Gabinete de Apoio á Investigação Científica, Tecnológica e Inovação
gapicmail@medicina.ulisboa.pt
GAPIC Alumni, Médico, Investigador e vencedor da 14.ª Bolsa de Investigação Fundação AstraZeneca /FMUL, David Cordeiro Sousa*, apresentou no Dia da Investigação da FMUL, no passado dia 15 de dezembro, os resultados do seu projeto “Retinal vascular reactivity in type 1 diabetes patients without retinopathy using optical coherence tomography angiography”.
Nesta entrevista partilha de forma entusiástica a sua experiência GAPIC e muito mais.
De forma resumida descreva-nos os resultados obtidos no seu projeto de investigação “Retinal vascular reactivity in type 1 diabetes patients without retinopathy using optical coherence tomography angiography” ao qual foi atribuída a 14.ª Bolsa de Investigação Fundação AstraZeneca/FMUL.
A retina, o tecido do corpo humano que mais oxigénio consome por unidade de área, possui um complexo sistema de autorregulação vascular. Este mecanismo permite manter o adequado fornecimento de oxigénio e nutrientes à retina em condições de hipóxia ou alterações da pressão arterial, por exemplo. Na maior parte dos estudos existentes, as respostas vasculares da retina foram avaliadas com recurso a técnicas de imagem que se limitam à avaliação dos vasos de maior calibre. A possibilidade de analisar em maior detalhe estes mecanismos contribui para melhor compreender os processos envolvidos na autorregulação microvascular da retina, tanto em condições fisiológicas como de doença. A angiografia por tomografia de coerência ótica (OCTA) é um exame rápido, seguro, não invasivo, e que nos dá imagens tridimensionais e de alta resolução da microvasculatura retiniana. O objetivo principal desta série de trabalhos multidisciplinares foi estudar a reatividade vascular da retina utilizando OCTA, em indivíduos saudáveis e com diabetes tipo 1 (DM1), e discutir potenciais aplicações clínicas. Em primeiro lugar, foi otimizado o protocolo para a utilização de OCTA para avaliação de respostas vasculares retinianas a estímulos vasodilatadores e vasoconstritores, utilizando dois testes padronizados - hipóxia e exercício isométrico, respetivamente. De seguida, aplicou-se este protocolo a doentes com DM1 sem evidência de retinopatia, e verificou-se que estes apresentam alterações nas respostas autorregulatórias da retina em estádios pré-clínicos. O trabalho do nosso grupo foi pioneiro na utilização de OCTA para identificação precoce de alterações funcionais da resposta vascular da retina.
Qual a relevância deste seu projeto para o avanço do conhecimento e para a prática clínica?
Os estudos realizados no âmbito deste projeto destacam o potencial de otimização da tecnologia de OCTA no sentido de combinar uma análise funcional ao angiograma estrutural atualmente disponível. A metodologia desenvolvida para o estudo dinâmico da microcirculação retiniana - parte do Sistema Nervoso Central, constitui um ponto de partida para futuras aplicações clínicas da OCTA, não só em Oftalmologia, mas também em outras áreas, como a Medicina Cardiovascular e Neurociências.
Qual o impacto da sua experiência enquanto aluno GAPIC, tendo participado em 2 edições do Programa “Educação pela Ciência”, no seu percurso profissional?
É unânime para a nossa comunidade académica que o projeto GAPIC é um enorme sucesso. Foi para mim um privilégio ter tido a oportunidade de conciliar o curso de Medicina com projetos de investigação básica e clínica, em equipas do nosso Centro Académico de Medicina de Lisboa. O conjunto de aprendizagens e conhecimento adquiridos não é tangível no imediato, mas contribuiu de forma muito significativa para me capacitar como clínico-investigador atualmente.
O que o leva a conciliar profissionalmente a atividade clínica e a atividade científica?
Como na maioria dos ramos da Medicina, em Oftalmologia a inovação científica e tecnológica está a acontecer a um ritmo fascinante. É possível, a cada dia que passa, ver com mais detalhe, diagnosticar mais precocemente, identificar mais fatores de risco e como resultado de tudo isto - cuidar melhor dos nossos doentes. Apesar dos desafios - e se os há na investigação, mantenho-me todos os dias motivado para continuar a minha carreira como clínico-investigador. Ser médico ajuda-me a ser melhor investigador, e ser investigador contribui sem dúvida para ser melhor médico também. Termino com a sugestão de um vídeo, em que Dan Pink nos explica o que nos motiva.
Quais os seus planos futuros no campo da investigação científica?
Na área da cirurgia de retina, em que me especializei, são inúmeras as possibilidades. Atualmente, estou em Melbourne - Royal Eye Victorian Eye Ear Hospital e Centre for Eye Research Australia, onde tenho a oportunidade de coordenar e participar em projetos que combinam a utilização de OCTA e Inteligência Artificial, em doenças hereditárias da retina e na doença de Alzheimer. Numa vertente mais clínica, estou a desenvolver a aplicação de um dispositivo e técnica cirúrgica inovadores para o tratamento de doentes com complicações relacionadas à alta miopia.
Por fim, quero agradecer a toda a equipa de colegas e amigos, médicos e investigadores que tornaram possível a concretização destes projetos – Dra. Inês Leal, Dra. Susana Moreira, Profª. Sónia do Vale, Profª. Ana Silva-Herdade, Prof. Patrício Aguiar, Dra. Patrícia Dionísio, Prof. Luís Abegão Pinto, Prof. Miguel Castanho e Prof. Carlos Marques-Neves; bem como a todos os participantes voluntários.
*Dr David Sousa graduated from the Faculty of Medicine of the University of Lisbon in 2013. He completed his Ophthalmology speciality training at Hospital de Santa Maria, followed by a vitreoretinal fellowship in Manchester, UK. He currently works as a Vitreoretinal Surgeon at the Royal Victorian Eye and Ear Hospital, in Melbourne, and as a researcher at the Centre for Eye Research Australia. His main interests include Retinal Imaging, Artificial Intelligence and Evidence-based Medicine. Dr David Sousa is a mentor of the ARVO Global Mentorship Program and holds editorial roles in Current Eye Research and Frontiers in Neuroscience, in addition to his numerous peer-reviewed research publications and presentations at national and international conferences. He continues to lecture in his alma mater - the Faculty of Medicine of the University of Lisbon.
GAPIC, 30 anos a Apoiar a Ciência
GAPIC à distância de um clique: www.medicina.ulisboa.pt\gapic | gapicmail@medicina.ulisboa.pt | Facebook