Uma das características desta nova infeção, a Coronavírus, é a possibilidade de desencadear morbimortalidade nos profissionais de saúde. Muitos caíram em combate, com um ritual prévio de passagem pelos ventiladores, como sucedeu em Itália, Espanha, França e Reino Unido.
Neste período único de Pandemia Global, Emergência Nacional, Calamidade Pública e outros epítetos devastadores, tornou-se imperativo, até com força de lei, o uso de Equipamentos de Proteção individual, os ditos EPIs.
![Senhor de fato em pé](/sites/default/files/inline-images/tato%20tap.jpg)
O Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia é um serviço vital, como muitos outros, sendo responsável pela realização de 25.000 consultas externas e 25.000 exames realizados na Unidade de Técnicas de Gastrenterologia, entre elas a malfadada colonoscopia. Há quem lhe chame o Serviço 25/25. Sim, trabalhamos 25 horas por dia. Se tem 45 anos já fez a sua colonoscopia?
A TAP, de forma generosa, fez uma dádiva ao Serviço de 200 fatos de proteção integral, aqueles que nos transformam nuns modernos astronautas.
Eu próprio, e o nosso (único) enfermeiro da Unidade de Técnicas de Gastrenterologia, o Pedro Pires, fomos acolhidos num hangar de manutenção de aeronaves da TAP (TAP - Maintenance & Engineering), local onde a segurança é o elemento fundamental, defendendo e garantido um dos valores da TAP: "Segurança - Para que nada seja mais importante do que a vida dos nossos clientes e colaboradores. Alcançar este objetivo só é possível, através de um cuidado de excelência totalmente focado na qualidade e segurança. Seguindo o exemplo da filosofia da aviação de não haver falhas, é o que nós profissionais de saúde queremos aplicar na nossa prática diária como equipa multidisciplinar. O valor da defesa da vida, que é e sempre foi a nossa bandeira, fez com que a Unidade Técnicas de Gastroenterologia desenvolvesse normas e circuitos de atuação em contexto de COVID-19; defendendo os utentes, respeitando as suas necessidades e garantindo acima de tudo a segurança de todos os envolvidos”
Tivemos a oportunidade de durante duas horas observar todo o esforço e trabalho de equipa no sentido da segurança total, onde não podem existir falhas. As regras de segurança, o trabalho invisível colocado na gestão do risco, são traduzidas num processo denominado CRM (Crew Resource Management), cujos fundamentos foram publicados num artigo da Acta Médica Portuguesa pelo Comandante Armindo Martins, que também realizou uma Conferência na Aula Magna, em outubro de 2019.
CRM não é tecnologia do século XXII, é gestão de recursos humanos, trabalho em equipa, trabalhar conceitos como humildade, arrogância, gestão do stress, gestão do imprevisto, exemplo a seguir, fadiga e estado de alerta, fator surpresa e medo, análise de risco, etc.
A infeção COVID-19, aproximou-nos a nós médicos, mais uma vez, do conceito de segurança da aviação. Se falharmos, estamos também em risco de morrer. O risco de morrer como consequência da atividade como profissional de saúde, não está muito presente no nosso mind-set.
Existem muitos pontos comuns entre um cirurgião, um gastrenterologista, um comandante, um juiz do Supremo Tribunal de Justiça, um general. Muitos destes exercem a sua profissão há mais de 30 anos, com milhares de processos julgados, milhares de horas de voo, milhares de horas de serviço de urgência. O Rui Tato Marinho fez 25.000 horas de Serviço de Urgência, o Comandante Armindo Martins 22.500 horas, entre avião e simulador.
Os conceitos de como lidar com o fator humano, trabalho em equipa, etc. foram encontrados nas oficinas da TAP que lidam com os reatores, cockpit. Todos são importantes, como seja, o eletricista, o mecânico, o estofador, o engenheiro, etc.
Fomos recebidos pelo Eng. José Moreira (Coordenador Frota de Longo Curso | Wide Body Fleet Coordinator), por curiosidade, um apaixonado do Mundo Médico e do Prof. João Lobo Antunes: “Poder participar, como facilitador, na doação de de EPIs por parte da TAP ao Hospital de Santa Maria, neste contexto tão peculiar, foi para mim um grande motivo de orgulho! Como disse um dia o Professor João Lobo Antunes, o pensamento fundador da medicina é o altruísmo. Nestes tempos difíceis deveremos ter este pensamento sempre presente nos nossos atos, ajudando desta forma a completar a dignidade do próximo.”
No final, como take-home message, os Dirty-Dozen.
Pedro Pires:
![cinco homens posam em frente a avião da tap numa oficina da empresa](/sites/default/files/inline-images/1_5.jpg)
![Boroscopia (orifício para introdução do Boroscópio, “endoscópio” para observação dos reactores.](/sites/default/files/inline-images/2_3.jpg)
![Reactores](/sites/default/files/inline-images/3_4.jpg)
![estaleiro com avião](/sites/default/files/inline-images/aviao%20TAP.jpg)
![Comandante Armindo Martins fala à Plateia, na Aula Magna da FMUL, 2019](/sites/default/files/inline-images/4_4.jpg)
![Share](https://www.medicina.ulisboa.pt/sites/default/files/media-icons/share.png)