No dia 20 de abril às 14h, a apresentação de tese de Mafalda Caldas, passava a ser distante e não presencial como sempre uma tese fora até ali.
“A Utilização da Pergunta da Dignidade em Doentes com Necessidades Paliativas em Cuidados de Saúde primários: um Estudo Piloto” foi o tema da sua tese, avaliada pelo Prof. Rui Tato Marinho, presidente do júri.
Numa breve conversa ao telefone, expliquei ao Prof. Tato Marinho o nosso interesse em perceber esta nova dinâmica sobre aulas e interações à distância. Rapidamente se apressou a explicar-me que acabara de dar duas horas de uma aula teórica onde não fazia ideia do feedback dos alunos, a não ser por um ou outro no “bate papo”, sim, terminologia abrasileirada, mas que hoje todos dominamos. Na verdade o seu auditório deixou de ter rosto, são apenas números de pessoas online que podem estar a registar tudo, ou simplesmente nem estar. Mas haveria solução melhor? Até agora pareceu a todos que não.
Ainda assim será esta uma nova solução olhando para um futuro a curto prazo?
“Professor, então como correu esta apresentação da tese?”, perguntei intrigada. “Olhe Joana não deve ter corrido mal porque senão não lhe tinha sido atribuído o 20!”.
As palavras são do Prof. Rui Tato Marinho depois de dissertarmos um pouco sobre as novas dinâmicas das relações humanas.
Para começo de conversa, o mestrado não correu mesmo nada mal.
Presidente: Prof. Doutor Rui Tato Marinho - Professor Associado da FMUL
Orientador: Doutor Miguel Fareleira - Médico - Equipa Comunitária de suporte em cuidados paliativos de Sintra
Vogal: Prof. Doutor José Augusto Rodrigues Simões - Professor Associado Convidado - Universidade da Beira Interior
Zooming in, zooming out, zoom, zoom, zoom
De repente tudo mudou. O Mundo mudou num ápice e foi recentemente no dia 11 de março. O Mundo já tinha mudado em várias ocasiões, curiosamente nalguns dias 11, como foi o de 11 de setembro aquando o ataque inesperado das Twin Towers em Nova Iorque. Curiosamente também por via aérea.
A partilha de conhecimento, as reuniões, o network não presencial teve um impulso, o ensino, a aprendizagem quase que voou para as plataformas electrónicas. Chegou agora em força o e-learning, as aulas não presenciais.
E porque não os mestrados, entrevistas, aulas teóricas e até doutoramentos?
Foram precisos apenas alguns dias para fazer acontecer o que se vinha a anunciar há já 20 anos, o forte investimento no não presencial. O ensino/aprendizagem através da tecnologia veio para ficar de modo indelével. Será um “Novo Admirável Mundo Novo”.
Estaremos em risco de uma ditadura do não presencial? Um dia de trabalho com seis ou sete e-reuniões? Sim, eles existem, o que nos vem colocar à prova como seres sociais, de modo formal mas também informal
A FMUL deu vários passos de gigante no sentido da gestão da catástrofe que foi a paragem do País em consequência da infeção pandémica COVID-19.
Nesse sentido temos participado em mestrados, doutoramentos, aulas teóricas, teórico práticas, reuniões, etc.
Tivemos a honra e prazer de presidir à primeira tese de mestrado em “Cuidados Paliativos” em que a Dr.ª Mafalda Lemos Caldas apresentou uma tese sobre “A Utilização da Pergunta da Dignidade em Doentes com Necessidades Paliativas seguidos em Cuidados de Saúde Primários: um Estudo Piloto”, sob orientação do Prof. Miguel Julião. O valor científico, o network e as publicações internacionais, a apresentação fizeram jus à atribuição de 20 valores. Não se notou a ausência da presença física. Eu diria até que foi uma nota muito digna para um excelente trabalho sobre um tema algo inovador.
Foi e tem sido possível, é um Mundo renovado. No entanto, o contacto humano terá sempre lugar, agora revisitado do ponto de vista profissional.
A interação informal em ambiente Professional é parte integrante do nosso ensino/aprendizagem. Ela é muitas vezes ocasional, mas imprescindível numa sociedade equilibrada do ponto de vista da inteligência emocional. O encontro ocasional no ambiente profissional, no café, na Sala de Alunos, nos corredores, nas escadas. E no elevador? E o “elevator-pitch”, ou seja dizer em 30-60 segundos algo de muito relevante, no elevador, nas escadas, no corredor, num coffee-break.
Dizia Daniel Lavanchy, vindo da Suíça, que esteve presenta numas provas de Agregação, feitas à moda antiga, i.e. presencial: não cortem nos coffee-breaks. Resolvi muitos conflitos internacionais, não à mesa das negociações, mas nos intervalos num canto da sala, tomando um café.
Quantas decisões mudaram o mundo que tiveram lugar em momentos de contacto informal, até não programado?
Mas o Zoom World chegou, viu e venceu. Assim como o Coronavírus. Assim com o Coronavírus.
“The Times They Are a-Changin, Bob Dylan, 1964”
I D Gust, A W Hampson, D Lavanchy. Planning for the Next Pandemic of Influenza
Reviews in Medical Virology 2001;11 (1): 59–70. doi: 10.1002/rmv.301
Rui Tato Marinho
Professor Associado da FMUL, Presidente do Júri do Mestrado sobre Cuidados Paliativos, Diretor do Serviço de Gastrenterologia de Santa Maria e Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia
Joana Sousa
Equipa Editorial