O ISAMB participa em vários planos de saúde. Conta já com cerca de 7 anos de vida e nasce numa matriz de saúde pública, sendo o principal objetivo desta Unidade de Investigação FCT desenvolver os princípios da saúde pública aos conceitos de saúde ambiental. O instituto organiza-se por vários grupos de investigação: dois dedicados às doenças infecciosas e não infecciosas, dois relacionados com a saúde pública e a promoção da saúde e um dedicado à epigenética. Conta ainda com dois laboratórios de investigação, que desenvolvem trabalho transversal, também de apoio aos vários grupos de investigação, sendo que um deles está direcionado para a microbiologia e o outro associado aos comportamentos de saúde ambiental, ou seja, como é que os comportamentos determinam a saúde, do homem e do ambiente, sobre várias perspetivas, para diferentes tipos de problemas de saúde que afetam o humano.
Osvaldo Santos é assistente convidado da FMUL e investigador do ISAMB. Neste mesmo instituto, coordena o EnviHeB Lab (Laboratório de Comportamentos de Saúde Ambiental) e participa, juntamente com Margarida Gaspar de Matos, na Task Force de Ciências Comportamentais, criada pelo governo para combater a pandemia da COVID-19.
Aos olhos de Osvaldo Santos, o conceito de saúde ambiental carece ainda de melhor definição, “tendo como objeto de estudo as interações complexas entre a saúde humana e a saúde ambiental. O ISAMB não se concentra apenas em analisar como o ambiente determina a saúde humana, mas avalia também o contrário: que impactos têm os comportamentos humanos, e os esforços para manter a saúde do homem, no ambiente”.
De acordo com Osvaldo Santos, ao estudarmos a relação entre o ambiente e a saúde do homem, o ambiente deve ser entendido de um ponto de vista mais global e não só numa perspetiva física, química e biológica; importa olhar também para as suas dimensões sociais, económicas e, também, para os diferentes contextos, laborais e escolares, por exemplo, porque toda esta complexidade ambiental tem impacto na saúde do homem. Acrescenta ainda que o ambiente digital é uma dimensão ambiental a que tem sido dada, indevidamente, menos atenção, “nós passamos a maior parte do tempo em que estamos acordados a a olhar para um ecrã e, portanto, temos de pensar que impacto tem esse ambiente digital na saúde humana”.
Um dos aspetos centrais de toda a investigação realizada ISAMB tem a ver com o comportamento humano. Uma das características distintivas deste instituto é pensar que o comportamento está a base da saúde do ambiente e, claro, da saúde humana “a maior parte da mortalidade e da morbilidade, principalmente quando se trata de doença crónica, está associada aos comportamentos. A maior parte dos problemas da saúde ambiental tem também a ver com o comportamento humano, ou seja, na forma como o homem interage com o ambiente; todos os nossos comportamentos resultam em ações que afetam a saúde ambiental”.
As alterações climáticas têm sido um dos temas bastantes discutidos e que levantam algumas preocupações no surgimento de novas doenças. Osvaldo Santos explica alguns dos fenómenos naturais que estão em causa.
A saúde mental também se associa às modificações do ambiente. As perturbações da ansiedade, bem como a depressão e outros problemas de saúde mental, especialmente agravadas no caso da população mais idosa, dependem também dos ambientes com que contactamos. Por exemplo, as pessoas com idade mais avançada isolam-se mais quando está mais frio; o que também resulta em menos estímulos cognitivos, fundamentais para a saúde mental e para reduzir o sofrimento psicológico.
Mas não falemos apenas em aspetos negativos. Há diversas investigações que mostram que o contacto com os espaços verdes ou azuis (nomeadamente, espelhos de água em contexto urbano), promove mais bem-estar psicológico-. Por isso, devemos procurar estar em contacto frequente com este tipo de espaços.
Que novas doenças podem surgir devido às alterações climáticas?
Questionado sobre as medidas que deveriam ser tomadas para travar o avanço das alterações climáticas, Osvaldo Santos responde na perspetiva de um psicólogo, “é preciso mudar comportamentos”. Neste caso o comportamento a que se refere é um comportamento que promova ao mesmo tempo saúde humana e saúde do ambiente. Destaca como exemplos simples, o termos condições (em contexto urbano) que facilitem o andar mais a pé ou de bicicleta é benéfico para a saúde humana e é benéfico, também, para o ambiente. E é isto que pretende transmitir, “encontrar uma mudança comportamental que seja entendida pelo próprio como benéfico para si e para o ambiente. Se colocarmos o discurso apenas direcionado ao ambiente, não iremos ter sucesso, porque estamos a falar de aspetos de larga escala, em termos de espaço e de temporalidade, e a espécie humana não é muito boa a pensar em larga escala”. Acrescenta ainda que falamos muito em acordos para resolver o problema das alterações climáticas, mas defende que precisamos de pensar de forma global; para além dos planos nacionais, importa criar um verdadeiro plano global, à escala mundial, de saúde. Saúde do homem alicerçada em saúde planetária.
Da COP26 surgiu um alerta: se não implementarmos medidas concretas nos próximos anos, o planeta poderá aquecer até 2,4 graus celsius. Osvaldo Santos fala das implicações que este aquecimento pode ter no planeta e, mais especificamente, em Portugal a começar no Algarve.
Continua a haver um afastamento entre o que é a saúde do ambiente e a saúde humana, mas Osvaldo Santos afirma que os dois conceitos estão interligados, acrescentado que Aristóteles foi dos primeiros a falar em saúde ambiental. E cita-o: “Para Aristóteles, tudo no cosmos tem uma função específica, que contribui para a harmonia: os pássaros têm uma função, o vento tem um papel próprio, etc, mas ao contrário de tudo o resto, cada um de nós, na espécie humana, tem de descobrir qual é o seu papel no mundo. Assim sendo, o homem pode fazer adoecer a natureza por tem a capacidade de impedi-la de cumprir com excelência o seu papel”.
Mostramos o vídeo anterior e foi questionada a possibilidade de a espécie humana estar em vias de extinção. Osvaldo Santos declara que, “Nada é eterno. O próprio planeta terra estará condenado em desaparecer; portanto, se não forem tomadas medidas e se não formos capazes de nos adaptarmos, implementando planos globais, a extinção do homem não está claramente fora da equação”.
Conheça alguns dos projetos que o ISAMB desenvolve e todas as suas iniciativas, através do site oficial.
Leonel Gomes
Equipa Editorial