O Diretor Fausto J. Pinto lançou um desafio ao Gabinete de Comunicação, era preciso inovar e renovar a imagem da Faculdade e desenhou dois pontos-chave, desenvolver um novo site e apresentar a Faculdade ao mundo, num cartão de visita online, através de um vídeo institucional.
A equipa fragmentou-se para acolher todos os projetos e partiu nessa viagem como coisa sua, muitas vezes a primeira causa de tudo.
“Um vídeo Institucional” pensava… Só o nome trazia um peso que parecia querer desvirtuar qualquer criatividade. Tudo o que é muito bom já foi eventualmente pensado por alguém, mas podemos sempre aproveitar as ideias e redesenhá-las à nossa realidade. O truque seria ver vídeos e mais vídeos, tentar escrever ideias soltas e depois fazer a proposta da linha a seguir ao Diretor. “O que querem eles ouvir?”, perguntava às voltas enquanto pensava nos alunos que já tinha conhecido. Ao pensar neles a resposta veio então rápida, “serão eles a falar, porque já tantos contaram o que sentem por estar aqui”.
Primeira reunião com o Diretor. Senta-se na mesa redonda de reuniões ao meu lado, como alguém que vai dividir connosco um filme, ou um bom momento. Defendo-me à partida, “se calhar vai achar que sou doida”. Bastaram-lhe meia dúzia de minutos de vídeos para me dizer afirmativamente, “já percebi perfeitamente o que quer passar. Força! Peça ajuda ao Presidente da AEFML, ele vai certamente ajudar”. O desafio de trabalhar com este Diretor é esse, a confiança que passa e isso cria responsabilidade, obrigação de não falhar.
Linhas escritas a pensar em nomes concretos daqueles que conheci, da Instituição e da pessoa que a comanda. E então torna-se instintivo ir sentindo a missão.
Seguiram-se as reuniões com um grupo de pessoas do meio audiovisual. Produtoras rivais de mercado, mas amigos entre si de longa data, juntaram-se para fazer um quebra cabeças mais técnico, mas também para opinarem enquanto o espectador que vê de fora. Escolhida apenas uma das equipas passámos a focar ainda mais no que seria o tal institucional. Em troca do texto, seguiam-se listas de material, propostas mais ou menos arrojadas e negociações para tentar ilustrar o que apenas o pensamento imaginara.
Começavam as férias e a Faculdade ia ficando vazia, a cada dia mais vazia, ouvia-se o sopro das tardes do fim de julho.
Falo com a Professora Ana Sebastião para nos autorizar a circular pelo Edifício Egas Moniz. A Professora adora a ideia, mas recorda que já quase todos saíram para voltar daí por algumas semanas. A seguir fala-se com o Hospital e o iMM, todos a postos. Dentro da Faculdade os que permaneciam, abriam as portas, não olhando as horas que seriam ultrapassadas, mais tarde, para podermos gravar.
Parti de férias e foi aí que comecei a trabalhar com o José Rodrigues da AEFML, ele entre a Faculdade e caminhadas nos Açores, eu noutra ilha. Dezenas e dezenas de mensagens trocadas. Passou a ser o Zé, fiel aliado que seria quase a metade do que foi feito. “Olha eu tenho as meninas, ajuda-me com os rapazes”, dizia-lhe. E o Zé fez-me descobrir mais duas incríveis pessoas. Estavam então escolhidos os nossos alunos.
Entrávamos em agosto. Uns vieram de propósito para fazer o vídeo, outros por sorte iam mesmo por cá ficar. Tivemos a mesma sorte com alguns Professores e foi assim que reunimos todos, dividindo os planos de gravações por vários dias.
Todos pontuais, todos genuínos, em todos havia um sentido de missão, “esta casa é nossa, claro que contribuo para a mostrar”.
Começámos sempre cedo. Acabámos quase sempre tarde demais, quando já as portas se trancavam e os corredores pareciam demasiado escuros e rangiam enquanto deslizávamos o material técnico. “Filipa agora precisamos de abrir esta porta. Agora fechar aquela”; os Seguranças da Faculdade foram a nossa sombra, nunca nos falharam. Os nossos protagonistas guiavam-nos, eles perdidos se estariam bem a gravar, nós perdidos fisicamente, íamos ouvindo, “sobem até ao 3º andar, atravessam aquele corredor todo, descem depois ao 1º e viram à esquerda, e a sala que procuram está aí”.
Apanhámos elevadores com pessoas em macas, outras em cadeiras de rodas, outras com pressa para um exame e impacientes com o nosso aparato. Entrámos no bloco operatório, assistimos a uma intervenção, vimos o corte, sangue. Uns quase desmaiaram, outros queriam ficar ali o resto do dia a ver e a ver, a aprender o que nunca tinham visto. Por nós passaram milhares de pessoas ao longo dos dias, quase todas vivas, outras não…
“Cena 2, take 1, ação!”, eles arrancavam como heróis de um filme, assumiam frases e ações, sem medo de enfrentar gente, sem medo de se exporem ao ridículo. Repete e repete e nada os demove, não desanimam, não fazem perguntas, aceitam as regras do jogo e empenham-se sem fim.
Gravamos uma das frases do Juramento de Hipócrates, a Susana Henriques, a responsável pela Biblioteca traz-me uma jóia guardada a sete chaves em cofre, um livro de 1517, uma das edições mais antigas do Aforismos Hippocratis. Que honra carregar nas mãos tanta história, tanta responsabilidade.
Os dias seguem. Novas horas. Mudam protagonistas, mas outros voltam porque até preferem repetir uma cena. Querem sempre colaborar. Melhorar.
É preciso colocar foco de luz na sala de espera cheia de doentes. Ah, era preciso autorização específica aqui… “Peça à Enfermeira-Chefe”. E ela veio, elas vieram, as que chamámos, sempre para ajudar, sempre para resolver.
Muitos esperaram por nós até fora de horas, mas ficaram sem cobrar, no iMM, no Biobanco, na Biblioteca principal e na das Neurociências, ou no Teatro Anatómico.
“Take 5, ação!”, e repetiam, “só mais uma cena para ficar perfeito”.
As várias horas de imagem foram para edição, edição que visitei vários dias a fio, várias noites. Cola foto, insere vídeo, tira esta foto, agora volta a colocar. “Não resulta”, pensei das muitas primeiras vezes que vi o filme. Passava para trás e para a frente e faltava sempre algo. Nova tentativa, novas filmagens, muito curtas que acrescentavam só mais aquela imagem que tinha idealizado. Ninguém quebrou, ninguém se demoveu.
A cada prova enviada ao Diretor sentia que estávamos a acertar na mira. “De França para Espanha, continue, é esse o caminho”.
Horas a ouvir músicas. “Não, não é esta que dá sentido, nem esta, esta também não”. Comprou-se uma música, era esta, era ela, era feita para estar ali naquela história – “Beauty”, de Andrew G.
O vídeo estava pronto. Nesse momento havia uma vontade gigante de abraçar cada um para dizer que o orgulho era imenso. Talvez não tenha abraçado nenhum… Mas quis muito.
O vídeo foi apresentado no momento em que se abria a sessão inaugural do Dia da Faculdade. Saía do ar a última imagem e entrava a ficha técnica. A sala fazia um silêncio constrangedor. Gelei. Inundou-se então num forte aplauso. As horas e dias que se seguiriam foram muito generosas de feedback, alguns muito comovidos. Se simbolizamos sempre todos? Não. Se tocamos sempre todos? Claro que não. Mas quando abraçamos os projetos com alma é essa alma que permanece, mesmo que a memória vá fazendo esquecer o que se viveu.
Ao Professor Fausto o meu primeiro obrigada, porque a forma como confia permite uma liberdade e criatividade sem fim.
Depois aos quatro protagonistas que passaram a ser pessoas que queremos acompanhar até ao fim do percurso: Estela Flambó, José Charréu, Mickael Bartikian e Victoria Stosberg.
Ao Zé, o José Rodrigues Presidente da AEFML, o meu confidente de todas as dúvidas e inseguranças antes e durante as gravações e à AEFML que tanto apoiou na busca ideal das fotografias e materiais. E aos restantes alunos que deram a cara pelo vídeo.
Aos Professores que connosco colaboraram de forma tão generosa e disponível, tão paciente: Professores Ana Isabel Lopes, Joana Sousa, Miguel Castanho, Sérgio de Almeida.
Ao Pedro Henriques do Teatro Anatómico e ao João Pedro Nóbrega, interno que ficou horas à nossa espera, apenas para gravar um curto take.
À Susana Henriques e à Isabel Santos que tanto me confiaram tempo e informação.
À equipa do Hospital e à unidade de Cardiologia de Intervenção.
Às Enfermeiras Ima Figueiredo e Ana Sanches e à generosidade da Dra Ana Tornada que agiu sempre na sombra, para ajudar.
À Cláudia e à Inês da Comunicação do iMM e à Fabiana do Biobanco que simulou vezes sem conta testes numa mesma amostra de tumor.
Ao Gabinete de Planeamento Estratégico e Qualidade pela ajuda que nos deu a reunir dados e números.
E aos “Maus da Fita” porque conseguiram pôr em imagem um filme que só eu conseguia ver na minha cabeça.
A todos obrigada, porque haja o que houver é aqui que escolhemos todos ficar!
Se ainda não o viu, reveja o vídeo, aqui.
Joana Sousa
Equipa Editorial