Estudo anatómico
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dois médicos junto de marquesa

Era uma manhã igual a tantas outras. À entrada do hospital, a azáfama do costume com ambulâncias paradas à porta, carros a circular e o vai e vem de doentes. O passo acelerado das pessoas  fora contrasta com o silêncio do Teatro Anatómico, quebrado apenas por uma playlist eclética. Pode bem ser ela a responsável pelo ritmo das mãos de dois cirurgiões embrenhados num estudo anatómico que promete trazer novidades no campo da reconstrução mamária e na recuperação da sensibilidade, condição vital para manter a qualidade de vida aos doentes que fazem este tratamento.

Falamos do Dr. João Pombo e do Prof. José Guimarães Ferreira. Ambos cirurgiões plásticos, juntaram-se neste que foi o primeiro de vários dias para, através da disseção cadavérica, conhecerem a anatomia dos nervos e dos vasos sanguíneos de uma nova zona que acreditam ser uma possibilidade na reconstrução mamária.

 

 

medicos a trabalhar numa marquesa

 

medicos a trabalhar numa marquesa

 

Atualmente este procedimento é feito recolhendo tecidos da zona do abdómen, mas para os casos em que essa possibilidade não é possível, é necessário encontrar soluções, e esta pode bem ser uma delas. Claro que para haver certezas há ainda muito caminho a percorrer. “Vão ser precisos, no mínimo, mais 20 disseções para compreender a anatomia de todos os tecidos envolvidos” disse João Pombo, bem como do número de vasos e da densidade dos nervos necessários para fazer um transplante autólogo bem-sucedido que vai realizar-se com recurso a cirurgia microscópica.

A principal dificuldade está em identificar os vasos e nervos porque, como disse José Guimarães Ferreira, que também é professor na faculdade de medicina, “não é como nos livros de anatomia que cada um vem de sua cor”. Tesouras e pinças vão abrindo caminho por entre os tecidos. Falam baixo um com o outro. Estão focados! Ao fundo ouve-se a música “Pedra Filosofal” de António Gedeão. Banda sonora perfeita para o que se estava a passar. “Sempre que o Homem sonha o mundo pula e avança” e é isso que ambos estão a fazer. Avançam passo a passo na busca de respostas para problemas diários de gente comum.  

 

material cirurgico

As horas foram passando e por hoje estava feito, mas há mais encontros marcados neste “perpétuo movimento” que permite criar possibilidades de resposta a às quais a medicina não foge à regra.