Conhecemos o Pedro Pinto das inúmeras atividades académicas onde se envolveu e pelas quais deu sempre um sorriso. Atualmente no 6º ano do MIM, está a estagiar no Hospital Beatriz Ângelo.
Um dos momentos mais marcantes das Jornadas de Introdução, dias dedicados aos novos estudantes, foi o seu relato sobre o que é ser aluno de Medicina, mas não num qualquer lugar. Empático, mas no entanto reservado, o Pedro falou da importância que tem ser aluno numa Instituição como a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A sua segunda, tantas vezes primeira, casa.
Pelas palavras, pela exposição de alguns receios, pela generosidade da comoção de fácil contágio geral.
Obrigada Pedro e bom trabalho!
Joana Sousa
Equipa Editorial
Sejam muito bem-vindos à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa!
Começo por me apresentar, o meu nome é Pedro Pinto, sou vosso colega do 6º ano e, muito provavelmente, esta será a primeira e última vez que nos vamos cruzar, o que faz desta uma oportunidade única para vos marcar e partilhar com vocês um pouco do meu percurso na faculdade.
Vamos recuar no tempo até setembro de 2015. Há 5 anos estava sentado no vosso lugar. Como muitos de vocês, não sou de Lisboa e, por isso, era um aluno “deslocado”. Apesar de ter uma nota de entrada que me desse alguma “certeza” para entrar no curso, não posso esconder a incerteza que carregava comigo da primeira vez que entrei na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Com 19 anos, na altura, era pequeno o suficiente para ainda receber um “Boa sorte meu filho, entra com o pé direito. Vais ser muito feliz aí”. E não é que as mães têm sempre razão? A partir desse dia englobaram-me em algo maior e chamaram-me de “aluno da FMUL”.
O mais engraçado é que, ao fim de 5 anos, ainda não vos consigo definir “aluno da FMUL” numa única palavra. Por isso, decidi partilhar com vocês o que foi o meu percurso enquanto aluno desta casa.
Comecei, tal como vocês, sentado neste auditório. Enquanto caloiro vesti a minha t-shirt amarela dias e dias e dias a fio. Pelo nome da Faculdade, saí à rua e mostrei-me a Lisboa, mostrámos porque não tem de existir Coimbra em Lisboa mas sim Lisboa em Lisboa. Varremos as ruas com o maior orgulho por fazer parte desta casa e por ser “aluno da FMUL”. Gritámos. Muito. Até que todas as pessoas em Lisboa ouvissem que “A Faculdade de Medicina estava a chegar”.
No 2º ano percebi que queria ter um papel mais ativo na Faculdade. Sabia que queria marcar a Faculdade e as pessoas à minha volta, não sabia muito bem como, mas rapidamente iria perceber. Antes de tentar mudar o mundo, achei que seria prudente ser um pouco menos ambicioso e comecei, como muitos amigos meus, como “monitor de anatomia”.
Nesse mesmo ano, inscrevi-me na Comissão Organizadora da IV Corrida Saúde+Solidária e, por um erro de casting, acabei por ficar. E foi aí que eu percebi que, afinal, não só ia conseguir mudar o mundo como ia pôr toda a gente a correr.
Gostei tanto que, no meu 3º ano, voltei a repetir a experiência e fiz parte da V edição da Corrida Saúde+Solidária. Neste mesmo ano, tive o prazer de pertencer à AEFML e digo-vos que, apesar de ainda não terem ouvido esta frase, rapidamente vão ficar fartos dela, mas a “AEFML é mesmo a casa de todos os sonhos”.
Chegamos ao 4º ano e continuei na Corrida Saúde+Solidária, desta vez como Coordenador Geral da VI edição, juntamente com a minha amiga Matilde Boavida e outros 18 loucos. Fizemos uma edição que, modéstia à parte, foi muito boa. Não poderia deixar de fazer uma referência aos meus amigos e limito-me a dizer que, a Sentir o Sol, não fomos quatro e meia, mas sim 1800 pessoas a correr na manhã de 28 de abril de 2019.
No 5º ano, integrei a Comissão Organizadora da Noite da Medicina, juntei-me à Comissão Organizadora das Olimpíadas da Medicina mas, infelizmente, nenhum desses projetos se pôde realizar, pelo que ficou parte da experiência cumprida.
E agora chegamos ao dia 1 de outubro de 2020. Sou um aluno do 6º ano, estou algures no limbo entre a Faculdade e os hospitais, nos quais vou realizar estágio e agora sim, estou “perto do mundo dos grandes”.
Depois destes últimos minutos a ouvirem uma palestra sobre “Pedro Pinto” queria retomar o início da nossa conversa: eu sou e fui um aluno da FMUL. À minha maneira e feitio. E isso sim é ser um aluno da FMUL. É perceber que somos todos de sítios diferentes. Temos histórias diferentes. Temos ambições e interesses diferentes. Temos amigos diferentes. Temos famílias diferentes. Temos diferenças, mas temos o maior respeito pelas mesmas.
Em comum temos a Medicina. Temos o Hospital Santa Maria e temos a Faculdade de Medicina de Lisboa.
Em comum deixamos as nossas cidades, as nossas famílias e os nossos amigos. Enchemos a mala com sonhos, com ambições e com muita vontade de crescer. Temos medo e vamos ter sempre. Do 1º ao 6º ano. Mas algo nos diz que temos que ir em frente e assim o fazemos.
Chegamos a Lisboa e, ao fim de algum tempo, fazemos desta a nossa casa. Porque a nossa casa é onde estão as nossas pessoas.
Não me refiro apenas a docentes, médicos, enfermeiros, assistentes, investigadores, nem a todo o conjunto de pessoas que, diariamente, contribuem para a vossa e minha formação.
Refiro-me a vocês. Que, neste momento, se sentam lado a lado. Que muitas vezes vão entrar pela porta da Faculdade ainda com pouca noção do peso que vos cai nos ombros. A vocês que eu espero que venham a ter a oportunidade de vestir a t-shirt amarela que eu vesti. Que o amarelo passe para o preto e herdem anos de história e cultura. E o preto se intercale com o branco e vistam a bata que, confiem em mim, é ainda mais pesada que o traje preto ou a t-shirt amarela.
Sejam ativos. Ajudem a construir uma Faculdade melhor do que aquela que encontraram. Vão existir vários momentos nos quais podem utilizar a mais valiosa ferramenta da pedagogia e do ensino médico: o feedback. Porque a Faculdade tem falhas e cabe a vocês, alunos da FMUL, sinalizar e mover esforços para que estas falhas sejam corrigidas.
Aproveitem estes 6 anos para se conhecerem a vocês próprios. Um aluno da FMUL é mais do que um aluno de medicina, por muito assustador que esta ideia possa parecer ao início. A FMUL, com o grande apoio da AEFML, permite-vos crescer nas mais variadas dimensões: artística, cultural, desportiva, voluntariado, entre outros. A FMUL está ciente de que um bom médico é feito de experiências e não apenas de conhecimento teórico. Mas não se iludam. As oportunidades surgem para quem as procura. Façam por isso.
Quase para terminar, deixo-vos um conselho: as pessoas que se sentam ao vosso lado não são inimigos. Antes pelo contrário. As pessoas que se sentam ao vosso lado vão ser os vossos companheiros de guerra. São as pessoas que vão fazer parte da vossa rotina, que vos vão dar os parabéns quando triunfarem, que vos vão ver chorar quando as coisas não parecerem bonitas. Vão trazer um pouco de casa a Lisboa, quando a primeira parecer tão longe.
Termino com um desabafo: há 3 dias atrás, no meu 1º dia de estágio do 6º ano recebi uma mensagem que dizia “Boa sorte meu filho. Entra com o pé direito. Vais ser muito feliz aí”. O que me separa de vocês são apenas 5 anos de curso. Porque o medo, a ansiedade e o receio continuam cá, mesmo com a bata branca vestida. O que nos une é a casa que nos formou. Quando nos cruzarmos, num futuro, nos corredores de Hospital, vamos sorrir e saber que fomos alunos da FMUL.
Sejam bem-vindos, caros colegas da FMUL.
A história é vossa. Escrevam-na.
Obrigado.
Pedro Pinto
Estudante do 6º ano do MIM