A Ciência é infinita, não conhece limite de tempo nem espaço, mas Maio é um mês particularmente especial para a Ciência, pois dedica exclusivamente um dia, o dia 16, à celebração e reconhecimento da contribuição histórica, determinante e inovadora da comunidade científica para o avanço do conhecimento, enquanto força motriz do progresso e bem-estar da sociedade.
A Professora Maria do Carmo Fonseca, na carta que dirigiu às novas gerações da Ciência, disse acreditar que “a ciência e a tecnologia vão torna-se ainda mais essenciais nas nossas vidas”, incitando por isso, à coragem dos mais novos. Coragem para pressionar a sociedade para a mudança, pois a eles cabe “a construção do nosso futuro coletivo”, um futuro em que as sociedades “vão depender da ciência e da tecnologia para lidar com catástrofes”.
É, portanto, urgente elevarmos a energia ao potencial máximo da Ciência, pois “precisamos de novas soluções para viver em harmonia com a Terra”, como alertou Maria do Carmo Fonseca.
Entre as palavras de encorajamento e consciencialização às novas gerações, a investigadora e Presidente do Instituto de Medicina Molecular apelou firmemente à valorização e ao cultivo da Ciência, recordando a imunologista Maria de Sousa, referência maior da Ciência em Portugal, que ofereceu um contributo inestimável ao estudo da imunologia e desapareceu em abril passado, sucumbindo à covid-19.
Maria de Sousa despediu-se na esperança de "perdurar por via dos que ficam vivos", como lembrou a Professora Carmo Fonseca, defendendo que “a ciência não pode deixar de avançar, sob pena de não sermos capazes de resolver os imensos desafios com que nos vamos deparar!”.
Assim, no mês em que se assinala o Dia Nacional do Cientista, instituído por Resolução da Assembleia da República, falamos com os nossos sobre o sentido de Ser Cientista e prestamos uma sincera e justa homenagem à Ciência.
Nas palavras do Professor Miguel Castanho, investigador principal no iMM, “ser cientista é ser um otimista militante, porque só é verdadeiramente cientista quem acredita que, por cada problema por resolver, há uma solução por descobrir”.
E são muitos, e cada vez mais desafiantes, os problemas que se colocam aos Homens e Mulheres da Ciência, que a vêem e sentem para lá dos limites da profissão.
“Para um cientista, a Ciência é mais do que a sua atividade profissional, é um sentido de vida. A vontade de descobrir ou entender fenómenos enche-nos o espírito e conduz-nos pela vida”. Assim é a visão do nosso Professor e, também, Vice-Presidente do iMM, Bruno Silva-Santos, que tem na Ciência “uma fonte de motivação, inspiração, satisfação e concretização pessoal. Sem ela, a minha vida seria muitíssimo mais pobre.” Do mesmo modo, defende que “a riqueza da sociedade assenta na Ciência a muitos níveis”, começando por “promover a saúde dos seus indivíduos, mas também por lhes facultar meios para concretizar objetivos e sonhos”.
Ciência: Substantivo feminino, que significa conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos. E para Ana Espada de Sousa, investigadora e Professora na FMUL, responsável pela gestão do Laboratório de Imunologia Clínica e coordenação do Gabinete de Apoio à Investigação Científica (GAPIC) da nossa faculdade, é certo o reconhecimento do trabalho e diligência de todos os cientistas que, nos últimos tempos e um pouco por todo o mundo, ajudaram a ditar as regras de uma nova normalidade que agora se apresenta na sombra da desconfiança e do desconfinamento.
Assim, Ana Espada de Sousa destaca, primeiramente, que “o papel da Ciência e os Cientistas têm sido claramente reconhecidos pela sociedade durante a pandemia atual”, reforçando que “o GAPIC está particularmente empenhado em apoiar todas as estratégias que ajudem a enfrentar os desafios e que facilitem o acesso dos alunos às oportunidades da investigação científica neste tempo de crise”.
Nas circunstâncias atuais e, em particular, no Dia em que as honras à Ciência ganham maior notoriedade, Ana Espada de Sousa considera “importante reflectir sobre como assegurar a completa liberdade essencial para o sucesso da actividade científica, e como garantir a paragem para pensar e o tão necessário tempo dedicado para cada descoberta”.
E é através da descoberta que se gera conhecimento. Maria José Diógenes, Professora no Instituto de Farmacologia e Neurociências, olha para a Ciência como a “única via para o conhecimento e para a sobrevivência”. É algo tão simples como "a verdade e a busca incessante da explicação sobre o que desconhecemos”.
Para Maria José Diógenes, ser cientista é “um exercício de humildade e resiliência”. “Humildade porque é importante sabermos assumir as nossas falhas e limitações, e pedir ajuda a colegas com conhecimentos complementares. Resiliência, porque a ciência não se faz à pressa, faz-se passo a passo sabendo gerir as falhas e aprendendo com o erro”. A Professora considera que ser cientista é, também, “estar constantemente a fazer perguntas, a colocar hipóteses e a testá-las”. É saber voltar atrás e começar tudo do zero na busca da solução para um problema”. E acima de tudo, independentemente do resultado, é “vibrar com cada descoberta!”.
Como disse, um dia, a famosa cientista Marie Curie: “Na vida, não existe nada a temer, mas a entender”. Ora, o entendimento está na essência da motivação dos que fazem vida da Ciência.
Para a Subdiretora da FMUL, e também Diretora do Instituto de Farmacologia e Neurociências, Ana Sebastião “fazer Ciência é a procura constante da Verdade, sabendo que vamos apenas encontrando verdades, mas que sem elas o mundo não progride.” “É de algum modo participar num todo contínuo, desde a Antiguidade em direcção ao Futuro; contribuir com pequenos grãos para um edifício comum. É, portanto, um exercício de partilha, de cooperação, ainda que também necessariamente de competição positiva.”
Tem como lema dois ensinamentos que recebeu muito cedo, “logo no início do Doutoramento”, e que procura transmitir a todos os seus alunos e colaboradores: “A dificuldade da Ciência é fazê-la simples” e “Experiment you don't enjoy is experiment without success”. “A primeira é óbvia: o mundo é complexo e o desafio para o cientista é descodificá-lo de modo a torná-lo perceptível aos outros. A segunda é muito importante ter presente a todos os níveis de formação de um cientista e ao longo da carreira. A ciência não se faz por encomenda. Ou bem que se acredita na hipótese e no modo de a comprovar (ou recusar), ou então será melhor procurar outra hipótese e outra metodologia. É também muito importante saber duvidar sempre dos resultados até que os mesmos nos convençam. Devemos acreditar na hipótese, mas duvidar dos resultados, testando e tornando a testar a hipótese por diversas vias”. Na perspetiva da Professora Ana Sebastião, o processo é, “por vezes, frustrante, por vezes estimulante”, sendo necessária “muita persistência e dedicação”. Tudo o que é preciso é “saber viver com muitos altos e baixos”, afirma, revelando que “há muitas rotinas, desilusões e exaltações”. Mas não obstante os desafios ou adversidades ao longo do caminho, Ana Sebastião garante que a balança pende sempre para o lado positivo. “É fantástico fazer ciência”.
Há cerca de 25 anos que Maria Manuel Mota e a Ciência se tornaram forças indissociáveis. As palavras da Professora, e Diretora do iMM, refletem um dos sentimentos mais poderosos do ser humano: a gratidão. “Sinto-me uma privilegiada por poder todos os dias trabalhar para saciar a minha curiosidade e sinto-me grata por me ter sido dada a oportunidade de poder ter tido (e espero ter mais alguns) momentos maravilhosos de um enorme prazer – o prazer da descoberta, de ver algo pela primeira vez”.
Maria Mota considera que “é fácil compreender que sem a ciência o mundo não seria o que é. Não teríamos eletricidade, o que significaria algo tão simples como não poder conservar alimentos dentro de um frigorífico ou não ter internet. Também não saberíamos que lavar as mãos pode salvar milhões de vidas e não teríamos criado antibióticos e vacinas. Estaríamos, provavelmente, ainda a viver, em média, menos de 30 anos e não mais de 80 anos de vida”. É por isso, também, que Maria Mota sente um orgulho imenso em ser cientista, ainda que seja “apenas um grão de areia, mas um grão, da comunidade de cientistas do mundo inteiro e da humanidade toda desde os princípios dos tempos que, de uma maneira ou de outra, moldou o mundo e o tornou tal como ele é hoje”. Mas a Ciência, diz-nos a Professora, “não é apenas sobre novas invenções, novas tecnologias ou novos medicamentos. É muito mais que isso. A ciência também é importante, porque é o melhor método inventado até agora para investigar o Mundo e compreender como ele funciona.”
Para Maria Mota ser cientista é produzir conhecimento. “Conhecimento esse que nos permite descodificar e entender cada vez melhor o Mundo que nos rodeia e prepararmo-nos para o futuro, enquanto saciamos uma das mais básicas necessidades humanas – a curiosidade”.
Sofia Tavares
Equipa Editorial