Sérgio Eliseu artista convidado das sessões Blend
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Entrevista a Sérgio Eliseu, artista plástico, que foi um dos nomes convidados para participar nas sessões Blend com uma peça que se chama “Digital Twins”.

instalação artistica com representação em holograma

A peça em questão, esteve em exposição no Edifício Egas Moniz e permitiu ao público criar uma interação com o conceito Digital Twin. Sérgio Eliseu explica que este é também, o nome da peça. O nome corresponde ao conceito de uma representação virtual que precisa de um sistema ou de um processo físico para existir.

Vamos conhecê-lo nas próximas linhas…

homem segura num crânio, parte da instalação artistica

 

caveira com luzes

 

Qual a sua formação?

Sérgio Eliseu: Doutorado em Arte e Design pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Mestre em Criação Artística Contemporânea pelo Departamento de Comunicação e Arte do Deca. Licenciado em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Professor Auxiliar Convidado na Universidade de Aveiro, bem como no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave e, ainda, no Instituto de Ciências Educativas do Douro. Expõe em contextos artísticos desde 1994 e é promotor de um espaço cultural na vila da lousã: o Atelier Eliseu.

 

Fale-me um pouco de si. Onde nasceu, o seu percurso…

Sérgio Eliseu: Nasci em 1979 em Coimbra e cresci na Lousã, no seio de uma família dedicada às artes. O meu pai desde cedo me levou a colaborar nos serviços de conservação e restauro que efetuava e, simultaneamente, a exposições de pintura onde ele também participava um pouco por todo o país. Fui crescendo nesse ambiente de produção artística que me permitiu conhecer bem de perto variadas técnicas artísticas. Principalmente as mais tradicionais. Mais tarde, por via da formação e investigação académica, acabei por começar a integrar nos meus projetos outras ferramentas com tecnologias mais recentes.

 

Como surgiu esta parceria com as sessões Blend?

Sérgio Eliseu: Através de um convite da “Cultivamos Cultura”. Aliás, aproveito a sua pergunta para agradecer à Marta Menezes e à colaboração do Nuno Sousa, Sally e da Cláudia Figueiredo da equipa da Cultivamos Cultura, bem como à Brígida Riso do projeto iStars.

 

Temos uma peça em exposição que permite ou promove uma interação entre a obra exposta e o visitante. Costuma ter esta dinâmica em consideração?

Sérgio Eliseu: Sim. Desde 2007, ano em que comecei a frequentar o mestrado de Criação Artística Contemporânea da Universidade de Aveiro, este tipo de dinâmicas começou a ser considerado nos meus projetos. O papel do público na obra de arte, a relação entre a tecnologia (mais concretamente Realidade Virtual e/ou Aumentada) e a produção artística são questões que, a par de conceitos como imersão, perceção e realidade ainda me acompanham no processo de criação.

homem com óculos de realidade aumentada

homem com material tecnológico

Qual a mensagem que pretende criar e passar?

Sérgio Eliseu: A peça em questão chama-se “Digital Twin”. O nome corresponde ao conceito de uma representação virtual que precisa de um sistema ou processo físico para ser representada. Atualmente, estas representações são utilizadas em muitos setores industriais, na construção, saúde e transportes, entre outros, para melhorar a eficiência, reduzir os custos e aumentar a segurança.

Procurei explorar como os Digital Twins se relacionam com a nossa compreensão do mundo físico e como eles podem ser utilizados para criar formas de arte e expressão.

A peça remete para o desejo antigo e profundo do ser humano alcançar a perfeição tecnológica e a imortalidade. Apesar de a leitura ser sempre aberta e um convite à reflexão por via da experimentação, a minha perspetiva, todavia, incidiu sobre uma profunda ironia em torno de um ser humano, já morto, cuja réplica digital continua viva. Órfã, adaptando-se constantemente à sua degradação e ao outro que o observa. Como se a tecnologia, imortal, se recusasse render à nossa inevitável condição mortal. Por outro lado, o som de fundo também ajuda a interpretar a peça. Uma versão muito breve que fiz do “Dies Irae” em baixa velocidade.

instalação artistica com representação em holograma e computador

Quais os materiais utlizados?

Sérgio Eliseu: Uma réplica de uma caveira humana, um computador, uma webcam, um suporte de vidro temperado com película holográfica, colunas de som e uma tv. Combina sons e projeções interativas holográficas de partículas tridimensionais com mudanças de forma em tempo real misturada com artefactos do mundo real. 

 

Em que circunstâncias “nasceu” esta caveira que parece a caveira de cristal do Arthur C. Clarke?

Sérgio Eliseu: A peça refere-se a uma Inteligência Artificial (IA) digital volumétrica e metafórica futurística inspirada na evolução do conceito atual de Digital Twin. Por esse prisma futurístico, admito que seja possível essa relação com Arthur C. Clarke. Contudo, tudo começou em contexto de residência artística com a partilha de conhecimentos com o cientista Maged K. Boulos acerca da sua atividade com este conceito do Digital Twin. O trabalho, porém, acaba por ser fruto de um aprofundamento mais pessoal do caminho feito para a compreensão deste conceito e das novas questões que assim emergiram: de que forma estes conceitos “Digital Twins” podem ser utilizados para criar imersão em ambientes virtuais?  Como podem ser usados para criar interações com o mundo físico? Como se podem afetar a nossa compreensão da realidade?