A camisola azul escura polar da European Space Agency e os ténis samba, da adidas, são a melhor forma de o apresentar, porque a simplicidade fala sobre ele. É, aliás, a maneira mais fácil de o reconhecer cada vez que é convidado para ir aos grandes encontros internacionais sobre o espaço. Edson Oliveira, ocupa primordialmente o seu tempo na CUF, como neurocirurgião; já na Faculdade de Medicina dá aulas de Anatomia e a optativa de Medicina Aeroespacial. Enérgico e empático por natureza, os títulos nunca lhe foram necessários para mostrar quem é. Um entusiasta e que um dia quis ser astronauta e como não pode, fez tudo para ficar ligado à lua, às estrelas e ao céu. Traz ao seu lado a Gabriela, também ela médica, formada pela nossa Faculdade. Ambos investigam, dentro das Neurociências, técnicas de performance humana e físicas para poder interpretar o comportamento do corpo no espaço.
Hoje um grupo de alunas de Barcelos, da Escola Alcaides de Faria, vem visitar o Centro de Estudos de Medicina Aeroespacial – o CEMA – projeto pioneiro no país, que vive a pensar na vida humana para lá da Terra. Tem como objetivo preparar os astronautas para o embate da microgravidade, antecipando problemas e alguns danos físicos que possam ocorrer no corpo quando fora da Terra. Não é por isso em vão que Medicina tenha criado mais uma sinergia com a Faculdade de Motricidade Humana, para que se apurem as técnicas de treino humano, fora de um ambiente de gravidade. “Aqui treinamos atletas de alta competição mas virados para a ciência, já que o corpo precisa de preparação e uma resistência exemplar”, explica, enquanto entra na sala e aponta para uma conhecida fotografia com um dos mais conhecidos astronautas americanos. E assim continua, “um astronauta treina uma média de duas horas por dia, para estar preparado para seguir rumo ao espaço, ou por um voo parabólico, mas tem de estar sempre a postos”.
O CEMA, assume ainda uma parceria com a Força Aérea, dividindo assim o grupo com mais aptidão para cenários espaciais, ou para os de aeronáutica.
Aqui neste Centro há uma cama onde bastam 6 graus negativos, para simular os efeitos fisiológicos da microgravidade. E porquê? Porque nunca se conseguiu perceber a verdadeira pressão intracraniana durante um voo ao espaço e com o corpo a 6 graus já é possível observar efeitos. É por isso que Edson Oliveira estuda com a sua equipa uma técnica que possa permitir a punção lombar a alguém que esteja no espaço, de modo a medir a pressão, de forma precisa e exata. Não esquecendo que o Co2 é um dilatador cerebral, como controlar esse Co2 se este aumenta 20 vezes mais no espaço ?
Os olhos falam por ele, o ânimo é sempre igual ao primeiro dia em que descobriu que os sonhos eram só a primeira porta de uma longa viagem. Foi sempre assim que o conhecemos. É sempre assim que no campus o reconhecemos.
Mas o que faz um grupo de 4 jovens de Barcelos, em Lisboa?
Olhares atentos e quase sem falar, a Diana foi a grande impulsionadora deste grupo. Saberiam elas o que as esperava? Juntou-se a Lara, a Bárbara e a Luciana e com elas as duas professoras Ana e a Céu.
A Luciana é a escolhida para pisar a passadeira alter G, onde fará uma caminhada em versão marciana e lunar.
O Duarte Conchinhas, doutorando da Motricidade Humana e em estreita sinergia com Edson Oliveira, é quem vai guiar a Luciana neste aventura de outro mundo. Chegou a hora de tirar os pés do chão, não estamos a medir nada, mas seguramente que as batimentos do coração da Luciana dispararam como quem correu uma maratona. Roupa devidamente colocada, a passadeira começa a recriar a atmosfera certa. A sentir apenas 60% do seu peso, a Luciana vai agora a caminhar até Marte. Sem dominar a vontade do corpo, começa a saltitar num percurso, a 6 quilómetros por hora. Ao seu lado as 3 amigas da mesma turma pasmam entre o êxtase e a vontade de viver as mesmas sensações. Os olhares brilhantes de sede de mundo e bebem cada partícula de memória e informação.
Abranda o coração e o passo. Muda a atmosfera e em menos de nada a Luciana segue rumo à lua. O Duarte Conchinhas explica cada comportamento do corpo, afinal ele estuda precisamente o que fazem os músculos, de acordo com a gravidade, ou falta dela.
Chegada ao fim de uma aventura de outro mundo e mal se conseguiu libertar do fato, a Luciana engoliu num abraço a amiga Bárbara. Aniversariante nesse dia, a Bárbara decidiu que o presente maior ficaria para a Luciana, a amiga cara metade, a quem deu a entrada direta para uma grande emoção ao espaço, “já que ela é a grande apaixonada pela Medicina Espacial”.
O prémio da Universidade do Minho que trouxe Barcelos a Lisboa e foi até à lua.
Contam-nos que se soubessem que iam entrar em competição, talvez não tivessem avançado. Pelo menos, não todas.
A Professora Céu, de Físico-química, colocava um desafio tentador, que tal incrementar o conhecimento e a nota com um trabalho de grupo que pudesse ser candidato a uma bolsa da Universidade de Minho? Sob o mote da “Ciência e Tecnologia na exploração espacial”, a forma como cada grupo abordaria o tema era de escolha livre e nem todos precisavam de abraçar o desafio vindo do Minho. Na verdade, a Diana foi a primeira a acreditar no projeto, ainda mal sabia que aceitar seria o começo de algo mais. Da perseverança que galgava a imaginação da Terra rumo ao espaço, entendeu que o rumo certo era espreitar a Medicina Aeroespacial. Nascia assim o tema de trabalho das 4 valentes, “As implicações do Espaço nos sistemas biológicos dos astronautas”.
A Professora de Biologia, Ana Maria, reforçou a dose de empenho e em conjunto trabalharam para que o projeto não passasse despercebido pela Universidade do Minho. E não ficou. Captada que estava a atenção de todos, as 4 jovens investigadoras do espaço foram chamadas para uma prova final, sujeita a uma sequência de perguntas. “A apresentação correu bem, mas as perguntas que vieram a seguir, deixaram-nos muito confusas, nessa altura achamos que tinha corrido tudo mal ”, recordava a Lara. Mas assim não deve ter sido, ou então não teriam elas ganho o primeiro prémio, atribuído pela Universidade do Minho.
Longe de ter terminado a jornada, o grande momento está ainda para vir, em junho, na Casa da Ciência do Porto, onde as 4 alunas vão apresentar a todos aquilo que investigaram.
Como um presente nunca vem só, encontraram no grupo de jurados Pedro Coimbra, do ESERO Portugal / Ciência Viva, que quando ouviu a apresentação do trabalho das alunas de Barcelos, logo as convidou para fazer nova viagem, desta vez até à cidade de Lisboa, ao centro de Medicina Aeroespacial da Faculdade de Medicina. E mal elas saberiam que terminaria lá longe, onde apenas os pensamentos das 4 amigas chegaram.
Parabéns!