariado social no ensino secundário antes de enveredar pela carreira médica, do mesmo modo que devia ser feita uma avaliação curricular no acesso.
Com periodicidade trimestral estão já agendados pela Associação, sem datas ainda definidas, os seguintes temas a abordar:
- ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL. Será que existem como valores ou serão reminiscências para esquecer ou ignorar? Prevalecem ou deverão prevalecer os contravalores?
- CONSENTIMENTO ESCLARECIDO... E informado até onde?
- TESTAMENTO VITAL. Aberração ou direito?
- CUIDADOS CONTINUADOS, utopia ou prática consequente?
- EUTANÁSIA. Selecção da Desistência ou da Persistência?
As sessões estão previstas com uma duração máxima de 2 horas, das 11 às 13 horas mas, como foi referido na sessão, o horário pode vir a ser alterado de modo a permitir uma maior participação, uma vez que, como os organizadores reconheceram, esta é uma hora de consultas e blocos operatórios para os clínicos e de aulas para os estudantes.ML FMUL
Mais informações no Site Oficial em http://sites.google.com/site/aaafmul/Home ou no Blog da Associação dos Antigos Alunos em http://aaafml.blogspot.com/
Carlos André
Equipa Editorial news@fmul
carlos.andre@campus.ul.pt