As vacinas contra a COVID-19 têm como objectivo prioritário prevenirem a doença grave, as admissões hospitalares, os internamentos em cuidados intensivos e a mortalidade associada. Com este objectivo devem ser vacinados, aqueles em que se regista maior mortalidade, isto é, os com mais de 70 anos, nos quais se verifica 86% da mortalidade. A mortalidade por COVID-19 está associada, fundamentalmente, ao envelhecimento, que, em consequência biológica da imunossenescência, vai acumulando, à medida que a idade avança, comorbilidades (pela persistência de um estado pró-inflamatório crónico), aumentando o risco de doença grave e de morte.
A vacinação prioritária desta população tem efeitos directos na redução do risco de morte e efeito indirecto na diminuição da transmissão aos conviventes próximos (estudos recentes, mostraram redução do número de infectados e da carga vírica nos infectados dos conviventes próximos dos vacinados, em comparação com o período anterior à vacinação).
Tendo como factor prioritário, para a qualquer vacina, a redução dos casos de doença grave e de morte, no contexto da COVID-19, a vacinação por grupos etários, por ordem decrescente, satisfaz o principal objectivo de um plano de vacinação (em relação à COVID-19, não foi demonstrada mais gravidade para as doenças crónicas, em particular maior mortalidade, à excepção da hipertensão, das doenças cardiovasculares, das doenças respiratórias crónicas que necessitam permanentemente de suporte de oxigénio, da insuficiência renal terminal, da obesidade e da diabetes descompensada, em comparação com a população em geral). Por exemplo, as taxas de doença grave, de internamentos e de mortalidade, nos infectados por VIH, com COVID-19, são idênticos para aqueles com imunodeficiência profunda e para aqueles com um estado imunitário relativamente bem conservado, concluindo-se que outros factores, como a idade avançada, as comorbilidades e os factores sociais sejam os impulsionadores do risco, mais do que o próprio grau de imunodeficiência. No entretanto, a pandemia não é alimentada pelos mais velhos, dado que a prevalência da infecção é de cerca de 80% nos mais novos e enquanto a vacina não estiver disponível para esta população mais susceptível à infecção, em geral com evolução assintomática ou paucissintomática, as medidas não-farmacológicas de prevenção – distanciamento, uso de máscaras, testagem, rastreio e isolamento – têm que acompanhar esta fase de vacinação, para que o retorno à “vida normal” seja mais rápido, antes, mesmo, de se atingir a imunidade de grupo (à custa das infecções e da escalada na vacinação dos mais novos), ao mesmo tempo que se garante a protecção dos mais vulneráveis.
Francisco Antunes
Professor Jubilado de Doenças Infecciosas
Nota: O autor do artigo optou por escrever com o antigo acordo ortográfico