As variações de um vírus | Opinião de Marc Veldhoen
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Fotografia do investigador Marc Veldhoen

Marc Veldhoen, Professor da FMUL e investigador do Instituto de Medicina Molecular (iMM), escreveu um artigo de opinião no jornal público desta quarta-feira, sobre as variações de um vírus, usando como exemplo o SARS-CoV-2. Neste texto, encontrará as ideias principais do artigo.

O investigador refere que, “os vírus são pequenos pacotes de material genético com instruções para invadir o seu hospedeiro e aí se multiplicarem. Um vírus não é um convidado agradável, não se preocupa com a célula hospedeira, e muitas vezes destrói-a. Os vírus mudam, mas o sistema que os combate, o sistema imunitário, acompanha estas mudanças”.

Na opinião do investigador, o SARS-CoV-2 teve duas implicações importantes. A primeira é que, “o vírus não estava familiarizado com as nossas células”, assim sendo, passou de um hospedeiro desconhecido para os humanos, adaptando-se a nós. No entanto, como os vírus mudam, sofrendo mutações, sendo estas aleatórias levando a erros ocasionais no processamento o material genético. Surgindo uma nova variante, esta será mais competitiva do que a original e ganhará vantagem.

A segunda implicação, diz respeito ao facto de “o nosso sistema imunitário não possuía uma ‘ficha técnica’ com a descrição deste vírus”, mas mesmo sem esta ficha, o sistema imunitário é capaz de detetar o invasor viral.“A rápida disseminação do vírus também contribuiu para uma melhor adaptação aos humanos”.

Mas conseguirão estas variantes escapar ao nosso sistema imunitário? Mais uma vez, a evidência científica parece indicar-nos que não. Os coronavírus não se podem “esconder” do sistema imunitário, afirmando o investigador que a melhor “estratégia” de sobrevivência do vírus é ser o mais rápido possível, criando o máximo de partículas virais que conseguir.

As vacinas até agora aprovadas (e que nos permitem obter o ambicionado cartão de identificação deste vírus, sem o termos encontrado) usam uma molécula do exterior do SARS-CoV-2, a proteína spike ou S. Esta molécula sem a qual o vírus é inofensivo é fundamental para reconhecer as nossas células.

O investigador levanta outra questão: Mas serão as variantes capazes de escapar à nossa resposta imunitária? “Isso é muito improvável”, responde Marc Veldhoen, dizendo ainda que “a ficha técnica do vírus que se constrói depois da vacinação contém informações detalhadas sobre toda a proteína S”.

“A redução da neutralização do vírus pode permitir que ele nos infete, mas a existência dos cartões de identificação irá garantir que não ficaremos doentes. Para além disso, o sistema imunitário será́ muito mais rápido na sua resposta, tendo ainda a capacidade de se adaptar e adicionar novas informações à ficha técnica deste vírus, memorizando a(s) nova(s) variante(s) para a próxima vez que as encontrar”.  

Pode ler o artigo de opinião, AQUI.