Hoje foi um dia especial para os alunos do Agrupamento de Escolas Henrique Sommer, em Leiria. Numa visita de estudo, vieram a Lisboa visitar o iMM e o Teatro Anatómico na FMUL.
Duas turmas com alunos da área de Ciências e Tecnologias, acompanhados pelas professoras Clara Abrantes, Luciana Frade e Fátima Diniz, chegaram por volta das 10 horas e foram logo encaminhados para o Teatro Anatómico. À espera já se encontrava Pedro Henriques, o responsável pelo tratamento das peças anatómicas.
Dispersos por entre as marquesas e algumas peças anatómicas expostas, começaram a ouvir algumas explicações. Por exemplo, os cérebros que ali estavam passaram por um processo moroso e minucioso, a plastinização. “O que é isso?”, “para que servem estas peças” perguntaram? “trabalhar com cadáveres não faz impressão” e “de onde vêm?” foram algumas perguntas que aos poucos, os alunos foram fazendo. Pedro Henriques ia explicando uma a uma as dúvidas que iam surgindo, até que ele próprio lançou uma pergunta: “quem gosta de tatuagens?” os alunos ficaram calados”. Notava-se um semblante surpreendido e um pouco desconfiado. Preferiram esperar por mais alguns desenvolvimentos! “Temos aqui uma coleção de tatuagens” e continuou, “antigamente as pessoas faziam tatuagens por motivos religiosos e amorosos e temos aqui alguns exemplos,” referiu mostrando a estante onde estão preservados alguns pedaços de pele com histórias pessoais “impressas”.
Avançando na sala com alguns alunos espreitando por entre os frascos, foi a vez da Dorisa Silva esclarecer uma dúvida: “o que se faz aos cadáveres depois de serem utilizados?”. A Ana Maria Afonso levantou a mão, “esta pergunta se calhar não faz sentido”, começou por dizer, “mas gostava de saber onde são guardados os cadáveres?”. Ana Rita, aluna de 20 a tudo, segundo as professoras, avança, “eu pondero estudar medicina, mas faz-se confusão e recuo, quando penso que tenho de estudar cadáveres,” diz, mas sossega quando lhe é explicado que apenas as zonas objeto de estudo estão visíveis despersonalizando, de alguma forma, a pessoa que ali está. Mas Pedro faz questão de passar esta mensagem, “respeitamos muito todas as pessoas que tiveram a generosidade de ceder o cadáver à ciência e rentabilizamos ao máximo para justificar este feito”. Atualmente a Faculdade já dispõe de muitas doações, mas nem sempre foi assim. “Felizmente cada vez mais as pessoas têm consciência desta necessidade.”
A cabeça de Diogo Alves é objeto de curiosidade bem como o método de preservação nele aplicado, ao contrário da mão translúcida, que Pedro teve de chamar a atenção porque passava despercebida pelos alunos. “É um processo muito difícil de conseguir e que permite visualizar todos os tecidos.” É a única peça conservada segundo aquele processo.
Os alunos querem saber que tipo de formação é preciso para fazer aquele trabalho e como é que ele chegou até aqui. Pedro explica um pouco do seu percurso.
À medida que vão circulando, são chamados à atenção para não tirarem fotografias. Alguém pergunta “são os pés de um bebé que ali estão, dentro de um frasco?”, a dúvida é confirmada!
Apesar de num grupo tão grande alunos apenas uma assumiu que a medicina podia ser uma hipótese de futuro, ficam a saber que há várias áreas que contribuem para o avanço desta área. Por exemplo, com as impressões 3D, o ramo da informática ganhou enorme expressão na saúde. “Aqui fazemos impressões de ossos e órgãos há muitos anos e resultou de uma parceria com alunos de informática do Instituto Superior Técnico.”
“Poderão estas peças substituir o corpo humano”, questiona um aluno, “isso não vai acontecer”, explica, porque “todas as impressões são feitas a partir de um modelo real” e para além disso, “a diferenciação que o corpo humano tem, é vital para o estudo da ciência,” conclui Pedro Henriques.
Foi um dia de descoberta e de aprendizagem para este grupo de jovens alunos. Quem sabe esta visita não virá a ser determinante numa escolha futura, na vida de um deles?