A equipa que constitui o Projeto Mentoring 2.0 não se deixou vencer pelas dificuldades deste ano e decidiu tirar proveito das potencialidades do digital, alargar horizontes e presentear a comunidade académica, não só da FMUL, mas também de outras escolas médicas, com as Job Talks: Up We Grow.
Este ano, a iniciativa, já bem conhecida da nossa casa, dividiu-se em 3 partes: Palestras, Job Talks e Workshops, tendo somado 421 participantes, entre eles, alguns estudantes extra FMUL, provenientes de outras Faculdades de Medicina, nomeadamente, da Universidade de Coimbra, da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade da Beira Interior, entre outras.
O leque de palestrantes e oradores foi variado e polivalente. Alguns formados na FMUL, outros com percursos curiosos, todos com um único objetivo em mente: dissipar as dúvidas sobre as diferentes carreiras futuras dos nossos jovens estudantes. Entre perfis mais convencionais e outros mais alternativos, apresentamos-lhe alguns exemplos, que decerto permitirão demonstrar que nem todos as escolhas têm de ser as mesmas, há margem para variedade e combinações diversas.
Ao final de dois dias de trabalho árduo (2 e 3 de dezembro), a equipa de Mentoring 2.0 conseguiu provar que é possível inovar e colorir a profissão de nutricionista, médico ou investigador com outros pantones na teia empresarial.
Ana Sofia Brito, Licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), especialista em Psiquiatria e Saúde Mental e em Psiquiatria Forense, foi docente na FMUL, é colaboradora do Centro de Ciências Forenses do Instituto de Investigação interdisciplinar da Universidade de Coimbra. Possuindo uma vasta experiência clínica em meio prisional (2012-2016), foi uma das caras das Job Talks de Medicina, dando a conhecer, precisamente, o seu percurso na Psiquiatria Forense.
A Psiquiatria Forense é uma subespecialidade da Psiquiatria, auxiliar do Direito, em que o conhecimento psiquiátrico é colocado ao serviço da Justiça. Tendo sido constituída como subespecialidade, em janeiro de 2015, em sede do Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos a Psiquiatria Forense.
Quando questionada sobre a forma como este ramo da psiquiatria poderá influenciar a Saúde da sociedade, Ana Sofia Brito adianta que a “A subespecialidade de Psiquiatria Forense não terá como objetivo primeiro acautelar a Saúde Mental da população. (…) O seu propósito é legal e não médico, sendo a função do Psiquiatra Forense a produção da prova pericial e não o tratamento médico, distanciando-se do modelo curativo na procura de uma verdade factual”. Contudo, a especialista garante também que “para além da atividade pericial o Psiquiatra Forense deverá estar familiarizado com procedimentos terapêuticos, indicados em determinados tipos de comportamento que levam ao cometimento de atos delituosos, e com os pressupostos que legitimam o internamento daqueles que são portadores de anomalia psíquica grave, ou que se encontram em situação que possa implicar perigo para si ou para terceiros ou deterioração do seu estado de saúde, caso não possuam discernimento para avaliar o sentido e alcance do consentimento para se submeterem a tratamento.” Apenas neste sentido, é possível afirmar que a Psiquiatria Forense pode ser considerada um ramo da psiquiatria que influencia a Saúde de uma sociedade.
Outra das questões colocadas, durante o seu testemunho, foi de que forma é que a Psiquiatria Forense poderia apoiar o setor da Justiça nas tomadas de decisões. De acordo com a especialista: “Para que alguém possa ser considerado como tendo capacidade civil e penal e consequentemente possa responder pelos seus atos, é necessário que apresente saúde mental e maturidade psíquica. A imputabilidade penal implica que o agente tenha pleno discernimento dos seus atos ou capacidade para se determinar de acordo com esse entendimento. A responsabilidade penal surge assim, como consequência dos atos praticados de acordo com esse mesmo entendimento. A capacidade Civil implica a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações, sem necessidade de representação legal. A Psiquiatria Forense ajuda a esclarecer sobre a existência ou não de perturbação ou doença mental e clarificar em que dimensão é que essa mesma alteração terá implicações na atribuição da responsabilidade por determinado ato específico. Em concreto, cabe ao perito aplicar o seu saber no sentido de colaborar com a Justiça, habilitando o Tribunal a decidir em consciência.”
Ainda de acordo com Ana Sofia Brito, procurando uma classificação mais técnica, podemos afirmar que o Perito:
“É a pessoa que refere principalmente as suas apreciações, mas também as suas perceções sobre factos presentes, usando em qualquer dos casos os conhecimentos especiais que possui ou o estatuto profissional que lhe é próprio” (A. Varela, Man. Proc. Civil, 2ª ed.-579). É uma prática médica que contribui para diversas áreas do Direito e fortalece uma aplicação jurídica mais justa e em consonância com os princípios éticos. Através do diálogo com quem conhece a psicopatologia e sabe avaliar a cognição, a afetividade e o comportamento, são feitos juízos Técnico científicos informados e cuidados, objetivos e imparciais, executados de acordo com a Leges Artis”.
A Telesaúde foi igualmente um tema abordado, durante a Palestra dedicada às áreas emergentes da medicina, na qual destacamos o Doutor Miguel Santos, também ele licenciado na FMUL, Assistente Hospitalar em Cardiologia no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca e consultor médico externo nos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) na Direção do Centro Nacional de TeleSaúde e do SNS 24. Sobre os conceitos de Telesaúde, eSaúde e Telemedicina, o médico cardiologista começou por esclarecer que não são sinónimos, apesar da sua proximidade (por se basearem na utilização de tecnologias de informação e comunicação- para apoiar à distância a saúde, nas vertentes da prestação de cuidados, da organização dos serviços e da formação de profissionais de saúde e cidadãos).
De acordo com o Doutor Miguel Santos: “Apesar de existirem há mais de duas décadas, até 2020 não faziam parte do quotidiano da maioria dos médicos ou cidadãos. Durante estes mais de 20 anos, as soluções tecnológicas e a evidência científica foram sendo construídas, mas manteve-se sempre a discussão sobre “Devemos avançar?”. A natureza humana é a do contacto pessoal, não é a do contacto com um ecrã – nisto concordamos todos. No entanto, se já era claro para alguns que a Telesaúde seria uma necessidade para alguns doentes com mais dificuldades de deslocação, e também para a sustentabilidade dos sistemas de saúde, a pandemia de COVID-19 veio tornar isto claro para todos”.
Ainda sobre a sua colaboração nas Job Talks, o antigo estudante da FMUL deixou bem claro ter sido um prazer poder partilhar um pouco do estado atual da telemedicina em Portugal, na Faculdade onde se formou há 15 anos. Sobre a promoção da Telesaúde refere ainda que “À semelhança do que é feito nas escolas médicas de topo a nível mundial, o ensino médico, a nível nacional, terá de se adaptar. Para os doentes será fundamental que os médicos saibam fazer uma anamnese e exame físico durante uma teleconsulta tão bem como sabem fazê-lo presencialmente”.
João Lopes, licenciado em Nutrição pela ESTeSL, desde sempre se focou na área do Desporto. No desempenho das suas funções, na qualidade de nutricionista no Sporting Clube de Portugal e na ComCorpus Clinic, João Lopes afirma que a sua principal preocupação diária é a manutenção da performance dos seus atletas, principalmente no que diz respeito a dois pontos críticos: A gestão de fadiga, e a gestão de composição corporal. “A nutrição pode certamente impulsionar a performance dos atletas, especialmente quando adaptada às particularidades do exercício que desempenham. O goal do atleta é a execução técnica / física ao melhor nível possível, e nesse sentido, as estratégias alimentares pré, intra, e pós evento são muito importantes, com especial ênfase nas estratégias nutricionais delineadas na semana anterior ao evento. Também é possível (e aconselhado) treinar as estratégias nutricionais, para maior eficácia. Como exemplo, o aporte aumentado de hidratos de carbono no período pré competição e durante a competição.”
Sobre a sua colaboração na Job Talk de Nutrição, tem a salientar a relevância desta oportunidade que permite oferecer um vislumbre da profissão, na sua vertente prática, e, em paralelo, abrir horizontes para um leque de especializações e, deste modo, ir ao encontro das preferências pessoais de cada estudante.
Mas não procurámos testemunhos apenas dos oradores convidados, os estudantes da nossa escola têm também uma palavra a dizer sobre esta iniciativa, que muito os pode ajudar:
Inês Costa Louro, aluna do 4º ano MIM
“Este projeto é de extrema importância, principalmente numa altura em que os estudantes da FMUL começam a pensar no seu futuro e nas oportunidades que têm. Não só nos ajuda a conhecer várias especialidades e a "criar um bichinho" por algumas que nunca considerámos, como também nos permite abrir horizontes e contemplar possibilidades que fujam ao percurso clássico de um clínico, através de palestras sobre voluntariado e áreas emergentes na medicina. É essencial a existência de eventos que nos permitam ganhar outra visão sobre os diferentes rumos que o nosso futuro pode tomar e que nos motive a procurar novas opções e percursos e o Up We Grow conseguiu reunir todas essas qualidades.”
Sara Lopes, aluna do 3º ano LCN
“A iniciativa foi muito importante para o meu futuro profissional, pois mostrou-me as diferentes realidades da atividade profissional do nutricionista e mostrou-me projetos e áreas de atuação que desconhecia, mas que podem ser uma porta de entrada para a minha vida profissional. Sem dúvida, é uma mais-valia a existência deste projeto!”
As Job Talk Up We Grow não se limitaram aos temas da Psiquiatria Forense, Telemedicina ou Nutrição no Desporto, muitos foram os assuntos em cima da mesa. Resta-nos esperar o que a equipa do Mentoring 2.0 nos poderá oferecer no próximo ano. Uma coisa é certa, este projeto e as suas iniciativas estão sempre presentes para apoiar os estudantes, e conseguem sempre surpreender por se apoiar em escolhas capazes de acompanhar as tendências.
Isabel Varela
Equipa Editorial