Pandemia: Os efeitos secundários da Comunicação
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estúdio com ligação por zoom

O mote traçado era objetivo. Onde encontrar a “verdade” sobre a covid-19 e em que fontes confiar como as mais fidedignas? E teria a “verdade” um só caminho de investigação, ou vários? Haverá apenas uma fórmula certa para comunicar sobre saúde? Quando a Comunicação combate a desinformação, ou quando é, ela própria, um “efeito secundário” e gera doença.

Com o intuito de debater de forma multidisciplinar estas questões, foram 8 os intervenientes que tentaram refletir a respeito da comunicação feita sobre a pandemia no último ano e meio.
Num encontro que durou cerca de duas horas, em cenário virtual e mantendo a distância, o debate contou com a presença de Fausto Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL); do Vice-Almirante Gouveia e Melo, coordenador da task-force para a vacinação (COVID-19); de Ricardo Costa, diretor-geral de Informação do Grupo Impresa; de Cristina Sampaio, professora associada de Farmacologia Clínica na FMUL; de Ana Delicado, socióloga e investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS); de Roberto Roncon, intensivista e professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP); de Rosário Zincke, presidente da Plataforma Saúde em Diálogo; e de Eduardo Nogueira Pinto, advogado.

senhor a falar por zoom
Fausto Pinto

 

senhora a falar por zoom
Cristina Sampaio

 

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Ana Delicado

 

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Rosário Zincke

 

 

Se a uma só conclusão pudéssemos chegar, seria consensual dizer que o poder político, não só, não criou estratégias adequadas de comunicação, como não conseguiu passar clara e eficazmente a informação. Excesso de comunicação que, quando nada acrescenta de novo então, nada se deve dizer, como afirmou Rosário Zincke.
Foi também o excesso de comunicação, pulverizada pelos canais que não dominavam o tema, que gerou tanta desinformação, de acordo com o Vice-Almirante Gouveia e Melo. O mesmo que deixou claro que o grupo dos mais jovens “se não se vacinar a bem, vacina a mal, apanhando a infeção”. Precisamente numa fase em que o número de jovens infetados pelo coronavírus multiplicou-se por cinco, no último mês, sobretudo entre os 20 e 29 anos.

Numa análise de Cristina Sampaio, falhou igualmente a tradução de conceitos difíceis de entender pela população em geral, ideia fortemente suportada pela maioria dos intervenientes, assim como por Ana Delicado que reforçou que, se não for feita a adequação de dados para a opinião pública, esta não tem como a interpretar devidamente.

E se faltou informação e ouvir alguns dos agentes mais informados e habilitados, como os professores e médicos das Escolas Médicas de Língua Portuguesa, como afirmou Fausto Pinto, já para Ricardo Costa determinante é que todas as grandes decisões sejam políticas, pois são elas que impactam na economia do país.

 

senhor a falar por zoom
Ricardo Costa

 

 

senhor a falar por zoom
Vice-Almirante Gouveia e Melo

 

 

Assumir que não era possível prever, de início, quais as fontes mais válidas para informar o público, como explicou o diretor-geral de Informação do Grupo Impresa, ficou também claro, ainda nas palavras de Fausto Pinto que as reflexões mal informadas trariam consequências pouco benéficas como o medo da vacinação. Eduardo Nogueira Pinto, referia os efeitos das deficiências de informação, como uma oportunidade para o poder político de “ainda poder mudar os canais oficiais que comuniquem com mais clareza e substância”.

Mas então que verdade e como a transmitir? O tema foi abordado por Roberto Roncon que referiu nunca ter sentido qualquer comportamento depreciativo, mesmo diante de uma má notícia, papel já tão habituado a desempenhar enquanto intensivista. A fórmula de sucesso é precisamente a informação fiel à verdade e a demonstração que todos os conhecimentos são aplicados para dar o melhor que se sabe a cada pessoa que precisa.

Promovido pelo Instituto de Saúde Baseada na Evidência (ISBE) e pela Plataforma Saúde em Diálogo, numa organização de conteúdos produzida pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e pela jornalista da SIC Ana Penedo Moreira, o Webinar contou com a moderação da jornalista, do professor de Farmacologia Joaquim Ferreira e ainda de Joana Sousa, do Gabinete de Comunicação, ambos da FMUL.

 

painel convidados

painel de convidados

 

Os efeitos secundários da comunicação foram bem calculados, debatidos. Mas conseguirá o poder político comunicar de forma mais clara num futuro próximo?

A possibilidade está aberta, falta adequá-la devidamente.

Se não conseguiu assistir ao programa completo, reveja-o agora: https://www.youtube.com/watch?v=K7Jm8ynNDKQ

 

Nota de agradecimento:  à Ventos de TalentoOn the Road que possibilitaram a realização dos cenários virtuais.