George Armstrong, um dos pais da Pediatria, fundador da primeira instituição dedicada ao cuidado isolado de crianças, nasceu em Castleton, na Escócia, em 1719.
Em Edimburgo estudou Belas Artes e depois Medicina, com Alexander Monroe, distinguindo-se como estudante e ajudando a fundar a Royal Medical School of Edinburgh.
Em Londres foi impedido, por causa da nacionalidade escocesa, de obter licença para praticar a medicina. Começa então a escrever, obtendo alguma notoriedade como poeta e jornalista. O nascimento das suas três filhas ter-lhe-á despertado o interesse pela saúde das crianças.
O conceito de infância, tal como hoje é pensado nos países ditos desenvolvidos, é necessariamente posterior ao século XVIII. A própria existência da criança é então encarada de forma dramaticamente diferente em relação à actualidade. Não se pensa, nesta época, em direitos das crianças, nomeadamente, entre outros, no direito à educação ou a um contexto familiar. Não se considera a criança como um ser em formação, tanto física como psíquica. Uma criança vinda ao mundo será, antes do mais e sobretudo nos meios mais pobres, mais uma despesa para os pais, a maior parte das vezes incomportável, e assim se manteria até que crescesse o suficiente para poder contribuir para o sustento da família. É de mencionar também o facto de que o planeamento familiar é, nesta época, praticamente inexistente – se há relações sexuais, há filhos e a única forma conhecida de os evitar é a abstinência.

ARMSTRONG, George, 1719-1789
An account of the diseases most incident to children, from the birth to the age of puberty… : to which is added, an essay on nursing, with a particular view to infants brought up by hand : also a short account of the Dispensary for the Infant Poor / by George Armstrong. - a new edition.... - London : printed for T. Cadell, 1783. - XVI, 200 p.; 23 cm
Cota da Biblioteca-CDI da FML: RES. 3681
Texto integral em archive.org

À época, a taxa de mortalidade infantil era elevadíssima: à escala europeia, entre um quarto e metade dos bebés morria no primeiro ano de vida. Armstrong considerava que a causa para este facto residia, em grande parte, na falta de cuidados com as crianças e no conhecimento dos seus problemas específicos: “…se examinarmos as diferentes áreas da medicina, descobrimos rapidamente que aquela que tem provavelmente as maiores consequências para a sociedade, uma vez que a população de cada país dela depende em grande medida, é a que respeita às doenças da infância, que não tem sido cultivada, ou pelo menos tem sido muito negligenciada.”
Em 1767 surge a obra An Essay on the diseases most fatal to infants..., que conheceu várias reedições e foi bem recebida pela crítica. Armstrong chama a atenção para a vulnerabilidade dos seres humanos nos primeiros anos de vida, quando comparados com as outras espécies animais e revela que muitos médicos tendiam a descuidar a atenção às crianças devido a factores diversos. Alguns afirmavam que pouco haveria a fazer por elas quando doentes, outros queixavam-se de que, por ser impossível auscultar, como no caso dos adultos, as suas queixas, estariam a trabalhar “no escuro”, podendo facilmente piorar as coisas em vez de ajudar e descuidando assim os sintomas que, nota o autor, em muitos casos, “falam por si mesmos”.
Armstrong enfatizou ainda, de forma pioneira, os cuidados com a higiene, o exercicio e o estímulo. Em 1769 cria o Dispensary for the Infant Poor, em Londres (na imagem abaixo), a primeira instituição do género, onde leva a cabo o trabalho pioneiro de ensinar aos médicos e aos enfermeiros, bem como às mães, os cuidados específicos requeridos pelas crianças, nomeadamente pelos recém-nascidos.
Entre 1769 e 1781, a instituição tinha já recebido cerca de 35 000 crianças, na sua maioria oriundas de famílias pobres, sem necessidade de carta de admissão. Uma grande vantagem da instituição, observava Armstrong, era cuidar apenas de crianças, uma vez que num hospital normal, quando crianças e adultos eram admitidos, estes acabavam por ser sempre considerados em primeiro lugar.
Quando Armstrong Morreu, em 1789, aos 69 anos de idade, foi praticamente esquecido. Foi preciso esperar até ao século XX para que a sua obra pioneira fosse reconhecida.

Bibliografia consultada:
Dunn PM (2002). George Armstrong MD (1719–1789) and his Dispensary for the Infant Poor. Archives of Disease in Childhood - Fetal and Neonatal Edition, 87:F228-231.
Williams A. N. (2007). Four candles. Original perspectives and insights into 18th century hospital child healthcare. Archives of Disease in childhood, 92(1), 75-79.
André Silva
andresilva@medicina.ulisboa.pt
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