Que influência tem o sexo e o género no exercício da medicina e na investigação?
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Decorre durante o dia de hoje, no Grande Auditório João Lobo Antunes, na FMUL a apresentação subjacente ao tema, onde vários convidados falam sobre as diferenças entre sexo e género e de que forma estas condicionam, por exemplo, o aparecimento de doenças ou o seu tratamento. A organização ficou a cargo da Professora Brígida Riso através do programa ISTARS e contou com a participação do Professor Fausto Pinto a quem coube abrir a sessão, pela manhã.

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O sexo é uma característica biológica e o género, geralmente associado ao sexo biológico, mas que pode não corresponder, é uma condição cultural. Nascer homem ou mulher vai influenciar a forma como reagimos perante o mundo porque o mundo também tem expectativas diferentes e definidas consoante o sexo biológico.

 

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Podemos falar em cérebro masculino ou feminino? Ou os cérebros são biologicamente iguais? Há ou não há predisposições para haver mais mulheres com depressão e mais homens identificados com o espetro do autismo? Isso é um facto, mas essas predisposições decorrem de outras características que não a morfologia do cérebro. Se analisarmos a radiografia feita a um cérebro nunca seremos capazes de lhe atribuir um sexo ou um género. Essa atribuição, essas características, decorrem da influência que o mundo tem no individuo, nas escolhas que faz, nos grupos onde se envolve e de outros aspetos mais complexos.

Gina Rippon esclareceu que os cérebros não têm sexo, mas podem ser classificados naquilo que que definiu como sendo os 3 “P´s”.  Começando com os Predictive Texters que são capazes de analisar o contexto à sua volta, ignorando o que não interessa. Plastic são um tipo de cérebro capaz de desenvolver determinadas áreas consoante os estímulos, e o terceiro “p” é de Permeable. Este é um cérebro que se vai adaptando às circunstâncias, mas isto acontece tanto no género feminino como no masculino.  Portanto se calhar a pergunta “se existem cérebros masculinos e femininos” talvez não seja a mais importante.

O sexo influencia a predisposição para determinadas doenças e até no seu tratamento e recuperação, há diferenças. As doenças cardiovasculares são disso exemplo. O índice de mortalidade é superior nas mulheres, são elas quem menos recorre a programas de recuperação e a taxa de abandono destes programas, é também um recorde do sexo feminino.

Se analisarmos os porquês, vamos encontrar tarefas e expectativas associadas às mulheres que condicionam estes números. São, ainda, elas quem trata das crianças, dos mais velhos, dos mais dependentes, das tarefas domésticas, sobrando-lhes pouco tempo para tratarem de si.

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As mulheres vivem mais, mas têm menos anos de vida saudável do que os homens. Elas são quem mais sofre de dores crónicas, das articulações, da cabeça e são quem soma mais tentativas de suicido, mas são eles quem efetivamente mais concretiza a intenção de se matar. Os métodos para pôr termos à vida são também diferentes e os deles são mais letais.

Estas diferenças devem ser tomadas em conta na prática da medicina, na relação médico paciente e na investigação para que as respostas sejam mais diferenciadas e para que a mensagem chegue de forma eficaz. Ver diferenças onde há diferenças é uma mais valia, mas sem criar estigmas ou barreiras. O género e o sexo não podem ser uma barreira à evolução, ao acesso a cuidados médicos, a informação e à formação.