Foi no dia 20 de abril que as Portas da FMUL se abriram para receber estudantes do 12º ano que vieram de todo o país, para conhecer as instalações, o plano curricular, mas sobretudo os rostos que fazem o dia a dia deste campus. A recebê-los no Grande Auditório João Lobo Antunes estavam três pessoas que são três pilares fundamentais da instituição, João Eurico Cabral da Fonseca, Diretor da FMUL, Carmo Fonseca, Presidente do IMM e Lucindo Ormonde em representação do CHULN, mas que é docente na FMUL na área onde intervém, Anestesiologia e Medicina de Intervenção. Todos juntos são o CAML, Centro Académico de Medicina de Lisboa, uma diferenciação em relação a qualquer outra faculdade, que torna este Campus tão especial.
Prometeram dar respostas às inquietações da plateia, onde estavam sentados 150 jovens ambiciosos e sedentos de aprender e de ouvir os conselhos dos que já cá estão. Para começar, a inquestionável vantagem de ser uma faculdade integrada num hospital de primeira linha onde diariamente dão entrada nas urgências umas 800 pessoas e onde trabalham 5 mil profissionais entre médicos, enfermeiros e outras profissões. Uma faculdade com 600 docentes, 2300 alunos, ensino pré e pós-graduado e possibilidades infinitas de aprendizagem, uma vez que os alunos podem ainda fazer especializações e cursos numa rede de hospitais dos quais fazem parte Fernando Fonseca, Beatriz Ângelo, Luz, Garcia de Orta entre outros. Acresce a tudo isto o IMM onde a investigação é rainha e dos quais os estudantes podem fazer parte logo no primeiro ano, desde que tenham iniciativa e esta, é outro alicerce fundamental para o sucesso. Carmo Fonseca ressalvou a necessidade de cada um começar o mais cedo possível a traçar o seu destino, uma vez que a formação diferenciada é a grande mais valia num mercado competitivo. A primeira pergunta foi lançada à plateia: “quem já desenvolveu uma atividade extracurricular?”, começou por questionar. Aos poucos, os braços foram-se levantando o que mereceu de imediato um elogio. “Ótimo saber que já estão nessa onda porque o mundo profissional é extremamente especializado e, a partir de agora, devem procurar oportunidades e passar por experiências, por isso, o meu conselho é de que não fiquem limitados aos programas curriculares” e continuou, “aqui existem imensas oportunidades para se tornarem especialistas”, concluiu. Lucindo Ormonde que traçou o seu percurso, ainda que de forma fugaz, mas que ressaltou o que era importante: voltou sempre à casa mãe, apesar das várias experiências além-fronteiras. E isso aconteceu porque, segundo disse, “este é um hospital onde encontram tudo o que a medicina vos pode oferecer e têm aqui pessoas preparadas que vão sempre colaborar convosco”, tornando esta caminhada “um desafio para vocês e para nós. ”Os cenários variados num hospital desta dimensão dão matéria de estudo para os alunos e isso só pode ser uma vantagem. Deixou o convite: “estamos à vossa disposição.”
Destacado também foi o papel ativo e inclusivo da AEFML e do Presidente, Duarte Tude Graça. Desenvolve várias atividades e iniciativas tendo um papel fundamental no acolhimento e integração dos alunos. “As relações que desenvolve entre pares e com os seus pares é única, disse João Eurico Cabral da Fonseca.”
Bright Talks- O poder da partilha
As conversas “brilhantes” aconteceram durante todo o dia, mas a meio da manhã João Gouveia, Diretor da Urgência e Nuno Gaibino, Médico Intensivista, antigos alunos FMUL, preencheram o slot, com esse nome. Uma viagem pelo percurso de cada um e a conversa não podia ser mais interessante. Ambos médicos, mas com histórias de vida completamente diferentes. O primeiro é filho de uma médica e o hospital faz pare das memórias de criança. O outro, é o primeiro médico na família. Um vem de Lisboa o outro de uma vila alentejana. Esta diversidade mostra que não há limites para o sonho e para a persistência, porque é preciso muito trabalho e não desistir. Sobretudo, é importante que estejam cientes de que seguem uma profissão onde o estudo vai estar sempre presente. “Vão estudar sempre porque a ciência não para”, recordou João Gouveia. Nuno Gaibino traçou o seu dia e a plateia ficou de olhos muito abertos, assustados, mas João Gouveia explicou que, bem organizado há tempo para tudo. Por exemplo, ele estava a preparar-se para correr uma maratona fora do país.
Foi possível a plateia fazer perguntas. Os estudantes queriam ainda saber como se lida com a morte e com a culpa. Foram partilhadas histórias pessoais das primeiras vezes em que aconteceu esse confronto e a forma como se lida com os murros no estômago, que fazem parte da vida de quem escolhe uma profissão onde a vida e a morte estão lado a lado.
O speed dating
Encontro cronometrado onde pessoas se apresentam e dizem o essencial de si, este é um speed dating diferente. Médicos, investigadores, técnicos, estudantes, enfermeiros, professores, todos aceitaram o desafio de vir falar. Alguns saídos de cirurgias longas, outros de bip pronto a disparar para regressarem de volta à urgência, o ambiente era de leveza. Mas acima de tudo de missão comum. “É para falar a razão de escolherem esta Faculdade? Então contem comigo para ajudar”. O entusiasmo é de primeiro encontro, entre sorrisos curiosos e olhares expectantes de quem vê o mundo todo pela frente com pessoas reais que o concretizam. Foram dezenas as áreas representadas num universo de um Campus que alberga o ensino, com a ciência e a vida hospitalar.
Gerações cruzadas e a partilha daquilo que é o sonho espelhado na realidade de pessoas que só aparecem geralmente nas séries de ficção sobre urgências, médicos e curiosos investigadores. Eram várias as duplas espelhadas ao longo de 13 grupos distintos. A cada 20 minutos tocava o alarme que pedia uma troca entre grupos e tudo começava de novo.
No último alarme e pedido que se terminassem os encontros, todos ficaram nas salas, a trocar últimas dúvidas, opiniões e os conselhos finais que só se trocam quando se fazem novos amigos.
Tempo para explorar e conhecer
Depois de almoço foi altura de dividir os estudantes em grupos e levá-los a visitar o Campus. Laboratórios, Teatro Anatómico e serviços como o de Cardiologia, Neurocríticos, Medicina Interna, Consulta de Pediatria, Técnicas de Gastro e o Museu Egas Moniz, são apenas alguns dos muitos exemplos de espaços visitados.
Divididos em grupos de 10 a 12 alunos e acompanhados pelo staff da Faculdade, foram recebidos por alguém que lhes passava informação. No Museu Egas Moniz foi contada a história do Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina. Por exemplo, foi possível ver as inúmeras imagens de exames feitos a cobaias até conseguir realizar, sem sequelas, a primeira angiografia que permitiu detetar aneurismas ou tumores cerebrais e veio revolucionar a neurologia.
Nas paredes, fotografias, diplomas e cartas contam um pouco do percurso deste médico e do seu contributo para a história e para a prática da medicina. Alguns objetos pessoais também estão expostos.
As visitas duram em média 20 minutos. De seguida, os alunos, são encaminhados para outro espaço. Acompanhámos o grupo que finalizava o dia no 9º piso do edifício da Neurologia, na ala dos Neurocríticos. É lá que estão os doentes mais graves que são encaminhados de todas as especialidades. A receber-nos o médico Intensivista Nuno Gaibino. Estava ocupado, numa daquelas reuniões que fazem em equipa para fazer um balanço da situação. Assim que acabou veio receber o grupo. “Aqui existem 45 camas e estão quase todas ocupadas”, começou por dizer enquanto caminhava. Explicou ainda, “trabalhamos com a tecnologia mais avançada” e havia muita. Máquinas com muitos visores, informação preciosa para o pessoal médico, indicam pressão arterial, batimentos cardíacos e muitas outros níveis importantes que garantem o bem-estar, possível, para os doentes que ali se encontram, alguns, em coma e ainda com prognóstico muito reservado. As histórias que ouvimos são de pessoas a quem, de um momento para o outro, a vida fintou. Um caiu de um andaime, “deve ter-lhe dado alguma coisa” e chegou em estado grave. Mas, à partida, o pior já passou. Acordou do coma e já fala. Falta agora fazer a cirurgia para colocar a parte do osso do crânio que tiveram de retirar para aliviar a pressão. Num espaço mais reservado outro doente, jovem. Esta em coma. Um aneurisma causou sequelas graves e o corpo quase colapsou. Manobras persistentes e vigorosas permitiram que esteja agora em “stand by” à espera que o corpo reaja. Claro que com a ajuda das mãos humanas que fazem parte de equipas multidisciplinares e que são constituídas por fisiatras, cardiologistas, neurologistas, enfermeiras ou nutricionistas. “Este doente não come, mas precisa ingerir nutrientes que permitam que todos os órgãos funcionem em pleno e que garantam que, quando chegar o momento para se levantar e voltar a andar, os músculos estejam preparados.”, adianta recordando o papel da nutrição - outro curso da FMUL- na reabilitação destes doentes.
Até breve
Terminam no rooftop com vista para a cidade de Lisboa. Tudo parece mais pequeno e silencioso. Um claro contraste com o frenesim diário da cidade e do hospital. Mas as pausas silenciosas sabem melhor quando se conhece o outro lado, é mais gratificante. É por isso que os alunos estavam animados, esclarecidos e com muita vontade de fazer parte deste enorme campus onde está a FMUL.
O momento ficou registado na retina, mas para que o futuro não apague esta memória do passado, Nuno Gaibino tirou uma selfie ao grupo.
O último momento foi mesmo ao pé da estátua de Egas Moniz, onde se reuniram com alguns membros da AEFML que foram exemplares no acolhimento destes alunos e lhes passaram toda a energia e entusiasmo que se vive na FMUL.
Dora Estevens Guerreiro e Joana Sousa
Equipa Editorial