Faria no dia 24 de janeiro 85 anos. O caminho falhou-lhe entretanto, vivia na Holanda já há mais de 50 anos.
Nunca negou, no entanto, o orgulho de ser português e manifestava-o em diferentes ocasiões, mesmo que muito discretamente, até porque não era homem de excessos com nada, a não ser no empenho que colocava em tudo aquilo que acreditava. O Fernando ainda jovem saía de Portugal porque entendia ter o direito a não querer partir para a guerra colonial que era feroz e invadia os tempos e a busca de cultura de cada um.
Neurocientista de renome é ainda hoje largamente procurado em artigos científicos. Afinal sair do país tinha razão de ser, porque se enquanto cá ficou poucas foram as suas publicações, foi pouco após a sua saída que a curva dos artigos subia cada vez de forma mais ascendente. Amiga e uma das muitas médicas e investigadoras que o seguiram e o viram como inspiração, Teresa Paiva, especialista que observa a atividade neuronal no sono, refere que até ao dia de hoje Fernando foi citado mais de 43 780 vezes.
Foi pelo Fernando, o mestre, conselheiro científico e do intelecto, que muitos se juntaram no mês de janeiro, no Grande Auditório da Faculdade de Medicina, no preciso dia em que faria mais um ano de vida. Num abraço saudoso entre a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa com o Instituto de Medicina Molecular, Fausto J. Pinto e Maria do Carmo-Fonseca chamaram amigos e nomes da medicina e da ciência para darem especial vida a Fernando Lopes da Silva, o homem que motivou tantas vidas através dos seus pensamentos e das dúvidas que lançou.
Homenageado por relatos mais pessoais, com fotografias de grandes almoços onde ele e a sua grande companheira de toda a vida Carlota recebiam amigos e debatiam as dúvidas do mundo, ou celebrado através de raciocínios e estudos científicos, Fernando Lopes da Silva esteve presente de alma numa sala cuja emoção estava disfarçadamente contida.
Maria de Sousa, prestigiada cientista cujo foco foi sempre a Imunologia e que faz parte do júri do Prémio Pessoa; Teresa Paiva, médica e investigadora do comportamento do cérebro durante o sono; Menno Witter, investigador em neuroanatomia e diretor de um grupo de investigação Holandês em neurociências; Pedro Guedes de Oliveira, engenheiro eletrotécnico e membro do conselho científico da FCT; Nuno de Sousa, diretor da Escola de medicina do Minho e membro do conselho de administração da Fundação BIAL, foram apenas alguns dos que quiseram vivenciar as suas memórias sobre Fernando. Os amigos da escola e vizinhos do bairro das Avenidas Novas, onde todos jogavam à bola e estavam rodeados de vivendas e não por carros, esses choraram-nos todos porque os vínculos de infância perduram na mente e no cérebro. Anfitriões desta primeira celebração que continuará por outros pontos diversos, Fausto J. Pinto e Maria Carmo-Fonseca atribuem-lhe parte da responsabilidade da ciência de qualidade que hoje se pratica e continuarão a celebrá-lo porque com isso elevam a sua própria Instituição, onde se formou, onde pertenceu cientificamente e como conselheiro e de quem recebeu um grau de honoris causa (da Universidade de Lisboa).
Dizem que enquanto as memórias lembrarem alguém, essa pessoa manter-se-á viva. O encontro “Juntos Pelo Fernando” fará perdurar noutras memórias mais jovens e inexperientes o mestre e dele falarão novamente e farão que outros olham de novo para Fernando Lopes da Silva, o neurocientista imortal.
Joana Sousa
Equipa Editorial