Vivemos hoje com a realidade de uma calamidade global que se reflete em desafios diários e exige de todos uma adaptação e resistência sem precedentes. Contudo, é no momento presente que criamos o dia de amanhã. Como tal, não perdemos o foco nos objetivos que queremos alcançar e nas metas que traçamos para o futuro. E foi sobre o futuro, sobre os novos e ambiciosos projetos que dentro em breve se irão concretizar, abrindo portas a um novo mundo, que conversamos com o Professor Fausto J. Pinto.
Volvido quase um ano da inauguração do Edifício Reynaldo dos Santos, partilhamos a visão do Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa para o futuro. Um futuro pautado pela inovação tecnológica ao serviço da formação médica, que atinge agora um novo patamar de excelência através da criação de um Centro Tecnológico de referência. Algumas das unidades principais concebidas para este novo Centro Tecnológico estão concluídas, outras encontram-se ainda em fase de formação e implementação, contando com apoios de financiamento externo. “Vencemos alguns concursos em sede de CCDR (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional) para investimento e financiamento de algumas áreas, e tudo isso leva o seu tempo de execução, pelo que existe um faseamento” no processo de operacionalização integral do Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos, explicou Fausto J. Pinto, apontando os casos específicos do novo Centro de Bioimagem e do Centro de Cirurgia Experimental que ali irão funcionar, referindo as valências atuais do CTRS (Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos). “De momento, temos a funcionar o Centro de Simulação Avançada, que incluiu vários elementos e várias áreas, desde a parte cardiovascular, à parte ginecológica, laparoscópica, anestesiológica, bloco operatório, cuidados intensivos, ou seja, há um conjunto de vários componentes deste Centro de Simulação Avançada que fazem parte de um pacote que adquirimos, também com financiamento de CCDR”, adiantou o Professor, revelando ainda o contrato celebrado com vista à aplicação da tecnologia Body Interact, um simulador digital interativo de última geração, “através do qual teremos à disposição duas mesas, isto é, duas plataformas digitais para simulação de casos clínicos”.
Com o objetivo de explorar as potencialidades do Centro de Simulação Avançada, está a ser desenvolvida uma programação, com vista à inclusão de vários destes elementos no ensino de múltiplas áreas, tanto no pré como no pós-graduado. “O Centro de Simulação em si tem uma equipa que é coordenada pelo Professor Lucindo Ormonde e criámos agora, com a abertura do ano letivo, uma comissão específica para proceder à avaliação sobre a utilização do ensino virtual enquadrado no ensino da Medicina, que é coordenada pelo Prof. Rui Tato Marinho, e conta com vários elementos de outras áreas”, declarou o Professor, reiterando o esforço que tem sido realizado, no sentido de tornar o nosso Centro de Simulação um dos mais qualificados a nível europeu, denotando que a atual pandemia forçou o adiamento de muitas ações que estavam previstas, estando de momento a planear-se novos eventos e “vários tipos de projetos para que o Centro de Simulação possa começar a ser utilizado”, sendo que há também “várias ideias para serem implementadas, tão breve quanto possível, ao nível da formação pré e pós-graduada”.
O contacto dos nossos estudantes com os modernos equipamentos que constituem o Centro de Simulação Avançada “está para breve”. “Vamos tê-los, pelo menos em pequenos grupos, brevemente. Como é sabido, foi um processo bastante moroso e complexo este o de montar o início do ano letivo e esta parte da equação vai ser enquadrada, mas de forma progressiva”, denota o Prof. Fausto Pinto, referindo que a atual pandemia condicionou de forma determinante a operacionalização e logística, impossibilitando a “utilização massiva” do Centro de Simulação Avançada. “A utilização de um Centro de Simulação como o nosso pode ser adaptado desde a Anatomia até à clínica, ou seja, os conteúdos podem ser adaptados, a logística operacional, por sua vez, é mais complexa e não estamos a funcionar atualmente em condições normais, devido à pandemia que nos assola”.
Operacionalizado está também o CCUL, Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, coordenado pelo próprio Prof. Fausto Pinto, e que conta com dois pólos no Edifício Reynaldo dos Santos. “Temos o Laboratório de Exercício e Reabilitação, coordenado pela Professora Ana Abreu, e onde se vão desenvolver todas as atividades relacionadas com exercício, havendo já programas em desenvolvimento, nomeadamente um que abrange o Estádio Universitário, designado CRECUL, Centro de Reabilitação Cardiovascular da Universidade de Lisboa, coordenado por nós, Faculdade de Medicina, e que já está a funcionar há cerca de 3 anos,
expandindo agora essa atividade para o Laboratório de Exercício”, elucidou Fausto Pinto, adiantando o envolvimento do Laboratório de Exercício e Reabilitação Cardiovascular em vários projetos de investigação, alguns dos quais internacionais, “no âmbito da reabilitação e exercício, com enfoque na vertente cardiovascular, mas até um pouco mais abrangente”.
E destacou ainda o projeto "Por um Coração Saudável", um projeto de prevenção que decorre a nível da comunidade académica da Universidade de Lisboa, em estreita colaboração com a Faculdade de Motricidade Humana, a Faculdade de Psicologia e o Estádio Universitário.
Por sua vez, o novo Centro Cardiovascular que vai funcionar no piso superior está “em fase de montagem, dado que parte dos equipamentos estão incluídos no pacote cofinanciado pela CCDR, que se encontra, atualmente, em fase de execução”, sublinhou o Diretor.
A Licenciatura de Ciências de Nutrição ganhou uma mais-valia no novo Edifício Reynaldo dos Santos com a criação do Centro de Nutrição Avançada, que se encontra em funcionamento e pretende potenciar atividades de investigação e formação na área da Nutrição, contando com a chefia da Professora Catarina Sousa Guerreiro.
Em execução, e com apoio de financiamento da CCDR, está também o Centro de Bioimagem que irá funcionar no piso inferior, “em que o principal componente é uma Ressonância Magnética de 3 Tesla.” E não obstante a negociação de alguns aspetos em curso, Fausto J. Pinto mostra-se confiante com a chegada da mais avançada tecnologia de RM à nova casa em 2021.
De referir ainda que, o Centro de Bioimagem conta com a colaboração do Instituto Superior Técnico e à frente deste projeto está um grupo coordenado pela Professora Sofia Reimão, docente de Imagiologia na FMUL, com o apoio da Professora Patrícia Figueiredo, do lado do Instituto Superior Técnico.
Entretanto, ultimam-me detalhes logísticos e operacionais para pôr em marcha o ambicioso e melhorado Centro de Cirurgia Experimental. “Estamos também na fase de implementação do Centro de Cirurgia Experimental, no qual estão envolvidos a Dra. Carla Fonseca, a nossa veterinária responsável pela área da experimentação animal, e o Dr. João Coutinho, da Cirurgia, incluídos num grupo que está a preparar tudo para preparar a criação do novo Centro de Cirurgia Experimental”, em estreita articulação com o Hospital de Santa Maria, “e que, no fundo, vai representar um grande centro para a cirurgia de animais de médio e grande porte – na sequência do que existe já há algum tempo no piso 9 do hospital – e assim, no âmbito do CAML (Centro Académico Médico de Lisboa), a nossa ideia é implementar um grande Centro de Cirurgia Experimental”, adianta o Professor.
O Biobanco do CAML vai ser transferido para um novo espaço no novo edifício que encontra, desta forma, um propósito distinto neste novo complexo da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que prima pela inovação e progresso, acolhendo ainda outras empresas da região no desenvolvimento das suas atividades no campo da Medicina e Biomedicina. “Vamos ter uma zona que nós consideramos de apoio a novas áreas tecnológicas, onde vamos dar espaço para, mediante concurso, empresas poderem desenvolver a sua atividade. É um estímulo ao desenvolvimento e inovação tecnológicos”, realça Fausto J. Pinto, prosseguindo a entrevista com atenções voltadas para o novo Centro de Medicina Aeroespacial, também com a colaboração Instituto Superior Técnico, e do qual ressalta “o laboratório de microgravidade”.
O edifício Reynaldo dos Santos abre portas ainda ao Instituto de Saúde Baseada na Evidência (ISBE), que transita funções para aquele espaço. “Para além disso, temos espaços pedagógicos, auditórios, salas de aula e alguns espaços para os alunos, que constituem então as áreas principais em termos de estrutura física”.
Em suma, a ideia do Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos consolidou-se num objetivo concreto: o de promover o desenvolvimento na área da investigação e áreas pedagógicas, ou seja, na área do ensino e da formação, existindo nesse contexto vários espaços que foram devidamente identificados e distribuídos com vista ao decurso dessas atividades, nas quais se pretende integrar a investigação e formação pré e pós-graduada, “e da qual vão derivar alguns subprodutos”, de que são exemplo as novas Masterclasses Online Courses.
“Tratam-se de programas que têm vindo a ser desenvolvidos em colaboração com outras universidades, entre as quais a Universidade de Cambridge, num curso coordenado pelo Prof. Luís Mendes Pedro e que é um curso muito interessante, mais virado para a parte cirúrgica, de organização em termos de bloco operatório, com vista ao desenvolvimento de novas skills e liderança, dirigido a médicos, mas também a outros profissionais de saúde, em particular na área da anestesiologia e da cirurgia, podendo abranger também outras áreas de especialidade.”
Por seu turno, o novo curso de Trauma resulta da parceria com a Universidade de Miami, tendo como coordenador no âmbito da FMUL o Prof. Pedro Fernandes. “É um curso multidisciplinar que envolve as disciplinas da ortopedia, anestesia, da cirurgia, do intensivismo. Portanto, é um curso de formação pós-graduada avançada, que tem como objetivo promover a disseminação e os estudos, formações avançadas nesta área”, adianta o Prof. Fausto J. Pinto, também ele responsável pela coordenação da nova Masterclass Online Curse em Emergências Cardiovasculares. Como o próprio nome indica, é um curso que assenta na apresentação de 16 cenários de emergências cardiovasculares, desenvolvidos em colaboração com a empresa Take the Wind, empresa portuguesa líder em tecnologia para educação clínica. “O objetivo é proporcionar um treino nas principais situações de emergência cardiovascular através de casos concretos que traduzem as principais situações de emergência cardiovascular, numa abordagem integrada.”
Dirigido, sobretudo, aos especialistas da área cardiovascular, este novo curso é dedicado a todos os profissionais de saúde. “É um curso focado nas grandes emergências cardiovasculares, mas pode ter uma abrangência maior, dirigindo-se também a intensivistas, anestesistas e cirurgiões”.
Emergências Cardiovasculares, Trauma e Liderança em Bloco Operatório são, assim, as três novas Masterclasses Online Courses que estão, atualmente, definidas e aprovadas em sede de Conselho Científico. “Estamos a desenvolver outros cursos, um dos quais na área gastrenterológica, com a coordenação do Prof. Tato Marinho, que estão a ser preparados dentro daquilo que será um pacote de formação pós-graduada avançada em áreas chave dentro da instituição”, assegurou o Diretor.
É, de facto, na formação pós-graduada que reside a principal aposta na nova oferta formativa do Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos. “Estas Masterclasses dirigem-se a especialistas ou pessoas já numa fase avançada do seu treino. Quem pode beneficiar destes novos cursos são, essencialmente, as pessoas que se encontram numa fase mais avançada da sua carreira profissional, pois tratam-se de formações específicas e diferenciadas. Eventualmente, poderemos pensar em dispensar alguns módulos para estudantes, ao nível do ensino pré-graduado, que possam ter algum interesse específico em alguma área, mas a população alvo, para estes cursos especificamente, são os especialistas ou internos de especialidade já numa fase avançada”.
Sobre datas de início e prazos, o Diretor garantiu que estão a ser ultimados pormenores de forma a disponibilizar as novas Masterclasses Online Courses dentro em breve, ainda em 2020, naquele que é apenas mais um passo de um percurso que a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa tem percorrido de forma notável ao longo dos últimos anos, primando pela inovação e excelência do ensino médico.
Terminamos a conversa com uma reflexão sobre o impacto de um projeto tão vanguardista, empreendedor e audaz como o Centro Tecnológico Reynaldo dos Santos no futuro da FMUL e de todos os envolvidos neste cometimento.
Fausto J. Pinto considera que é o dever das instituições de ensino “ir acompanhando os processos evolutivos naquilo que é, neste caso concreto, a formação médica, e procurar encontrar as melhores soluções para poder atingir esses objetivos, que é fazer uma formação médica moderna e adaptada ao Médico do século XXI, não só na vertente médica, mas na vertente científica, proporcionando a melhor formação possível, quer em termos qualitativos quer em termos de integração na sociedade, nos valores que transmitimos. E para isso há ferramentas que nos ajudam a implementar a nossa visão e cumprir a nossa missão, em que a parte tecnológica é fundamental, bem como a possibilidade de ter espaços e equipamentos que nos permitam veicular estes conceitos e objetivos aos nossos formandos, em termos genéricos, é esse o objetivo de qualquer instituição de formação superior integrado dentro dos valores, daquilo que entendemos ser a forma mais adequada, atual e moderna de fazer ensino e formação na área médica”.
Para além disso, a possibilidade de desenvolver áreas inovadoras, como a Bioimagem ou a Medicina Aeroespacial, no novo Edifício Reynaldo dos Santos é fundamental para a expansão e projeção do Centro Académico Médico de Lisboa que preconiza a modernidade, a inovação e a qualificação da prática clínica, da investigação e da educação médica. “É extremamente importante ter instrumentos que permitam desenvolver projetos de investigação e formação que permitam implementar aquilo que deve ser, e que nós entendemos ser, a estratégia de um centro como este, que é poder estar na franja dos avanços, na franja do conhecimento e estar na franja daquilo que entendemos ser o mais adequado à situação atual da investigação e do ensino na área médica”.
Na opinião do Prof. Fausto J. Pinto, o período que enfrentamos atualmente ficará na história da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa como um momento de reestruturação, transformação e evolução, em que não só se consolidou uma nova unidade estrutural, com a aquisição de equipamentos modernos e a concretização de novas ideias, como a reforma do ensino clínico. “Procuramos sempre adaptar-nos às circunstâncias, o que entendo ser a obrigação de uma instituição académica, que é por um lado adaptar-se à realidade, mas sempre numa perspetiva de desenvolvimento. E seguindo um pouco o princípio Darwiniano, o que resiste é o que melhor se adapta. Não quer dizer que seja o mais forte, mas é o que melhor se adapta. E este momento que estamos a viver é muito indicativo disso mesmo, ou seja, as instituições que tiverem maior capacidade de se poderem adaptar àquela que é a realidade e conseguirem fazê-lo da melhor forma possível, são as que vão conseguir ter mais sucesso. Portanto, o nosso objetivo é sermos bem-sucedidos na formação dos nossos estudantes, no desenvolvimento de projetos de investigação moderna, avançada, darmos condições aos nossos docentes, investigadores e estudantes para poderem desenvolver a sua atividade da forma mais adequada e avançada possível”.
É muito difícil prever o futuro. Contudo, há uma certeza que se afigura no presente, a certeza de que quando olharmos para trás daqui a 10 ou 20 anos, iremos recordar o tempo presente como um período em que a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa “esteve à altura das suas responsabilidades e foi capaz de, enfrentando as circunstâncias do momento, encontrar as soluções que permitiram continuar a desenvolver a sua atividade com sucesso e implementar a sua visão”, transmitindo a segurança necessária à comunidade académica e mantendo a perspetiva estratégica.
Fausto J. Pinto defende ainda que as instituições académicas devem ser uma das “referências principais para a sociedade”, não só ao nível da “postura, mas também ao nível do desenvolvimento, sobretudo numa área científica como é a nossa”. “E é tudo isso que queremos ser”. Para tal, prosseguimos na incerteza dos tempos que correm e mantemos o foco nesse objetivo maior, em pretensão e nobreza, procurando encontrar as melhores soluções, ainda que esculpidas na imperfeição da ação humana, que constroem o Futuro hoje e abrem portas a um novo mundo que o convidamos também a descobrir.
Sofia Tavares
Equipa Editorial